domingo, 3 de agosto de 2025

Caminho de Conversão

 



A vida é o bem mais precioso que Deus nos ofereceu. Não podemos dar-nos ao luxo de a desperdiçar. Como devemos viver para que a nossa vida faça sentido? A Palavra de Deus que escutamos neste domingo convida-nos a refletir sobre esta questão. Alerta-nos contra as opções que conduzem a becos sem saída; aponta-nos os caminhos que levam à plena realização.

No Evangelho Jesus, através da parábola do “rico insensato”, denuncia a falência de uma vida voltada exclusivamente para o gozo dos bens materiais. Quem aposta tudo no conforto, no bem-estar, na segurança que o dinheiro proporciona, é um “louco”. As suas opções irresponsáveis levam-no a passar ao lado das coisas mais belas da vida, das coisas que realizam o homem e lhe proporcionam uma felicidade sem fim.Deus confiou-nos um capital de valor inestimável: a nossa vida. Não podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar esse dom, de o malbaratar em apostas falhadas. Apesar disso, nem sempre conseguimos perceber em que caminhos andar, que valores privilegiar, que opções tomar, para dar pleno significado à nossa existência. Deixamo-nos arrastar pelo movimento do rebanho, pela pressão social, pelos ditames do politicamente correto, pelos gritos estridentes dos influenciadores de serviço, pela tentação da acomodação e do bem-estar, pelo medo que nos impede de arriscar, até chegarmos a becos sem saída e mergulharmos no vazio, na frustração, na desilusão. O que podemos fazer para encher de significado a nossa vida? Como devemos viver? Que apostas devemos privilegiar?

Na primeira leitura, um sábio de Israel (o “Cohelet”) oferece-nos a sua reflexão sobre o sentido da vida. Com pessimismo, mas também com realismo, constata que não vale a pena o homem afadigar-se a acumular bens que um dia abandonará. Esses bens nunca encherão de sentido a vida do homem. Embora a reflexão do “Cohelet” não vá mais além, constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e para encontramos n’Ele o sentido último da nossa existência.Para onde caminhamos? Qual o sentido da nossa vida? Vale a pena viver? Que proveito tira o homem desse enorme esforço que constitui a luta diária pela existência? Alguns filósofos existencialistas recentes, no contexto da reflexão sobre o sentido da vida, falam da futilidade da existência, da náusea que o homem moderno sente diante de realidades que lhe escapam, do absurdo de uma vida que se dirige inexoravelmente ao encontro da morte, da sensação de vazio e de angústia que acompanha os passos do homem sobre a terra. Não andamos longe da reflexão feita pelo Cohelet há muitos séculos sobre a “vanidade” do esforço humano e sobre o sentido – ou a falta de sentido – da vida. As conclusões, quer do Cohelet, quer das filosofias existencialistas agnósticas, seriam desesperantes se não existisse a fé. Para os crentes, a vida não é absurda porque ela não termina nem se encerra neste mundo. A nossa caminhada nesta terra está, de facto, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós estamos convictos de que a vida que conhecemos aqui desemboca numa realidade totalmente “outra”, naquilo a que chamamos “a vida eterna”. Só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência. É com esta certeza que vivemos e caminhamos?

Na segunda leitura Paulo convida-nos a optar pelas “coisas do alto”, em detrimento das “coisas da terra” (brilhantes e sugestivas, mas também efémeras e fúteis). Aquele que, no batismo, foi enxertado com Cristo, tem de viver de tal forma que seja, no meio dos seus irmãos, “imagem do Criador”.Usamos frequentemente as expressões “cristão praticante” e “cristão não praticante” para definir a nossa forma de viver a fé. O que é que elas traduzem? A nossa frequência dos sacramentos? A nossa participação nos rituais litúrgicos previstos no calendário religioso? A nossa obediência às leis da Igreja e às indicações vindas da hierarquia eclesiástica? Paulo propõe-nos uma categoria diferente para aferirmos o nosso envolvimento com a fé: a forma como vivemos os compromissos que assumimos no dia do nosso batismo. Nesse dia, comprometemo-nos a renunciar ao pecado, à escravidão que o egoísmo traz, à maldade que é incompatível com viver como filho de Deus. Temos “praticado” essa renúncia? Nesse dia comprometemo-nos também a escutar Jesus, a segui-lo no caminho do amor, do dom da vida, do serviço humilde a Deus e aos irmãos. Temos “praticado” esses “passos”? Temos procurado viver com coerência as exigências do nosso batismo? Optamos claramente pelas “coisas do alto”, ou as “coisas da terra” (brilhantes e sugestivas, mas também efémeras e fúteis) têm prioridade, condicionam a nossa forma de estar no mundo e de nos relacionarmos com os irmãos?

BILHETE DE EVANGELHO.

Ninguém pode decidir no lugar de outro. O próprio Jesus respeita a liberdade do homem, mas veio propor-lhe balizas para marcar o caminho sobre o qual tem escolhas a fazer. Põe-no de sobreaviso em relação às riquezas materiais que podem paralisar ou cegar. De facto, aquele que tem as mãos crispadas sobre os seus bens está impedido de partilhar, de fazer um gesto para com aquele que tem necessidade. E depois, o seu horizonte está fechado por todas as suas riquezas que o impedem de ver o irmão, e de se ver a si próprio na luz de Deus. Quando nos deixamos olhar por Deus, permitimos-Lhe olhar para onde estão as nossas verdadeiras riquezas; a oração ajuda-nos, então, a reconhecê-las para as desenvolver.


https://www.dehonianos.org/

sábado, 2 de agosto de 2025

Quais são as tuas raízes?



Quando falo em raízes não é naquilo que te prende, mas aquilo que te alimenta?

Por mais cidadãos do mundo que sejamos temos sempre algumas raízes que nos fazem fazer sentir em casa. Não sei se já te aconteceu sentires um cheiro que te faz viajar para um lugar onde já foste feliz. Um barulho que te lembra algo ou alguém, ou um sabor que te faz viajar? Eu já! Reparo que tudo isso me relembra a construção daquilo que hoje sou e como lido com as coisas mais simples do meu dia a dia, bem como as mais complexas.

Somos feitos de regressos a casa, à nossa árvore onde recarregamos e nos nutrimos.

Somos feitos de aconchegos e conforto e de tanto que nos alimenta o espírito.

Por vezes parecemos árvores frontosas capazes de resistir a ventos e vendavais, outras apenas um tronco frágil prestes a tombar, mas na verdade o que se vê não demonstra as raízes que nos sustentam. É certo que algumas raízes nos prendem e até restringem alguma vontade de virar costas, mudar de sítio e começar de novo, mas são essas raízes que também nos seguram quando tudo parece estar a sair do lugar.

Sou grata por ter muitas raízes, por entrar em lugares onde as pessoas me conhecem, frequentar encontros em que não me sinto estranha porque significa que as minhas raízes vão dando frutos de empatia e intimidade. São essas raízes que marcam quem sou e como quero ser, mais do que parecer.

Quando os teus frutos não forem os mais bonitos, não culpes uma ou outra raiz, pois se reparares elas vão acabar por se fundir para dar um certo resultado. Por mais troncos que tenhas na tua vida, lembra-te que as raízes, que são a parte menos visível, é a que realmente te segura.

Por isso volta e meia podemos parar e pensar em quem são essas raízes, o que te segura, o que te alimenta...na verdade aquilo que faz que sejas quem és.

E para ti amiga, quais são as tuas raízes?



: Raquel Rodrigues

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

OS PARTIDOS TAMBÉM EXCOMUNGAM!...ihihihihih



Devido ao título, já sei que me vai ler. Fico feliz por isso, mesmo que não goste e me mande à fava! Essa é a missão do título: não satisfazer o leitor com um mero olhar, mas espevitar-lhe a curiosidade, aquela curiosidade que nunca matou o gato. E sabe o que é excomungar? É isso mesmo, é afastar da comunhão, é excluir, é expulsar alguém de uma comunidade, associação, instituição ou grupo, devido aos seus desvios comportamentais, doutrinais ou edeológicos em relação a essa entidade. Hoje, infelizmente, com grande sofrimento para quem, sem qualquer espécie de culpa, apanha por tabela, vivemos num tempo de muitos Ex. Dá a impressão de que muitos Ex acontecem só porque sim, por dá cá aquela palha, é in!
Quando a Igreja, devido a matéria grave, e pública, afasta alguém da comunhão e da participação em determinados bens espirituais, é considerada discriminatória, retrógrada, sem sentido, medieval, segregacionista, uma coisa do demónio mais chifrudo que se possa imaginar. E esta pena, na Igreja, é o último recurso, só acontece quando se esgotam todos os outros instrumentos possíveis e imaginários, de âmbito pastoral e jurídico, tendo sempre em conta o bem do próprio culpável e a integridade espiritual e moral da Igreja. Não se trata tanto de expulsar, mas de chamar à razão. Até porque a comunhão da pessoa com a Igreja tem uma raiz ontológica que nunca se perde, ninguém lha pode tirar, radica no Batismo. O Batismo imprime carácter, não se repete, não se pode apagar nem safar, mesmo que alguém peça para o riscar dos livros, como às vezes acontece. Há, porém, uma dimensão mística ou sobrenatural e uma dimensão jurídica que podem perder-se. A mística perde-se, em parte, pelo pecado e, plenamente, com a perda da fé. A jurídica, aquela que une o fiel com a Igreja enquanto sociedade visível, com direitos e obrigações, perde-se mediante um ato constitutivo da legítima autoridade que o priva de certos direitos. É sobre esta comunhão jurídica que pode recair a pena de excomunhão. Também há determinados atos que, para além de pecado, são crime. Quem os comete, autoexclui-se da comunhão eclesial, excomunga-se a si próprio, mesmo que não exista uma declaração escrita por parte da autoridade da Igreja. É o caso, por exemplo, de quem pratica voluntariamente um aborto ou colabora para que ele aconteça, é o caso da profanação da Eucaristia, da absolvição do cúmplice, da violação do sigilo sacramental, do fingir ser padre, ‘celebrando’ missa ou ouvindo de confissão, etc. etc. Se se quiser reintegrar, a pessoa tem de fazer caminho, sendo sempre acolhida, animada e ajudada a que o faça, com determinação e esperança. Atenda-se, porém, que é o delito, o crime, que está em causa, não o pecado. Pecado e crime são duas realidades distintas. O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta, é uma falta de amor a Deus e ao próximo, fere a natureza do homem e a solidariedade humana. O crime é uma ação, uma infração sujeita às penas da Lei penal, tem uma pena anexa. Se todo o crime pode ser pecado, nem todo o pecado é crime. A gravidade de ambos também depende da consciência e circunstâncias de cada um. O pecado é perdoado por quem tem a faculdade de o perdoar em nome de Cristo e da Igreja, desde que haja arrependimento, propósito de emenda e estejam terminadas as penas, se penas houver. A aplicação destas ‘penas medicinais’ por parte da Igreja, que é mãe, perita em humanidade e quer o bem dos seus filhos, quando acontece nem sempre é compreendida por todos, escandaliza uns e mete medo a outros. Paciência!
Os Partidos políticos, porém, também excomungam, apesar das lições de inclusão e de democracia interna que sempre gostam de exibir e dar! Quando algum dos seus membros cospe fora do caco, também usam a pena de excomunhão, afastam-no da comunhão. Expulsam-no das suas fileiras por não alinhar com os seus princípios e modos de proceder. Com grande estrondo e alarido, mandam-no às malvas ou a pentear macacos. Não raro, deixando transparecer um certo ar de alívio e de desamor, aplaudindo o momento em que estas pessoas se põem realmente ao fresco, ficando até os não crentes do Partido a ‘rezar’ para que nem o diabo deles se lembre. Coisa que, aliás, alguns peritos da comunicação social, na sua função de mosca impertinente, não permitem que isso aconteça. Repetem-no à saciedade, picando os miolos de uns e de outros e saciando o seu apetite de alguma maledicência, não raro, em literatura de cordel. Mas também é certo que alguns membros dos partidos se auto excluem do mesmo. Se o Partido não muda, mudam eles, e pronto, ponto. Não sabendo nós se é na busca de carreirismo noutros partidos, já que o próprio não olha com atenção para o seu incomparável talento, se é por se sentir com uma superioridade moral e intelectual mui triste e amarfanhada por aquelas bandas, se apenas é para se ver livre daquela morrinha que lhe faz formigueiro nos movimentos peristálticos. São razões que a razão nem sempre é capaz de entender, embora todos saibamos que sempre houve canas agitadas pelos ventos: ora dobrando para a esquerda, ora para a direita, ora para o centro, ora para os lados em que os ventos levam os incêndios do coração!
Depois do 25 de abril andaram muito em voga os vira-casacas. Aliás, sem grande corte e alfaiataria pouco empática. Era uma estratégia de sobrevivência social para não serem chamados fascistas, retrógrados ou não serem perseguidos pelos puros, puríssimos, pelos donos da Revolução dos Cravos dos quais alguns pelejavam por partir os dentes à reação mesmo que dentes não tivesse e reacionários não fossem.
Acreditamos que os Partidos políticos também estão abertos a ‘todos, todos, todos’ sob a bandeira da sua alta definição de inclusão. Quanta mais gente filiada e mais fervorosa, sem fanatismos, melhor. No entanto, não confundem este estar aberto a ‘todos, todos, todos’, com o ter de aceitar ‘tudo, tudo, tudo’, engolindo sapos, cobras, lagartos e saramelas. Embora o espírito crítico e a diversidade seja uma mais-valia para a construção da unidade bela dum partido, há valores e princípios que todos devem respeitar. No entanto, nesse ato de excluir da comunhão, de excomungar, os partidos políticos puxam pelo engenho e arte para esclarecer, com a ternura própria do seu pio parenético, que foi um ato de lisura, de transparência, de coerência política e partidária, de purificação, de purga exemplar. Sabemos, porém, que, em muitas situações, não é preciso expulsar para impor uma certa cultura sectária. Basta fazer desaparecer o espírito crítico e a capacidade de renovação e de adaptação às novas exigências, mesmo que elas possam surgir em fidelidade aos valores e princípios fundacionais.
Quando da Igreja se trata, porém, muita gente acha que a Igreja, sendo enviada a todo o mundo para evangelizar e acolher ‘todos, todos, todos’, tem o dever de entender que este ‘todos, todos, todos’ é sentir-se na obrigação de aceitar tudo, tudo, tudo quanto alguns pensam, fazem, vivem, dizem, reivindicam e propagam. Ora, a Igreja existe precisamente para evangelizar e dizer a todos que nem tudo é igual a tudo, não é tanto faz...
As pessoas amam-se e acolhem-se, sem preconceitos e sempre, na sua igualdade e diferença, com mútua atenção, escuta e respeito. As ideias e erros, porém, discutem-se com fair play, esclarecem-se com diálogo sincero, tratam-se com delicadeza na certeza de que só a verdade nos libertará e é conversando que as pessoas se entendem.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 01-08-2025.

De que é feito o espírito?



O espírito é sagrado. Liga-nos ao céu, porque é o céu em nós. É o que escutamos quando conseguimos fazer silêncio dentro de nós mesmos. É o sopro divino que nos entregou a vida.

O espírito inspira-nos a que nos dediquemos a um destino, a um caminho e a uma forma de caminhar, muitas vezes contra o que é confortável e nos parece ser o melhor. No entanto, o espírito propõe, não impõe. Cabe sempre a cada um de nós decidir e, com isso, decidir-se. Somos o resultado do que fazemos com a liberdade de nos criarmos a partir do que nos foi dado. O espírito guia, mas apenas para quem decide deixar-se guiar.

Mais do que a inteligência ou as emoções, o espírito sabe o que é essencial e o que importa em cada momento. Aprendamos a calar as vozes do nosso interior e a escutar a do espírito que nos anima.

Cabe a cada um de nós cuidar do seu espírito, alimentando-o, enriquecendo-o, elevando-o. Toda a nossa existência será julgada de acordo com o que fizemos com a vida que nos foi confiada. Viemos com um tesouro e, enquanto alguns o desperdiçam como se não fosse precioso, outros multiplicam-no fazendo-se merecedores do que receberam e tornando-se dignos de que lhes seja confiado muito mais.

De que é feito o espírito?

O espírito é Amor.


José Luís Nunes Martins