domingo, 14 de setembro de 2025

A Misericórdia de Deus

 






As leituras que a liturgia do décimo quarto domingo comum nos propõe falam-nos do amor de Deus. Garantem-nos que nada nos afastará desse amor, nem sequer a nossa infidelidade, a nossa autossuficiência, as nossas opções erradas. O amor de Deus é a mais bela das nossas certezas.

A primeira leitura traz-nos um episódio da caminhada dos israelitas pelo deserto. Quando eles, traindo os compromissos que tinham assumido no Sinai, constroem e adoram um bezerro de ouro, Deus fica indignado e propõe-se punir o Seu povo; mas, depois de Moisés Lhe ter lembrado as suas promessas, Deus desiste do castigo que tinha pensado infligir a Israel. Neste episódio há um padrão que se repete ao longo de toda a história da salvação: a misericórdia de Deus acaba sempre por triunfar sobre a sua ira.Como é que Deus lida com as nossas falhas, as nossas opções estúpidas, as nossas recusas em acolher as suas indicações e propostas? Ele “queima pontes” e afasta-se irremediavelmente de nós? Ele diz-nos, em algum momento, que está farto das nossas traições e que não conta mais connosco? O episódio da construção, pelos israelitas, de um “bezerro de ouro” e a decisão final que Deus toma em relação à rebeldia do seu povo deixa-nos uma resposta clara para estas questões: a misericórdia de Deus sobrepõe-se sempre à sua indignação. É bom acreditarmos num Deus que nunca nos fecha a porta. Se não pudéssemos contar com a misericórdia de Deus, a nossa fragilidade conduzir-nos-ia a um beco sem saída e experimentaríamos um desespero sem esperança. O amor inquebrantável de Deus pelos seus filhos pecadores tem de ser o grande dogma sobre o qual construímos a nossa vida de todos os dias. Caminhamos pela vida alimentados e fortalecidos pela certeza do amor de Deus? Damos testemunho desse amor junto dos nossos irmãos acabrunhados pela consciência da sua fragilidade?

No Evangelho Jesus, dirigindo-se àqueles que O criticavam por se sentar à mesa com gente de moral duvidosa, conta três parábolas sobre a bondade de Deus para com os “perdidos”, os excluídos, os “malditos”. Deus não deixa para trás nenhum dos seus queridos filhos; e sente uma enorme alegria sempre que volta a abraçar aquele que “estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado”. As parábolas do pastor bondoso, da mulher que procura a dracma perdida e do pai misericordioso, são três magníficos hinos ao amor de Deus.As “parábolas da misericórdia” deixam no ar algumas questões: se Deus é assim, se Deus está sempre de braços abertos para acolher os filhos que fizeram escolhas erradas, vale a pena ser bom? Não será mais lógico “gozar a vida” o mais possível, sem problemas de consciência, uma vez que Deus tudo perdoa? Há uma coisa que devemos ter absolutamente clara: escolher caminhos de autossuficiência, à margem de Deus, nunca é uma opção que nos traga felicidade e realização pessoal; optar pela futilidade e pelos valores efémeros leva-nos, mais tarde ou mais cedo, a um enorme vazio interior e a situações sem saída. Podemos, evidentemente, no exercício da nossa liberdade “matar Deus”, ignorar as suas indicações, afastar-nos da “casa do pai”, viver como nos apetece; mas será uma opção inteligente? Ao fim de algum tempo, não descobriremos que andamos em círculos, sem rumo e sem objetivo? Isso não será perder tempo? Podemos dar-nos ao luxo de desperdiçar a nossa breve vida em caminhos que não nos levam a lado nenhum?

Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de lhe causar espanto: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor, derramado incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo, o perseguidor de cristãos convertido a Cristo, é um exemplo concreto dessa ação salvadora de Deus. Por isso, nunca deixará de testemunhar e de agradecer tudo o que Deus fez por ele.Paulo não duvida, nem por um instante, da misericórdia de Deus. Porquê? Porque a experimentou na sua própria vida. Paulo tinha sido cúmplice dos assassinos de Estevão, o primeiro mártir da Igreja de Jerusalém (cf. At 7,58) e tinha participado ativamente na perseguição dos primeiros cristãos (cf. At 8,3; 9,1-2). Apesar disso, Deus não o rejeitou; e, no tempo oportuno, chamou-o e envolveu-o no seu projeto de salvação. Deus não nos exclui porque em dado momento fizemos uma opção errada; Deus não nos bloqueia na sua lista de amigos porque um dia dissemos ou fizemos algo que Lhe “caiu mal”. Deus tem e terá sempre por nós um apreço que só o amor pode explicar. Ele conta sempre connosco. Aconteça o que acontecer na nossa vida, Ele quer incluir-nos na sua história de salvação. Talvez nos sintamos indignos e desprezíveis por opções e gestos da nossa vida passada; talvez carreguemos o peso de culpas que não conseguimos esquecer… Mas o amor inquebrantável de Deus estará sempre à nossa espera para curar as nossas feridas e para nos oferecer a oportunidade de caminharmos em direção a Ele. Estamos conscientes disso? Acreditamos que a misericórdia de Deus é infinitamente maior do que a nossa culpa?


https://www.dehonianos.org/

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