Que valores devem servir de base ao nosso projeto de vida? Que escolhas devemos fazer para que a nossa vida não seja desperdiçada? A liturgia deste vigésimo quinto domingo comum convida-nos a refletir sobre estas questões… Avisa-nos, logo à partida, que não pode ser o dinheiro a comandar a nossa vida; sugere-nos, em contrapartida, que escolhamos os valores duradouros e eternos, os valores do Reino, os valores de Deus.
A primeira leitura traz-nos a palavra de Amós, o profeta da justiça social. Dirigindo-se aos comerciantes sem escrúpulos, apostados em “espezinhar os pobres” e em “eliminar os humildes da terra”, Amós avisa: “Deus não esquecerá nenhuma das vossas obras”. A injustiça, a exploração dos pobres, a humilhação dos mais fracos, a subversão da verdade, a escravização dos irmãos, são a subversão completa do projeto que Deus tem para o mundo e para os homens. Os que escolhem esses caminhos, terão que dar contas a Deus das opções que fizeram.Amós diz uma coisa inquietante: “Deus nunca esquecerá” as obras daqueles que, dominados pela ganância, multiplicam as injustiças e deixam atrás de si um cortejo de vítimas. Talvez tenhamos ignorado demasiadas vezes este aviso; talvez achemos que Deus não se mete em questões de política social; talvez estejamos convencidos de que é possível acalmar a indignação de Deus repartindo com Ele alguns dos nossos lucros; talvez pensemos que, se cumprirmos as nossas “obrigações” religiosas, Deus não terá razões de queixa contra nós; talvez consideremos que há pecados mais graves, do ponto de vista de Deus, do que algumas “habilidades” que fazemos para engrossar a conta bancária; talvez achemos que Deus nos desculpa tudo por causa dos cargos importantes que temos na nossa comunidade paroquial… Mas, depois de todos esses “talvez”, fica a afirmação decisiva e arrepiante que o profeta Amós nos lança: “Deus nunca esquecerá nenhuma das obras” de quem defraudou os seus irmãos e atirou o pobre para a miséria. Não há desculpas nem meios termos, nem explicações razoáveis: “Deus nunca esquecerá”. Medimos bem o alcance de tudo isto?
No Evangelho, Jesus conta uma parábola sobre um administrador astuto, que percebeu quais eram os valores em que valia a pena apostar. Numa altura em que a sua vida tinha chegado a uma encruzilhada, propôs-se prescindir de um lucro imediato e precário, para garantir uma recompensa duradoura e consistente. Jesus avisa os seus discípulos para fazerem o mesmo. A aposta nos bens materiais nunca será, segundo Jesus, uma aposta que dê pleno sentido à vida do homem.O que é que dá sentido à nossa vida? Quais são as coisas das quais não podemos absolutamente prescindir? Quais são as apostas que priorizamos? Será boa ideia apostarmos todos os nossos esforços na procura de bens materiais? Há gente para quem o dinheiro é a prioridade fundamental; há gente que acredita que o dinheiro lhe pode proporcionar bem estar, segurança, poder, importância, influência; há gente que considera que o dinheiro lhe facilitará a vida e lhe assegurará uma felicidade sem estorvos. Jesus, no entanto, tem outra perspetiva das coisas. Ele considera que, quando se trata de dar sentido à vida, há valores mais seguros, mais importantes, mais duradouros do que o dinheiro. Jesus acha que “fazer amigos” é bem mais importante do que ter contas bancárias recheadas; estabelecer pontes de diálogo e entendimento é mais compensador do que viver fechado num mundo pessoal de bem estar e de autossuficiência; partilhar o que temos com os nossos irmãos necessitados traz-nos mais felicidade do que a acumulação egoísta da riqueza. Para Jesus, os valores do Reino de Deus – o amor, a fraternidade, a solidariedade, a generosidade, a partilha, o serviço, o cuidado, a simplicidade, a humildade – é que são os valores que nos completam, que nos realizam, e que devem sustentar o edifício da nossa vida. O que pensamos disto? Concordamos com Jesus?
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta a Timóteo convida os crentes a sentirem-se irmãos de todos os homens, sem exceção. Todos temos por Pai o mesmo Deus, todos fomos redimidos pelo mesmo Cristo Jesus. Todos fazemos parte de uma única família; as dores e esperanças dos nossos irmãos dizem-nos respeito; somos chamados à fraternidade e à comunhão. Essa solidariedade que devemos ter uns com os outros deve, inclusive, transparecer no nosso diálogo com Deus, na nossa oração.
Para o autor da primeira Carta a Timóteo, a universalidade, a solidariedade, a fraternidade, a consciência da nossa responsabilidade por todos, também devem transparecer nos momentos em que dialogamos com Deus. A nossa oração será muito pobre e muito egoísta se for apenas o momento em que nós tentamos pôr Deus ao nosso serviço exclusivo e Lhe recomendamos que não se esqueça de cuidar dos nossos interesses, dos nossos projetos, das nossas carências, enfim, de tudo o que é “nosso”… Como é que Deus verá a oração de quem só fala de si e só quer saber de si próprio? No diálogo com o nosso Pai do céu não deveríamos mostrar que o nosso coração não está fechado aos outros, exclusivamente virado para nós próprios?
Deus ou o dinheiro? Amós e Lucas convidam-nos a um sério exame de consciência sobre a nossa maneira de praticar a justiça social e de utilizar o dinheiro. Quantos pobres, hoje no mundo, são explorados com meia dúzia de euros por alguns que enriquecem sobre a sua miséria? Não acusemos ninguém! Nesta semana, retomemos estes textos para fazer o ponto da situação em toda a verdade. A que mestre estamos amarrados: a Deus ou ao dinheiro?
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