domingo, 28 de setembro de 2025

Compaixão ou indiferencia ?

 



Como é que Deus vê as desigualdades gritantes que fazem sofrer tantos dos seus filhos? O que é que Deus acha daqueles que se instalam numa vida de bem-estar e não querem saber da sorte dos seus irmãos? Os textos que a liturgia deste dia nos convida a escutar procuram responder a estas questões. Deixam claro que o projeto de Deus para o mundo e para os homens não inclui a injustiça, a exploração, a apropriação por parte de alguns dos bens que pertencem a todos. Deus quer, para todos os seus filhos, uma vida digna, plena e feliz.

Na primeira leitura, o profeta Amós denuncia violentamente o egoísmo dos ricos e poderosos, agarrados a uma vida de luxo e esbanjamento, indiferentes à sorte dos pequenos e dos pobres. O profeta avisa que Deus não está disposto a suportar uma situação que contrasta com o projeto que sonhou para o mundo e para os homens. Se Israel insistir em continuar nesse caminho, irá sofrer as consequências das suas escolhas egoístas.O mundo de Amós parece-nos substancialmente diferente daquele que conhecemos nos nossos dias? É claro que não. Também hoje há pessoas que vivem comodamente instaladas numa vida fácil e despreocupada, sem querer saber do imenso cortejo de homens e mulheres que não têm o necessário para viver dignamente; também hoje há pessoas que ganham fortunas com o trabalho escravo, mas que pagam salários de miséria aos seus empregados; também hoje há pessoas que malbaratam fortunas em festas esplêndidas, cuja finalidade é apenas ter visibilidade social; também hoje há pessoas que se apossam indevidamente de dinheiros públicos e que nunca são responsabilizados porque encontram sempre maneira de fazer com que os seus crimes prescrevam… E, por contraste, há homens e mulheres que trabalham duramente e que nem sempre conseguem assegurar o pão de cada dia para os seus filhos; há pessoas de idade que passaram toda a vida a trabalhar e que, nos últimos anos das suas vidas enfrentam dificuldades porque a sua magra reforma mal dá para pagar os medicamentos de que necessitam; há imigrantes que vêm à procura de uma vida mais digna e acabam por ser obrigados a contentar-se com condições que os degradam. Podemos conformar-nos com estes quadros? Que podemos fazer para que o nosso mundo seja mais justo e mais humano? Como reivindicar, com coragem profética, um mundo mais parecido com o projeto de Deus?

No Evangelho Jesus, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, diz-nos que é uma má opção assentar a própria vida sobre o dinheiro, o bem-estar, o conforto, os interesses egoístas. Quem se preocupa apenas em gozar a vida e fica indiferente ao sofrimento dos irmãos, falha completamente o sentido da existência. Há de perceber, quando fizer as contas finais, que a sua vida não valeu para nada.Às vezes, diante da maldade e do egoísmo que desfeiam o mundo e que fazem sofrer os homens, interpelamos Deus, duvidamos da sua justiça e do seu amor, criticamos a sua indiferença face aos homens, garantimos que não compreendemos o silêncio que Ele mantém face às desgraças que acontecem no mundo e na história dos homens… Quando tecemos essas críticas, estaremos a ser justos? Desde o início da humanidade, Deus anda a avisar-nos, a propor-nos caminhos, a indicar-nos como devemos viver para construir um mundo mais humano e mais feliz. A certa altura, Deus até nos enviou o seu filho, o seu Jesus, para nos ensinar a construir a civilização do amor. Se os homens continuam a caminhar por caminhos de egoísmo e de maldade, a culpa será de Deus? Não ouvimos a cada passo a Palavra de Deus, uma Palavra que nos aponta inequivocamente o caminho que conduz à vida? Vivemos atentos a essa Palavra? Levamo-la a sério? Deixamo-nos conduzir por ela?



A segunda leitura, num registo um pouco diferente das outras duas leituras deste dia, apresenta a “fotografia” do “homem de Deus”. O “homem de Deus” está em contraste total com o homem egoísta, apegado aos bens materiais, ambicioso e injusto de que falam as outras duas leituras. O “homem de Deus” é aquele que, correspondendo aos compromissos que assumiu no momento do seu batismo, se torna um sinal vivo de Deus no meio dos seus irmãos.Detenhamo-nos um pouco mais nas implicações de ser “homem de Deus”: de acordo com o autor da primeira Carta a Timóteo, o “homem de deus” é alguém que “pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão”; é alguém que leva muito a sério a sua fé, que a vive em todas as circunstâncias, mesmo em contextos de incompreensão e de perseguição; é alguém que, como Jesus, dá testemunho da verdade, sem medo nem respeito humano. Ou seja: ser “homem de Deus” é viver de acordo com os compromissos que assumimos quando aderimos a Cristo, no dia do nosso batismo. Temos procurado viver de acordo com os compromissos que resultam do nosso batismo? Seguimos Jesus, como discípulos, no caminho da entrega, do serviço, do dom da vida? Praticamos a caridade, a mansidão, a misericórdia? Damos testemunho da verdade de Deus, seja em que circunstâncias forem?


https://www.dehonianos.org/

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