Domingo, 7 de setembro, Carlo Acutis e Pedro Jorge Frassati são canonizados pelo Papa Leão XIV. A Canção Nova e o Vaticano News, com início às 9 horas, fazem transmissão em direto. O mundo precisa de jovens desta têmpera, traquinas e santos, verdadeiros profetas da mudança. Recordo alguns dados das suas vidas, baseando-me em tanto que sobre eles se tem escrito. Um faleceu com 15 anos de idade, o outro com 25. Foram patronos de Jornadas Mundiais da Juventude.
CARLO ACUTIS
Em outubro de 2006, falecia Carlo Acutis, um jovenzinho que soube marcar a diferença. Embora tivesse nascido, em 1991, em Londres, foi Milão que o viu crescer. Cheio de vida e alegre como todos os jovens, a todos cativava pela sua serenidade e entusiasmo pela vida. Antónia Salzano e Andrea Acutis, seus pais, ainda relativamente novos, sempre foram credíveis no seu testemunho de fé e nunca delegaram o seu dever de educar na fé. Dotado de uma inteligência acima da média e apaixonado pela vida, Carlo entendera bem o chamamento à santidade e quanto bem podia fazer pelos outros, com gestos simples, realizados com amor. Alegre e altruísta, sempre animado, foi voluntário em muitos projetos, sobretudo dirigidos para os mais necessitados. De noite saía de casa com comida e bebidas quentes para os sem-abrigo, com os quais também partilhava as suas economias. A Eucaristia era para ele um bem precioso, indispensável, era a autoestrada para o céu, como ele dizia. Tornou-se popular e muito apreciado, um exemplo de fé concreta e alegre, testemunhando elevada maturidade espiritual. A sua história despertou profunda admiração e comoveu muitíssima gente. Fascinado por lugares sagrados, visitava os santuários, não esquecendo aqueles em que se falava de milagres eucarísticos. Em 2002, esteve em Fátima e no Santuário do Santíssimo Milagre, em Santarém. Já tinha iniciado a criação de um mapa dos locais onde teriam acontecido milagres eucarísticos, pois tinha vontade de fazer uma exposição internacional. Se Francisco de Assis era o seu santo predileto, ele tinha grande devoção ao Anjo da Guarda e à oração do terço diário, frequentava os sacramentos.
Criou um site dedicado aos milagres eucarísticos e à vida dos santos, procurando ajudar aqueles que desejavam marcar a diferença. Tornou-se um profeta da mudança, soube utilizar as redes sociais, foi criativo e genial, usando as técnicas de comunicação para transmitir o Evangelho, para comunicar valores e beleza. Das Filipinas a Cabo Verde, do Brasil à China, em todo o mundo está presente esta sua herança espiritual. Deixou-nos o testemunho de uma “outra forma de viver a juventude”. Fez “brilhar os traços da idade juvenil em toda a sua beleza”. Imaginava um futuro melhor e possível, resolveu ajudar a construí-lo sem querer ser fotocópia de quem quer que fosse. Sabia-se e queria ser original com os dons que o Senhor lhe tinha dado, pois afirmava que “todos nascem como originais, mas muitos morrem como fotocópias”.
Uma leucemia fulminante, porém, levou-o para junto do Senhor, a quem amava e anunciava, tinha apenas 15 anos: "Estar sempre junto com Jesus: este é o meu plano de vida" dizia ele. No seu funeral, havia migrantes, alguns muçulmanos e hinduístas que o conheciam pela empatia que gerava. Como refere a Sagrada Escritura, “até os jovens se cansam e afadigam; até os rapazes tropeçam e caem, mas os que põem a sua esperança em Deus renovam as suas forças, abrem asas como as águias, correm e não se fatigam, caminham e não se cansam” (Is 40, 30-31).
PIER GIORGIO FRASSATI
Pedro Jorge Frassati também soube marcar a diferença. É capaz de rasgar horizontes no coração daqueles que andam à procura de vida com sentido. Comprova que a santidade, sendo tarefa que não se pode delegar, é possível a todos: crianças, jovens e menos jovens, cada um pelo seu caminho e nas suas circunstâncias existenciais. Nasceu em Turim, em 6 de abril de 1901. Aí viveu e cresceu, a maior parte da vida, no seio de uma família abastada e da alta burguesia. Seu pai, Alfredo Frassati, era jornalista, fundador e dono do jornal "La Stampa". Foi embaixador em Berlim, demitiu-se quando Mussolini assumiu o poder. Sua mãe, Adelaide Ametis, era uma pintora famosa. Embora fosse educado cristãmente, a vivência da fé em família ficava muito aquém do que ele desejava. Sua mãe animava-o a comprometer-se nas dinâmicas da paróquia. Aí foi fazendo o seu caminho, em vida feliz e socialmente comprometida, espevitando o seu crescimento espiritual e a sua ação apostólica. Conheceu a Ordem Terceira dos Dominicanos, a Ação Católica, o Apostolado da Oração, a Liga Eucarística, a Associação dos jovens adoradores universitários, os centros da Juventude Mariana Vicentina e a Conferência de São Vicente de Paulo. Tinha como passatempo favorito visitar os doentes e os casebres das periferias de Turim. “Ao redor dos pobres e dos enfermos eu vejo uma luz particular que nós não temos”, ou: “Jesus faz-me visita cada manhã na Comunhão, eu restituo-a no mísero modo que posso, ou seja, visitando os pobres”. Porque levava às casas dos mais necessitados as mais variadas coisas, desde lenha e roupas a alimentos e móveis, porque gastava a mesada que a família lhe dava nestas atividades caritativas, os seus colegas chegaram a denominá-lo como a “Empresa de Transportes Frassati”.
Porque entendia que a Caridade não era suficiente e que eram precisas reformas sociais, foi um dos fundadores do jornal “Momento”, destinado a explanar os ensinamentos sociais do Papa Leão XIII. Chegou a ter polémicas acesas com adeptos do Partido Fascista e esteve inscrito no Partido Popular Italiano. Como desejava trabalhar perto dos operários pobres, decidiu estudar Engenharia Industrial Mecânica, em Turim, com especialização em mineração, pelo facto de os mineiros serem os operários mais pobres de entre os explorados. Quando esteve em Berlim, em tempos que seu pai era Embaixador, ainda pôs a questão de vir a ser sacerdote, ideia que logo deixou por achar que não tinha vocação. Seus pais queriam exigir dele mais do que ele aparentava querer. O pai chegou a classificá-lo de “homem inútil” e à deriva, acompanhando pessoas que não estavam à sua altura. Pedro Jorge sorria, aceitava as repreensões de modo sereno, sabia lidar com todos. Gostava do teatro, da poesia, da arte, da música, da ópera, de visitar museus, recitava versos de Dante Alighieri de cor, escrevia com beleza e profundidade, amava o desporto, sobretudo o esqui e o montanhismo, escalou os Alpes e o Vale de Aosta, adorava as montanhas, extasiando-se a contemplar o ar puro e a beleza do Criação. Nesta sua maneira séria e divertida de estar na vida, chegou a fundar a “Sociedade de Tipos Estranhos” ou dos “arruaceiros”, cujos membros, “desonestos e vigaristas”, recebiam apelidos engraçados. O dele era “Robespierre”. Faziam excursões, contavam piadas, mas, sobretudo, aspiravam à amizade mais profunda fundada na oração e na fé.
Atingido por uma meningite fulminante, faleceu cerca de quinze dias depois, em 4 de julho de 1925, com apenas 24 anos de idade. Milhares de pessoas participaram nas exéquias. Familiares e amigos ficaram estupefactos com a presença de tantos pobres de Turim que ele havia ajudado, material, social e espiritualmente. Seu pai ficou inconsolável e arrasado pelo vazio que a morte de Pedro lhe causara. Impressionado com a multidão presente, reconheceu que só compreendeu bem quem era o seu filho quando o perdeu para sempre. Aos poucos, foi-se aproximando da fé numa conversão maravilhosa que muitos consideraram ser o "primeiro" milagre de Pedro Jorge. É amado e venerado em todo o mundo, desde a Patagónia à Polónia, das Filipinas à França, dos Estados Unidos à Austrália.
D. Antonino Dias .
Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 06-09-2025.
Portalegre-Castelo Branco, 06-09-2025.
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