Na sua Resolução de 17 de dezembro de 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu designar o dia 5 de setembro de cada ano - dia do aniversário da morte de Santa Teresa de Calcutá -, como Dia Internacional da Caridade. A data foi escolhida para homenagear esta mulher, Prémio Nobel da Paz. O maior prémio que recebeu, porém, foi, sem dúvida, o da ‘incorruptível coroa de glória’, o qual lhe foi atribuído pelo Senhor da prova, o Justo Juiz, por ela ter atingido a meta a servir com alegria e amor: é santa canonizada! Nascida em 1910 na atual Macedónia do Norte, faleceu a 5 de setembro de 1997, com 87 anos, reconhecida mundialmente pela sua dedicação aos mais desfavorecidos, independentemente da sua religião, raça ou condição social. A sua vida foi acolher, cuidar, acompanhar, dignificar, fortalecer e aliviar o sofrimento das pessoas que se encontravam em situações de maior vulnerabilidade. Pautou a sua vida por aquilo em que verdadeiramente acreditava: “ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como símbolo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se irrita, não guarda ressentimento; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O dom da profecia acabará, o dom das línguas há de cessar, a ciência desaparecerá; mas a caridade não acaba nunca” (1Cor 13)
A Organização das Nações Unidas está consciente de que a caridade contribui para sociedades mais inclusivas, resilientes e justas, alivia os piores efeitos de crises humanitárias, dispõe o coração para servir o próximo, gratuitamente, levando as pessoas a agir com compaixão e generosidade em cada circunstância do seu dia-a-dia. Para nós, cristãos, agir na caridade é participar na realeza de Jesus Cristo, que veio para servir e não para ser servido. A caridade é “o dom mais alto que o Espírito dá em ordem à edificação da Igreja e ao bem da humanidade. A caridade anima e sustenta a solidariedade ativa que olha para a totalidade das necessidades do ser humano. Uma caridade assim, atuada não só pelos indivíduos, mas também, de forma solidária, pelos grupos e pelas comunidades, é e será sempre necessária: nada e ninguém a pode e poderá substituir, nem sequer as múltiplas instituições e iniciativas públicas, que também se esforçam por dar resposta às carências - muitas vezes hoje tão graves e generalizadas - de uma população. Paradoxalmente, essa caridade é tanto mais necessária quanto mais as instituições, ao tornarem-se complexas na organização e pretendendo gerir todos os espaços disponíveis, acabam por se esvaziar devido ao funcionalismo impessoal, à burocracia exagerada, aos interesses privados injustos e ao desinteresse fácil e generalizado” (ChFL 41).
No entanto, quer se aceite como uma das virtudes teologais, quer se veja como sinónimo de filantropia, quer se tenha como expressão de solidariedade ou de mero desejo de fazer o bem, quer se entenda como apoio aos mais necessitados e desfavorecidos ou a outras causas sociais e culturais, a caridade só será Caridade se não procura o seu próprio interesse, se for fruto do amor efetivo que não espera recompensa.
Esta iniciativa, que contribui para a erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável, se já reconhece o papel de quem abnegadamente se dá a estas causas, procura envolver, ainda mais, o setor privado, a sociedade civil, o voluntariado e todas as iniciativas do bem-fazer. A caridade envolve, orienta, impulsiona, gera esperança e energia saudável, afasta da indiferença, faz da sociedade uma sociedade mais humana e mais solidária, manifesta atenção, cuidado, partilha, compromisso: semeia a paz! Integrar a caridade na vida diária deveria constituir um desafio para cada pessoa e cada instituição. São estes gestos de amor que transformam quem os recebe e quem os dá, seja através de iniciativas de vulto, seja através de um simples sorriso, duma palavra de estimulo, duma ajuda surpresa, dum pequenino gesto de amor. Além disso, a caridade sustenta o mutualismo que organiza a solidariedade com estruturas de cooperação a durar no tempo. Cria redes de apoio no campo da deficiência, da saúde, da educação, da habitação, do desporto, da cultura e doutras iniciativas e projetos de relevância.
“Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros. Se tiverdes amor uns para com os outros, todos reconhecerão que sois meus discípulos”, disse-nos Jesus (Jo 13, 34).
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 05-09-2025
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