quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Abrir a janela da vida



Como seria maravilhoso, neste Natal,
eu abrir a janela da vida que mantenho fechada há tanto tempo.
Há janelas que não se fecham por causa do vento ou da chuva.
Fecham-se por medo.
Por cansaço.
E, muitas vezes, por orgulho, esse velho guardião que se instala no peito e não deixa que a vida circule. Esse orgulho que diz “não foste tu que erraste”, “não és tu que tens de dar o primeiro passo”, e que nos convence, dia após dia, a manter a janela trancada por dentro.
E eu sei bem quais são as minhas janelas fechadas. Aquela que se fechou quando deixei de falar com um irmão. A outra que se fechou, devagarinho, ao pensar no cunhado, no filho, no vizinho, no antigo colega de trabalho que me feriu em lugares que ainda doem.
A mágoa ainda lá está, não se apaga, não se dissolve, não evapora.
Há memórias que não se esquecem, e talvez nem precisem de ser esquecidas. Mas carregá-las como pedras não tem de ser o destino.
O ódio mantém-nos divididos, cansados, encolhidos no canto escuro de nós próprios. E, no entanto, continuamos a segurá-lo, como se fosse um direito que não queremos largar.
O amor, por outro lado, é a força desarmada que cura, a coragem silenciosa que restaura, a compaixão que se atreve a olhar o outro — e a si próprio — com misericórdia. O amor é claridade a entrar onde já só havia pó.
Entre estas duas escolhas eu fico:
preso ao ressentimento ou livre para compreender. Preso ao orgulho ou livre para recomeçar. Acorrentado pelo ódio ou livre para acolher.
Custa reconhecer que também eu falhei, que também eu feri, que talvez tenha esperado demasiado que o outro viesse ao meu encontro. Custa baixar a guarda, reencontrar a humildade, permitir que o coração se abra antes da razão.
Mas… e se neste Natal eu tivesse essa coragem?
Se escolhesse a paz possível, não a perfeita, não a ideal, apenas a possível,
seria como vestir a alma para a festa.
Seria abrir a janela da vida e deixar entrar o ar fresco que há anos não respiro.
Seria sentir a brisa fria no rosto,
o cheiro da terra molhada a subir do chão,
a transformar o pó do ressentimento em adubo, para que outra vida possa nascer dentro da minha.
Imagino, então, como seria o Natal nas nossas famílias
se o programa fosse simples e profundo:
abrir a janela da salvação
onde hoje há bloqueios, divisões,
querelas antigas, orgulho endurecido,
e ressentimentos entranhados que pareciam impossíveis de derrubar.
Mas talvez — só talvez —
a primeira janela a abrir não seja a do outro.
Seja a minha.
E permitir, finalmente, que a luz volte a entrar.


Padre João Torres

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