sábado, 6 de dezembro de 2025

ELES E ELAS SÃO A FINA FLOR DA HUMANIDADE

Na história da humanidade constam figuras proeminentes: líderes, políticos, cientistas, pensadores, artistas, atletas, ativistas e muitos outros que tiveram impacto significativo no mundo e na história dos povos. Uns fazem-no, com humildade, persistência e eficácia, pondo a render todos os seus talentos ao serviço de toda a comunidade humana, com sentido de responsabilidade e de missão no desenvolvimento da sociedade, do seu bem-estar, do bem comum. Outros ficam na história pela negativa, por se julgarem donos e senhores do mundo e agirem como tal, com prepotência inimaginável e ambição destruidora, sem valores nem respeito por ninguém, como verdadeiros predadores do próprio homem, esquecendo que estão a destruir-se a si próprios. Sim, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder a sua vida? (cf. Mc 8,36). Que adianta dar aso às ambições terrenas, sempre ilusórias e transitórias, desviando-se do que é, de facto, fundamental e eterno?
Entre as pessoas ilustres da humanidade estão os santos e as santas. Foram pessoas influentes ou menos influentes nos destinos da história na diversidade dos seus setores ou pessoas simples ‘de ao pé da porta’. Eles e elas são a ‘fina flor da humanidade’. Souberam ter prioridades na vida, investiram nela como um dom, entenderam que tudo quanto é dom de Deus implica tarefa humana, sem fugirem do mundo, sem cruzarem os braços, mas amando e servindo, com alegria e total dedicação, influenciando muitos e fazendo passar a mensagem de Jesus, seu Mestre, que passou pelo mundo a fazer o bem. Por isso, como lemos na Sagrada Escritura, “Muitos louvarão a sua inteligência, que jamais será esquecida. Não desaparecerá a sua memória e o seu nome viverá de geração em geração. As nações proclamarão a sua sabedoria e a assembleia celebrará os seus louvores” (cf. BSir 39, 8-14). Entre esses estão três grandes Arcebispos de Braga: São Martinho, São Frutuoso e São Geraldo que, em liturgia, celebramos conjuntamente. São Martinho, ‘oriundo da Panónia, na atual Hungria, nasceu no princípio do século VI. Era um homem de grande erudição e veio para a Galécia, por volta do ano 550. Converteu os suevos do arianismo à fé católica e fixou-se em Dume. Aí fundou um mosteiro, de que foi eleito bispo. Em 569 ficou a ser também bispo metropolita de Braga. Morreu no dia 20 de março, por volta do ano 579. Frutuoso nasceu no princípio do século VII, de nobre família visigótica. Fundou numerosos mosteiros, que muito contribuíram para a educação da juventude, como centros de vida religiosa e cultural. Finalmente, nomeado bispo metropolita de Braga, a fama da sua santidade e sabedoria estendeu-se a toda a Península Hispânica. Morreu no dia 16 de abril, por volta do ano 665. Geraldo nasceu na Gália, de nobre família. Professou no mosteiro de Moissac, de onde passou para Toledo. Eleito bispo de Braga, exerceu grande atividade na reorganização da diocese, na promoção da vida monástica, na reforma litúrgica e pastoral, bem como na aplicação da disciplina eclesiástica. Morreu na localidade de Bornes, no dia a 5 de dezembro de 1108, quando fazia as visitas pastorais nessa distante região’ (SNL).
Volto a transcrever, o que São Martinho escreveu no seu Opúsculo “Fórmula de vida honesta”, no século VI, e que sempre recordamos na Liturgia das Horas do dia 5 de dezembro. Diz-nos ele:
“Não procures granjear a amizade de alguém por meio da adulação, nem permitas que outros por meio dela granjeiem a tua. Não sejas ousado nem arrogante; submete-te e não te imponhas; conserva a serenidade e aceita de boa mente as advertências e com paciência as repreensões. Se alguém te repreender com razão, reconhece que é para teu bem; se o faz sem motivo, admite que é com boa intenção. Não temas as palavras ásperas, mas sim as brandas. Emenda-te dos teus defeitos e não sejas curioso indagador ou severo censor dos alheios; corrige os outros sem incriminação, prepara a advertência com mostras de sincera simpatia, e ao erro dá facilmente desculpa. Não exaltes nem humilhes pessoa alguma. Sê discreto a respeito do que ouves dizer e acolhedor benévolo dos que te querem ouvir. Responde prontamente a quem te pergunta e cede facilmente a quem porfia, para que não venhas a cair em contendas e imprecações. Se és moderado e senhor de ti mesmo, vigia sobre as moções do teu ânimo e os impulsos do teu corpo, evitando todas as inconveniências; não os ignores pelo facto de serem ocultos; pois não importa que ninguém os veja, se tu de facto os vês. Sê flexível, mas não leviano; constante, mas não teimoso. A tua ciência não seja ignorada nem molesta. Considera a todos iguais a ti; não desprezes os inferiores com altivez, e não temas os superiores, se vives rectamente. Em matéria de obséquios e saudações não te dispenses nem os exijas. Para todos deves ser afável; para ninguém, adulador; com poucos, familiar; para todos, justo. Sê mais severo no discernimento do que nas palavras e mais nobre na vida do que na aparência. Afeiçoa-te à clemência e detesta a crueldade. Quanto à boa fama, não apregoes a tua nem invejes a alheia. Sobre rumores, crimes e suspeitas não sejas crédulo nem inclinado a pensar mal, mas opõe-te decididamente àqueles que com aparente simplicidade maquinam a difamação alheia. Sê tardo para a ira e fácil para a misericórdia; firme nas adversidades, prudente e moderado nas prosperidades; ocultador das próprias virtudes, como outros o são dos vícios. Evita a vanglória e não busques o reconhecimento das tuas qualidades. A ninguém desprezes por ignorante. Fala pouco, mas tolera pacientemente os faladores. Sê sério mas não desumano, e não menosprezes as pessoas alegres. Sê desejoso da sabedoria e dócil. Sem presunção, ensina o que sabes a quem to pedir; e sem disfarçar a ignorância, pede que te ensinem o que não sabes.”


D. Antonino Dias
05/12/2025


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