Nenhum de nós tem nada.
Por mais que apertemos as mãos, nada nos pertence de verdade. A vida empresta-nos tudo — a casa, o tempo, as pessoas, o corpo e, no dia em que partirmos, tudo ficará exatamente onde sempre esteve.Alugado. Provisório. Transitório. Mas é tão fácil esquecermos isso.
Convencemo-nos depressa de que somos donos: donos das coisas, donos dos lugares, donos até das pessoas. Corremos como se o mundo nos tivesse sido entregue em propriedade absoluta, e zangamo-nos por migalhas, por ninharias, por poeira que o vento leva antes mesmo de entendermos o que estávamos a segurar.
Disputamos o carro, defendemos a casa, vangloriamo-nos das férias, como se qualquer uma dessas coisas pudesse acompanhar-nos na última hora da nossa despedida.
Quanto mais vivo, mais percebo: não são as coisas que fazem a vida, é a atitude com que a atravessamos. A atitude pesa mais do que os factos. É maior que a educação que recebemos, o dinheiro que juntamos,
as circunstâncias que nos moldaram, os fracassos que tememos, os sucessos que exibimos.
É maior que tudo o que os outros pensem, digam ou façam. Maior que a aparência. Maior que o talento. Maior que a habilidade.
A atitude ergue ou derruba uma empresa…
uma comunidade…
uma igreja…
uma casa.
E o extraordinário, o verdadeiramente extraordinário, é que todos os dias nos é dada a possibilidade de escolher. Não podemos alterar o passado, nem controlar o modo como os outros agem, nem travar o inevitável. Mas podemos transformar que nos foi confiado: a forma como respondemos, o espírito com que levantamos os olhos, o tom com que seguimos em frente.
Estou convencido:
a vida é 10% o que me acontece
e 90% a forma como eu reajo.
Assim é comigo.
Assim é contigo.
Não somos donos de nada,
mas somos inteiramente responsáveis
pela atitude com que vivemos aquilo que nos é temporariamente emprestado.
E, no fim, talvez seja isso
o único verdadeiro património que deixamos no mundo.
Padre João Torres
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