sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Papa Francisco e a palavra “descarte”




A economia é movida pelo desejo de ter mais e se alimenta de uma cultura do descarte

A palavra “descarte” já se tornou um termo indispensável, tanto na mensagem pastoral da Igreja como na análise da realidade social. Também as palavras “periferia” e “proximidade” não são novas nem estranhas, mas o Papa Francisco lhes conferiu um forte significado moral.

O “descarte” como expressão da injustiça social aparece em incontáveis documentos do Papa Francisco, como em sua exortação apostólica “Evangelii Gaudium”. Mas onde ele o explicou de maneira mais clara foi em sua entrevista ao jornalista Henrique Cymerman, na qual nos conta qual é a origem do descarte e quais são os grupos humanos mais “descartados”.

Quem são os principais descartados, segundo o Papa? São as crianças, começando pelo fato de descartar seu nascimento; os idosos, porque já não são produtivos; e também os jovens e sua situação de desemprego, que chega a 50% em alguns países.

Mas por quê? Por que o descarte? Para o Papa, o descarte serve “para manter um sistema económico que já não se sustenta, um sistema que, para sobreviver, precisa fazer guerra, como sempre fizeram os grandes impérios. Mas como não se pode fazer a terceira guerra mundial, então fazem guerras por áreas”.

E o que isso significa? Que fabricam e vendem armas, para o balanço das economias idiolátrico. É que, diz o Papa, “no centro de todo sistema económico deve estar o homem, e todo o resto deve estar ao serviço deste homem. Mas nós colocamos o dinheiro no centro, o deus dinheiro. Caímos em um pecado de idolatria, a idolatria do dinheiro. A economia se move pelo desejo de ter mais e, paradoxalmente, alimenta-se de uma cultura do descarte”.

A opinião do Papa é forte. São João Paulo II já havia dito que o capitalismo é, como sistema económico, tão prejudicial quanto o comunismo. Mas ninguém o ouviu.

Agora, o Papa Francisco diz algo a mais: que o sistema já não se sustenta; que o sistema económico explora, por inumano, porque só serve para o bem-estar de poucos e para o descarte de muitos.

Esperemos que os grandes adalides do sistema – incluindo os cristãos – tomem nota disso. Pelo menos agora terão de tomar cuidado na hora de prodigalizar o bem do sistema e de tirar proveito dele refugiando-se na margem dos “não descartados”.


Manuel Bru  - aleteia.org

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