terça-feira, 20 de julho de 2021

E quando nada flui?!



Os livros de autoajuda aconselham-nos a deixar fluir. A acreditar na nossa força interior. A confiar que a vida sabe o que faz e que o que é nosso há de vir parar à nossa mão. Vamos lendo aqui e ali que se respirarmos fundo, se mantivermos o pensamento positivo e esperançoso, tudo correrá como gostaríamos. Dizem que tudo flui quando nos deixamos ir, quando confiamos que a vida nos devolve na vida do que demos.

Lamentavelmente, percebemos que quase nunca é assim. Que quando deixamos fluir, a vida continua a raptar-nos a esperança em dias melhores, continua a adiar-nos os planos e continua a mostrar-nos que não fazemos a mínima ideia do que, um dia, será (ou não) nosso. Descobrimos que o que hoje parecia certo, amanhã deixa de ser. Descobrimos que os nossos princípios e valores parecem boiar num mundo de favores, subterfúgios e outros pretextos para não fazer o bem.

Há, na vida de cada um de nós, uma imprevisibilidade que nos apaixona e, ao mesmo tempo, nos desarma profundamente. Mas não conseguimos deixar de nos sentir injustiçados quando seguimos os trilhos certos e o caminho que queremos não vem ao nosso encontro. E não conseguimos deixar de nos sentir perdidos quando tudo corre bem aos que fazem tudo mal. E não conseguimos deixar de nos questionar: que estará, então, guardado para mim?

Não sei o que está guardado para cada um, mas sei que a vida nos compensa na medida do sofrimento que também nos dá. Sei que tudo se equilibra, um dia. Que tudo bate (mais) certo quando for o tempo disso. Ainda que não seja hoje, agora ou amanhã.

Lá mais para a frente, quando olhares para trás, vais perceber tanto do que hoje estás a viver. Até lá, desanima quando tiver que ser, mas depois limpa as lágrimas e faz-te ao trilho. Ao mar. Ao chão. À vida.

Por isso, e por tanto mais que não cabe nas palavras, valerá sempre a pena arriscar e mergulhar no rio, em vez de esperar que ele flua.

Saltas?


Marta Arrais

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