segunda-feira, 19 de julho de 2021

Não nos abandonemos!



Há um provérbio popular que diz o seguinte: «O tempo a tudo dá remédio.» Eu, porém, conheço gente que sofre sem cura à vista. Penso tantas vezes no livro de Job…

Conheço pessoas traídas pela vida, carregadas de dor e desilusão, com pesos quase impossíveis de carregar. Que têm dificuldade em rezar apesar da sua fé. Continuam a lutar e a questionar Deus porque permite que tudo lhes aconteça... O que fizeram para merecer tal sofrimento…

A eterna pergunta acerca do sofrimento: Por quê a dor inocente?

Por que é que a pessoa justa não está livre das provações dolorosas? Por que é que Job passou pela severa prova que todos conhecemos? E por que é que Jesus, o único inocente, o único justo, que viveu apenas para amar, carregou a cruz? Por que é que sofreu tanto na sua paixão? Por quê?

Antes de mais temos que perceber, à luz do Evangelho, que os nossos sofrimentos não são castigo de Deus. As nossas provações e as nossas desilusões não são decretadas por Deus. É a dimensão do humano. É a nossa humanidade, a nossa fragilidade.

Acredito que sofrer hoje, aparentemente, seja mais difícil que no passado. Num mundo em que se venera a perfeição, o sofrimento é cada vez mais escondido, alojado em sítios e lugares preparados para esse efeito.

Ser-se humano é ser mortal. Consequentemente, sofreremos sempre. Esta vida mortal é marcada pelas limitações, pelo mal e como tal, o sofrimento é-nos inerente. Pertence-nos.

Mas não é fácil sofrer. Não é fácil encontrar uma resposta para o sofrimento…

Job gritou antes de nós do abismo de sua dor. Jesus, o único que verdadeiramente se poderia definir como justo, também gritou na cruz, esmagado pelo peso da iniquidade de toda a humanidade e abandonado pelo seu Pai, em quem sempre depositou a sua confiança: «Eloí, Eloí, lamá sabactani». Também nós clamamos, sempre que a prova e a dor, como uma injustiça que não acreditamos merecer, entra na nossa vida, na vida das nossas famílias e nas nossas comunidades.

Não tenhamos medo, deixemos que o nosso gemido suba até ao céu como uma oração.

A dor inocente de Jesus é redentora e a nossa, vivida em comunhão com ele, torna-se por sua vez, salvação para todos nós. Na nossa fé, na comunhão com o Filho de Deus, testemunhamos que não são as provações e as desilusões da vida que têm a última palavra, mas a Páscoa do Jesus e a nossa na sua.

Mas até lá e como somos frágeis precisamos de nos apoiar mutuamente.

Não nos abandonemos!


Paulo J. A. Victória


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