De facto, a angústia do envelhecimento não é apenas a antevisão da morte, mas o receio da perda de dignidade, da perda de autonomia, da lentidão incapacitadora, da desvalorização de uma imagem construída ao longo da vida e baseada, entre outros aspetos, na admiração e no respeito dos outros.
Apesar de tudo isto, sabemos que muitos envelhecem e conseguem ser felizes. Porque acreditam em si próprios, porque vivem um dia de cada vez, porque não param a aguardar o tão temido fim, porque não se dedicam às novas limitações, mas aceitam-nas, agradecendo e rentabilizando as competências que mantêm.
Não podemos interromper o curso imparável dos dias e dos anos, mas podemos apostar em cada momento como se fosse o mais importante da nossa vida, com reconhecimento pelo que somos e não com a angústia do que desejávamos ser ou daquilo que já fomos. Deste modo, estaremos a construir razões para ser felizes até ao último dia da existência, que não temos a capacidade de adivinhar (seja com que idade for).
Enquanto estamos vivos a nossa tarefa é viver e lutar pela qualidade com que o fazemos.
Margarida Cordo
In Minutos de reflexão, ed. Paulinas
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