Direito à tristeza Por diversas razões, há momentos da nossa vida em que, apesar de tudo o que foi dito, apesar de sabermos viver um dia de cada vez, apesar de sabermos não sofrer por antecipação, apesar de sabermos sentir gratidão e valorizar o que temos, apesar de confiarmos que o melhor acontece no melhor momento, apesar de nos sentirmos «donos» de uma fé serena e sólida, apesar de... , não conseguimos evitar a tristeza. E é por isso que temos de saber que, quando, por defesa, nos recusamos a identificá-la e a aceitá-la, estamos a cometer um atentado contra nós próprios.
Não temos, naturalmente, de rentabilizar o sofrimento como forma de apelo à proteção. O que importa é que o olhemos como algo de que queremos libertar-nos, mas que só o conseguiremos (às vezes temos de pedir ajuda) enfrentando-o, não fugindo dele, não o negando, não apressando o seu desaparecimento, só porque os outros acham que já deveríamos ter superado isto ou aquilo. Temos de, quando é caso disso, nos dar o direito de chorar, de falar do que nos faz sofrer, de recordar o que ainda nos dói, de nos abandonarmos num «espaço emocional» em que podemos ser o que, naquele momento, somos, sentir o que, naquele momento, sentimos, e dizer tudo isso com a intensidade que achamos justa e libertadora.
Pra deixarmos de estar tristes, precisamos de nos libertar da tristeza sem a negarmos e sem fazermos dela aquilo que temos de esconder só porque os outros entendem que já deveríamos estar melhor. Estar triste não é bom, mas é um direito pelo qual temos de lutar quando for caso disso. Se o não fizermos, este estar transitório transformar-se-á num ficar, esse, sim, com um caráter muito mais permanente.
Margarida Cordo
In Minutos de reflexão, ed. Paulinas
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