domingo, 13 de março de 2016

MULHERES HUMILHADAS E CRUCIFICADAS – 12-03-2016


Foto de perfil de Antonino Dias
No jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, Lucetta Scaraffia, no dia 3 do corrente mês, dava-nos conta duma iniciativa intitulada: “Pelas mulheres sacrificadas”. Inseria-se nas celebrações do jubileu da misericórdia e foi dedicada às jovens vítimas de tráfico, prostituição e violência. “Um fenómeno que na Itália apresenta dados assustadores. Calcula-se que sejam entre 75.ooo e 120.ooo as vítimas da prostituição. Delas 65% estão pelas ruas e 37% são menores, entre 13 e 17 anos. Provêm sobretudo da Nigéria, Roménia, Albânia, Bulgária, Moldávia, Ucrânia e China. Calculam-se 90 milhões de “clientes” com uma “rede de negócios” de 90 milhões de euros por mês. A Comunidade Papa João XXIII, que há vinte e cinco anos está ao lado das vítimas desta moderna forma de escravidão, libertou mais de sete mil delas. Atualmente estão alojadas nas estruturas da associação cerca de duzentas jovens. Vinte e uma unidades de rua saem todas as semanas, em toda a Itália, para se encontrar com estas mulheres e oferecer-lhes uma saída”.
“Sinto-me exausta e extenuada…Basta, basta! Alguém me ajude, dai-me algo pelo menos para limpar o meu rosto sujo… Cuspida e desprezada, tratada como um animal, dia e noite ultrajada e violentada… Alguém tenha piedade de mim: pelo menos, tu, mulher, irmã, mãe! Pertenço a ti, poderias compreender-me… Vem ajudar-me”. Foi a voz de Eugénia Bonetti, que, no silêncio da noite, deu “ritmo a estas palavras durante a quinta estação da Via-Sacra, enquanto as inúmeras pessoas que participam na procissão ouvem num silêncio atónito e doloroso”. Todos os presentes “ouvem no seu coração a voz deste sofrimento indizível e compreendem o que significa ser tratada como uma escrava, já não ser dona do próprio corpo, nem de si mesma. Mulheres entre as quais, anonimamente, se misturavam algumas das prostitutas salvadas que grupos de ajuda católicos souberam e puderam ajudar. Mas muitos eram também os jovens e os representantes de grupos étnicos que conhecem de perto esta chaga. Uma participação intensa e sentida, uma partilha da dor que raramente se sente com tanto vigor”. Um percurso “com muitos momentos de oração, meditação e testemunho das vítimas salvas do tráfico”. Pela primeira vez, no centro da cidade de Roma, foi catapultada com vigor esta outra cidade, “aquela escondida das periferias mal-afamadas, do sofrimento de milhares de mulheres exploradas e da sórdida convivência com esta escravidão de tantos homens que aparentemente são normais, decentes, talvez até bons pais de família, maridos carinhosos. Mas quem paga uma prostituta torna-se cúmplice deste comércio, afirmaram os milhares de vozes em Roma. É um mundo esquecido, no qual ninguém quer pensar, um mundo submerso de humilhação atroz”. Apesar da sua constante solicitude pastoral, foi “a primeira vez que a Igreja, publicamente, assumiu a problemática das mulheres obrigadas à prostituição, libertou-as de qualquer preconceito moral, proclamando-as diante do mundo pelo que são: vítimas. Foi um ato de rutura com o seu passado, em coerência com a pregação do Papa Francisco e com a atividade de ajuda que centenas de religiosas, sacerdotes e associações católicas – únicos que o fazem – oferecem a estas pobres jovens”. “Foi uma Via-Sacra muito comovedora”, afirmou o Aldo Buonaiuto, coordenador da iniciativa. Teve “a participação de atores e músicos e o testemunho direto de jovens que viveram na própria pele a condição de verdadeira escravidão, que também hoje existe, nas nossas cidades, mesmo se parece que não damos conta”. Maurizio Botta, evocando a exortação do Papa aos mafiosos, dirigiu-se aos exploradores das jovens, convidando-os a sofrer “a dor do arrependimento”. E Matteo Truffelli, presidente da Ação Católica italiana, observou que “são as mulheres, vítimas da crueldade do homem, que nos mostram a face de Cristo”.
Habitualmente do sexo feminino, a prostituição abrange também o sexo masculino. Seja qual for a razão da sua procura, vai sempre contra a dignidade das pessoas envolvidas e é considerada um flagelo social. Para além de tantas outras consequências, quantas pessoas escravizadas, exploradas e humilhadas, quantos lares feridos e sofridos, quantas famílias desfeitas! E ninguém merece ser humilhado ou destruído, ninguém, muito menos uma família, onde a verdade, o respeito mutuo e o amor verdadeiro implicam a fidelidade inviolável.

DOM Antonino Dias . Bispo Diocesano Portalegre- Castelo Branco

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