sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O SOFRIMENTO VENCIDO PELO AMOR



No dia 11 de fevereiro, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lurdes, celebra-se o XXV Dia Mundial do Doente. Este dia foi instituído por São João Paulo II em 1992. Foi celebrado pela primeira vez, em Lurdes, no dia 11 de fevereiro de 1993. Em 1984, João Paulo II havia já publicado a Carta Apostólica Salvifici Doloris, sobre o sofrimento humano e outros documentos se seguiram.
Mas já antes, no final do Concilio Vaticano II, em 8 de dezembro de 1965, os participantes no Concílio dirigiram uma mensagem muito especial a todos quantos suportavam provações e a quem o sofrimento batia à porta sob as mais diversas formas. Afirmavam-lhes que o Concílio sentia sobre si próprio os seus olhos “implorantes, brilhantes de febre ou abatidos pela fadiga, olhares interrogadores, que procuram em vão o porquê do sofrimento humano, e que perguntam ansiosamente quando e de onde virá a consolação”. Solidários, mas incapazes de aliviar a dor e o sofrimento de tantos, eles tornavam-se próximos e afirmavam: “sentimos repercutir profundamente nos nossos corações de pais e pastores os vossos gemidos e a vossa dor. E a nossa própria dor aumenta ao pensar que não está no nosso poder trazer-vos a saúde corporal nem a diminuição das vossas dores físicas, que médicos, enfermeiros, e todos os que se consagram aos doentes, se esforçam por minorar com a melhor das vontades. Mas nós temos algo de mais profundo e de mais precioso para vos dar: a única verdade capaz de responder ao mistério do sofrimento e de vos trazer uma consolação sem ilusões: a fé e a união das dores humanas a Cristo, Filho de Deus, pregado na cruz pelas nossas faltas e para a nossa salvação. Cristo não suprimiu o sofrimento; não quis sequer desvendar inteiramente o seu mistério: tomou-o sobre si, e isto basta para nós compreendermos todo o seu preço”.
E terminavam a sua mensagem convidando todos os doentes à coragem e à comunhão dos seus sofrimentos com os sofrimentos de Cristo pela salvação do mundo: “a vós todos, que sentis mais duramente o peso da cruz, vós que sois pobres e abandonados, vós que chorais, vós que sois perseguidos por amor da justiça, vós de quem não se fala, vós os desconhecidos da dor, tende coragem: vós sois os preferidos do reino de Deus, que é o reino da esperança, da felicidade e da vida; Vós sois os irmãos de Cristo sofredor; e com Ele, se quereis, vós salvais o mundo. Eis a ciência cristã do sofrimento, a única que dá a paz. Sabei que não estais sós, nem separados, nem abandonados, nem sois inúteis: vós sois os chamados por Cristo, a sua imagem viva e transparente.”
Na sua Mensagem para este Dia Mundial do Doente, o Papa Francisco também manifesta a sua proximidade a todos quantos vivem a experiência do sofrimento, bem como manifesta o seu apreço a quantos, nas mais variadas tarefas das estruturas sanitárias espalhadas pelo mundo, se ocupam, com competência, responsabilidade e dedicação, das melhoras, cuidados e bem-estar diário de todos. Reitera a sua “proximidade feita de oração e encorajamento aos médicos, enfermeiros, voluntários e a todos os homens e mulheres consagrados comprometidos no serviço dos doentes e necessitados”. De igual modo se dirige “às instituições eclesiais e civis que trabalham nesta área; e às famílias que cuidam amorosamente dos seus membros doentes”.
A par, encoraja “a todos – doentes, atribulados, médicos, enfermeiros, familiares, voluntários – a olhar Maria, Saúde dos Enfermos, como a garante da ternura de Deus por todo o ser humano e o modelo de abandono à vontade divina”. Será “na fé, alimentada pela Palavra e os Sacramentos” que toda esta gente encontrará “a força para amar a Deus e aos irmãos mesmo na experiência da doença”. Cada doente é e permanece sempre um ser humano e deve ser tratado como tal. “Os doentes, tal como as pessoas com deficiências mesmo muito graves, têm a sua dignidade inalienável e a sua missão própria na vida, não se tornando jamais meros objetos, ainda que às vezes pareçam de todo passivos, mas, na realidade, nunca o são”.
Como sabemos, hoje desvaloriza-se a vida. Os defensores da eutanásia e do suicídio medicamente assistido pretendem reconhecer a licitude da supressão da vida, quando consentida, em situações de sofrimento intolerável ou em fases terminais, com o pretexto de que a vida está diminuída na sua dignidade. Sabemos, no entanto, que não se elimina o sofrimento com a morte. Com a morte elimina-se a vida da pessoa que sofre. Também não se pode justificar a morte de uma pessoa mesmo com o consentimento desta. Um homicídio não deixa de o ser pelo facto de ser consentido pela vítima, nem a inviolabilidade da vida cessa com o consentimento do seu titular. A vida é um direito indisponível. É dom e missão, é o pressuposto da autonomia e da dignidade humana. Importante é, sem dúvida, implementar um sistema de cuidados paliativos de qualidade e para todos (cf. Doc. CEP). Como afirma Bento XVI, “a grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre”.
A Jornada Mundial do Doente, pode ser, segundo o Papa Francisco, um bom momento para um novo impulso capaz de “contribuir para a difusão duma cultura respeitadora da vida, da saúde e do meio ambiente”.

D.Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco
03-02-2017

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