segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Quantas palavras cabem no que não se diz?!




No silêncio cabe tudo. Cabem muros, cabem pobres. Cabem palavras amordaçadas que só se soltam se se souber ler o que está por detrás dos olhos.
No silêncio cabe a fé. Que tem muitos nomes e muitas caras e que, por isso mesmo, é tão bonita.
No silêncio cabe o que não se pode chorar nem rezar em voz alta. Quem se arriscar a fazê-lo, não volta a ver a luz da liberdade.
No silêncio cabe a cruz que vai de mão em mão, sem nunca poder ser vista ou adivinhada.
No silêncio cabe o grito de quem não pode dizer tudo o que lhe arrasa o coração.
No silêncio cabe a luta de quem não desiste.
Cabe o que nos conforta quando não há palavras nem gestos capazes de nos alcançar os vazios.
Cabe o mundo inteiro e tudo o que sonhámos, um dia, fazer com ele.
Não somos, mesmo assim, pessoas de silêncio. Somos barulho de quem se quer fazer ouvir. De quem se quer fazer ver. Somos gente de voz alta e quase rouca que precisa das palavras para ser feliz e para falar da Fé. Seja ela qual for.
Mas, se somos feitos de barulho...
Como é que se acredita num Deus que está calado?! Como é que se vive para uma Cruz que há-de queimar-nos a pele até à última réstia de vida?
Como é que se confia a vida a um Céu que está mudo e não devolve resposta alguma?!
Acredita-se como se acredita que o vento que passa é o vento que passa.
Confia-se como se confia que o Céu há-de salpicar a noite de estrelas.
Acredita-se como se acredita que as estrelas que brilham são as estrelas que brilham.
Confia-se como se confia nas nuvens que prometem chuva de gotas gordas.

A Fé é uma certeza que aquece os pés ao coração. Feita de silêncios e, na maioria das vezes, de muito barulho. De muitos incómodos. E ainda bem. Quem não se incomoda com o que acontece, não muda nem cresce. Quem não se inquieta, não pergunta e vive para colher as respostas alheias. Eu sei o nome da minha Fé. Que é minha e rima com o menino Jesus do presépio. A minha fé anda descalça e deixa-se ferir muitas vezes. Para depois se cicatrizar e se melhorar. A tua fé pode não ser uma fé de Deus ou do menino do presépio. Mas, se é a tua, cabe-me a mim e à minha fé, respeitar-te. Não precisamos de acreditar todos no mesmo Céu. Mas precisamos de acreditar que cada um pode acreditar (sempre) no que quiser.


Marta Arrais (08-02-2017) iMissio.net

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