Não sei se li ou ouvi de alguém (talvez um biblista) a referência a esta pequena oração de Jesus como o seu “Magnificat”. Conhecemos, certamente, o belíssimo hino que Maria disse, depois do encontro com Isabel (Lc 1, 46-55) e da saudação que rezamos na “Avé Maria”. S. Lucas conta que Jesus estremeceu de alegria ao dizê-lo. São apenas duas frases, e dizem-nos tanto desta atitude, por vezes esquecida, que é o louvor e o agradecimento. Gastamo-nos demais com o que nos falta que quase não damos valor ao que nos é dado. “Usamos” Deus para que nos faça isto ou dê aquilo, coisas importantes na lógica algo estreita de corações “com palas”, mas seremos capazes de dizer e rezar um “magnificat” pessoal? E não apenas com Deus, como vivemos a gratidão com os que nos rodeiam?
Gratidão rima com surpresa, liberta de qualquer direito ou obrigação. Abraça a realidade e a história e põe em primeiro lugar as memórias felizes. Brota da generosidade atenta, e da felicidade possível com o pouco que pode ser sempre belo. Cultiva-se nos gestos necessários do quotidiano, que sabem melhor feitos em comum. Como é fundamental ela ter lugar na nossa vida desde pequeninos, e como é tão fácil descobrir os pais e educadores que a semearam nos mais novos! já repararam como o agradecimento e a felicidade andam de mãos dadas?
Jesus louva o Pai porque os mistérios do Reino são revelados aos pequeninos. E os que se incham do seu saber e da sua pretensa autoridade “não pescam nada”! É a surpresa do poder de Deus que não domina nem oprime, mas destrói as armas e traz a paz. É a eficácia dos pobres, dos que choram, dos mansos e puros de coração que as bem-aventuranças já anunciavam. A eficácia, não para conquistar o mundo, mas para transformá-lo em Reino de Deus. Por isso o manso rei de Zacarias vem montado num jumento, que até uma criança pode montar, e não num cavalo, símbolo de todos os conquistadores do mundo. A única conquista que Jesus deseja fazer é a de nos fazer felizes. Rebentando de gratidão!
Como podemos escrever o nosso “Magnificat”? Os três convites seguintes de Jesus são uma ajuda. No meio do cansaço e da opressão, de uma relação com Deus esmagada pelo peso dos pecados (tantas “culpas” recalcadas e más consciências que nunca saboreiam a alegria do amor contínuo de Deus!), e de uma religião cansada e repetitiva: “Vinde a Mim!”. No meio de esforços perfecionistas e solitários, de medos e pressões, de leis e preceitos, Jesus convida viver com Ele e como Ele, fazendo o bem, preferindo amar: “Tomai o meu jugo!”. Quando tudo parece cair, e os esforços são inglórios, quando não temos tempo para nada nem ninguém, e os outros não somo desejávamos (e têm de ser?!), Jesus oferece descanso, e convida a ser manso e humilde: “Aprendei de mim!”
Começa também assim o nosso “Magnificat!”: “Eu te bendigo ó Pai...!”?
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