sexta-feira, 28 de julho de 2017

TÃO IMPORTANTE E TÃO ESQUECIDO!...

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Passou o Dia dos Avós. Novos ou menos novos, são um património da Humanidade. Um património por excelência. Um património incomparável aos muitos outros espalhados por esse mundo fora e classificados como tal. E mesmo quando os avós são muito velhinhos e doentes, não podemos esquecer que eles são, como alguém diz, “a mais formosa de todas as ruínas”. E são-no mesmo quando a velhice parece desfazer o seu brio de pessoa como seres dotados de inteligência e vontade, de sentimentos e qualidades. Ora, se as ruínas que nos chegam dos tempos de antanho – umas simples partes, pedras, objetos ou expressões de génio - são cuidadas com tanta cautela e afeição devido ao seu valor para uma possível leitura da história e dos sonhos dos antepassados, quanto mais estas “ruínas humanas” deveriam sentir quão importantes, estimadas, cuidadas e servidas são, com amor. Sim, com amor, são pessoas!
Hoje, como sempre, os avós, para além de toda a sua sabedoria e experiência acumuladas, têm importância capital no apoio e na ajuda que dão aos seus filhos na educação dos netos. Vou referir-me, sobretudo, à educação cristã. São Paulo, ao escrever ao seu companheiro e amigo Timóteo, confessa-lhe: “Lembro-me da fé sincera que há em ti, a mesma que havia antes na tua avó Lóide, depois na tua mãe Eunice e que agora, estou convencido, também há em ti” (2Tim 1,5). De facto, a fé transmite-se pelo testemunho, passa por estes caminhos, os caminhos da família.
Aproveitando esta oportunidade e seguindo o Catecismo da Igreja e os preliminares do Ritual, vou recordar um Sacramento relacionado com a idade avançada e a doença, o Sacramento da Santa Unção. A Igreja ensina que a Santa Unção é um dos sete Sacramentos do Novo Testamento, instituído por Cristo, apontado em São Marcos (Mc 6, 13), recomendado e promulgado por São Tiago (Tg 5, 14-15). É evidente que faz parte da vida lutar contra todas as enfermidades e buscar o bem da saúde. No entanto, quando a doença, violenta e teimosamente, bate à porta, aqueles que professam a fé cristã sentem-se apoiados nessa luz, a luz da fé. Compreendem melhor o mistério da dor que experimentam. Suportam com maior fortaleza os próprios sofrimentos que sentem. Conhecem não só o valor e o significado que a doença tem para a salvação própria e do mundo, mas também avivam a predileção que por eles tem Jesus, que tantas vezes visitou e curou os doentes. Além disso, compete aos doentes, com o seu testemunho, “despertar nos outros a lembrança das coisas essenciais e superiores e mostrar que a vida mortal dos homens deve ser salva pelo mistério da morte e ressurreição de Cristo”.
Com a imposição das mãos pelos sacerdotes, a oração da fé e a unção com o óleo santificado – óleo, regra geral, benzido pelo Bispo em Quinta-Feira Santa com a presença de todo o clero da Diocese como expressão de unidade e comunhão eclesial -, com estes ritos, é significada e conferida a graça do Sacramento, a graça do Espírito Santo. Por ela, o doente, criança no uso da razão, adolescente, jovem, adulto ou idoso, se minimamente iniciado nos princípios que nos regem como cristãos, aviva a fé, é ajudado em ordem à salvação, é confirmado na confiança em Deus, é fortalecido contra o pecado e a ansiedade da morte. Além disso, sente-se encomendado, por toda a Igreja, ao Senhor padecente e glorificado, para que Ele o alivie e o salve, podendo até, se isso for útil à sua salvação, ser-lhe restituída a saúde do corpo. Ao mesmo tempo, é exortado a que, associando-se livremente à paixão e morte de Cristo, contribua para o bem do Povo de Deus, fazendo também da sua vida uma oblação espiritual ao Senhor.
Nenhum cristão gravemente doente, quer em razão da própria enfermidade, quer em razão da idade avançada, deveria deixar de celebrar este Sacramento. Para julgar da gravidade da doença basta um prudente juízo sobre a mesma. E o Sacramento pode receber-se de novo se o doente convalescer depois de o ter recebido, ou se, no decurso da mesma doença, o seu estado se agravar. Mesmo quando, qualquer pessoa, criança no uso da razão, adolescente, jovem ou adulto, vai sujeitar-se a uma intervenção cirúrgica que coloca a vida em risco, tal pessoa deveria celebrar, antes de ir para o Hospital, ou lá, antes de ir para a mesa das operações, o Sacramento da Santa Unção, precedido dos Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia a modo de Viático: não é um sinal de que vai morrer, é um testemunho bonito, é um sinal de que tem fé e sabe ser grato e usufruir dos dons que o Senhor nos deixou com tanto amor, com a doação da Sua própria vida. O mesmo se diga em relação a uma Senhora que vai ser mãe em parto que se prevê difícil, colocando a vida em risco: felizmente que hoje, com os avanços da medicina, isso se torna muitíssimo mais raro. Devem ainda celebrar este Sacramento as pessoas idosas cujas forças estejam já debilitadas, embora não sofram de doença grave.
Por isso, a Igreja pede que na catequese, “tanto individual como familiar, se instruam os fiéis para que eles próprios peçam a Unção e se aproximem em tempo oportuno a recebê-la com plena fé e devoção espiritual, e para que se deixe o mau costume de a irem adiando”. Além disso, a Igreja insiste em que se esclareçam “todas as pessoas que prestam assistência aos doentes sobre a natureza deste Sacramento”.
Hoje, a maior parte das pessoas acaba por falecer em Lares e Hospitais. Muitas delas viveram a sua vida com a Igreja e na Igreja e acabam por falecer sem celebrarem este Sacramento e sem serem fortalecidas também pelo Viático do Corpo e Sangue de Cristo, que é um preceito e nos equipa do penhor da ressurreição: “Quem come a minha carne e bebe o meu Sangue, tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia ( Jo 6, 54).
Que isto possa acontecer nos Hospitais devido às dificuldades inerentes e tantas vezes inesperadas, ainda vamos percebendo. Seria mais difícil de entender se isso acontecesse no seio das famílias cristãs, em casa, nos Lares das Misericórdias, dos Centros Sociais Paroquiais ou noutras instituições com ideário cristão. Quem presta assistência aos doentes e idosos, deve sentir o dever de dispor o próprio doente ou idoso, “com palavras delicadas e prudentes”, para este momento da celebração da fé, encomendando-os ao Senhor e exortando-os a valorizarem a vida feita oblação. A qualidade de vida que tanta gente, incluindo os técnicos de serviços especializados, se esforça, e bem, por oferecer aos utentes, também deve passar por aqui, pela atenção e valorização do dom da fé, pela qual, entre nós, quase toda a gente pautou a sua vida: somos cristãos, pessoas de fé. Pode haver lá pessoas que não sejam cristãs ou sejam de outra religião: devem respeitar-se e facilitar-lhes o acesso dos seus pastores, se os têm e pedem. No entanto, ninguém pode dispensar-se das suas próprias responsabilidades em cargos ou serviços que presta em favor de outros. Temos de ser cristãos em casa, no trabalho, na comunidade, em todas as situações e funções que exercemos.

D.Antonino Dias . Bispo Portalegre Castelo Branco
28-07-2017

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