A Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2012, proclamou o Dia Internacional da Caridade. Celebra-se no dia 5 de setembro de cada ano, dia em que se assinala a morte de Madre Teresa de Calcutá. O objetivo deste Dia é, segundo lemos, e entre outros, reconhecer o papel da caridade no alívio às crises humanitárias e ao sofrimento humano em todo o mundo, homenagear o extraordinário trabalho de inúmeras organizações e indivíduos, fomentar e promover o diálogo, a solidariedade, o entendimento mútuo e os valores universais.
Assumindo-se como uma expressão de “solidariedade global”, a caridade sente, neste seu Dia Internacional, o carinho e o encorajamento de todos os Estados-membros, organizações regionais e internacionais e os vários atores da sociedade civil, nomeadamente através da educação e de atividades que contribuam para a sensibilização da sociedade.
Falar da caridade, é falar do “ápice do amor”, do mandamento novo, daquele amor que Jesus viveu, ensinou e elevou ao seu mais alto nível morrendo por nós na cruz. É esta caridade levada até às últimas consequências que sustenta o mundo: dar a vida, por amor, por amigos e inimigos, pelo próximo, fazer bem sem olhar a quem. Esta é, assim o cremos e Bento XVI no-lo lembra, uma “vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada pessoa”. É uma “força extraordinária que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz.” É “o dom maior que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança”. Apesar disso, a caridade – o amor levado até às últimas consequências! -, continua a ser rodeada de preconceitos, é mal entendida por muitos, por vezes excluída da vida ética, desvalorizada, julgada irrelevante, esvaziada de sentido,tida como mera organização assistencial, não raro ridicularizada. E tudo acontece – assim o acreditamos - por desconhecimento da sua natureza e valor, e, talvez, pelo fraco testemunho de quem melhor a deveria servir e testemunhar. No entanto, pela sua estreita ligação com a verdade, ela impõe-se “como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, nomeadamente de natureza pública”.
Com este reconhecimento pela ONU, somos confirmados e alertados para a sua importância e necessidade. Com origens bíblicas, ela “dá valor teologal e salvífico a todo o empenho de justiça no mundo”. Sabemos que não é caridade nenhuma usar a caridade para promover o proselitismo eclesial. Mas também sabemos “que o amor, na sua pureza e gratuidade, é o melhor testemunho do Deus em que acreditamos e que nos impele a amar”. Não é humanismo piegas, não é filantropia para promoção do ego, não é mera solidariedade interesseira que humilha, entristece e entorpece. Tampouco se identifica com aquele bem-fazer que brota do sentimento de pena, ou com aquele “amor” que por aí trepa orgulhoso tão a cotio e banalizado, a precisar de ser reconduzido ao seu sentido mais profundo, à verdade. A caridade de que falamos e que deve ser iluminada pela luz da razão e da fé, exige sempre a verdade. Sem a verdade, a Caridade e o Amor ficam excluídos “dos projetos e processos de construção dum desenvolvimento humano de alcance universal, no diálogo entre o saber e a realização prática”. Sem a verdade, “sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade”.
A caridade na verdade, por sua vez, exige a justiça. Amar é dar, e ninguém pode «dar» ao outro nada do que é seu, sem antes lhe ter dado o que lhe pertence por justiça. A caridade exige, pois, a justiça, exige o reconhecimento e o respeito dos legítimos direitos dos indivíduos e dos povos. Empenha-se na construção do bem comum. Querer e trabalhar pelo bem comum é exigência da justiça e da caridade. A caridade, porém, supera a própria justiça, pois a completa com a lógica do dom e do perdão, da gratuidade, da misericórdia e da comunhão. “Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular e político” (cf. Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in Veritate, 1-7).
D. Antonino Dias Bispo de Portalegre Castelo Branco
08-09-2017
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