sexta-feira, 22 de setembro de 2017

SER PROFESSOR NÃO É PERA DOCE



As aulas irão temperar toda esta fervura juvenil que sobe e desce, feliz e cheia de esperança, pelas ruas do burgo estudantil. A par, alguns dos professores - parece que muitos! -, sofrem pesado as distâncias e a permanente instabilidade. Hoje, aos professores e aos responsáveis pelas escolas, pede-se muito. O contexto sociopolítico e cultural que nos envolve coloca enormes desafios a quem tem a vocação e a nobre missão de ensinar e educar. Se é importante a competência, não o é menos a estabilidade e a serenidade interior do professor. Fruto deste tempo e desta cultura, os jovens, com ou sem vontade, rumam à escola com todas as suas circunstâncias, defeitos e virtudes, e, muitos, sem qualquer modelo de referência válido. E não há receitas de fácil aplicação. Impõe-se, isso sim, tentar perceber e acolher tais situações e fazer caminho com elas, com confiança, sem desânimo.
Sabemos que a escola deixou de ser o único e principal meio de aprendizagem para os jovens. Mesmo que se implementem novas matérias, novas metodologias, novas competências e funções educativas mais alargadas e especializadas, a escola perdeu a primazia. A mobilidade, as comunidades virtuais, as novas linguagens tecnológicas e as novas oportunidades de aprendizagem, fora da escola, são cada vez mais e muito mais interessantes. Para além da necessária humildade na ação, isto coloca à escola um desafio que pode causar enxaquecas e fazer cair o cabelo a muitos professores: levar os alunos, com a gradualidade própria do seu crescimento, a terem um juízo crítico sobre esta realidade, de braço dado com a capacidade de discernir o bom e o melhor.
De facto, aos professores “pede-se muito. Deseja-se que tenham a capacidade de criar, de inventar e de gerir ambientes de aprendizagem ricos de oportunidades; deseja-se que sejam capazes de respeitar as diversidades das ‘inteligências’ dos estudantes e de guiá-los numa aprendizagem significativa e profunda; exige-se que saibam acompanhar os alunos rumo a objetivos elevados e desafiantes, demonstrar elevadas expectativas em relação a eles, envolver e relacionar os estudantes entre eles e com o mundo…, devem saber enfrentar situações problemáticas que exigem um elevado profissionalismo e preparação. Para estar à altura de tais expectativas é necessário que essas funções não sejam confiadas a responsabilidades individuais, mas que seja oferecido um adequado suporte ao nível institucional”. Exige-se, porque é importante, “que a educação escolar valorize não só as competências relativas aos âmbitos do saber e do saber fazer, mas também aquelas do viver junto com outros e crescer em humanidade. Existem competências como aquela de tipo reflexivo, onde se é autor responsável dos próprios atos; aquela intercultural, deliberativa, da cidadania, que aumentam de importância no mundo globalizado e se referem a nós diretamente, como também as competências em termos de consciência, de pensamento crítico, de ação criadora e transformadora” (cf. CdDC, Educar hoje e amanhã: uma paixão que se renova).
O ensino é, na verdade, “uma das atividades mais altas e criativas do homem”. O professor “não escreve sobre matéria inerte mas no próprio espírito dos homens”. E é da experiência que “as boas relações pessoais com os educadores, e entre os educadores, bem como os próprios conhecimentos, têm maior impacto na formação dos estudantes se colocados num contexto de empenhamento pessoal, de reciprocidade autêntica, de coerência de atitudes, de estilos e de comportamentos quotidianos. Por isso, nunca é supérfluo promover a ideia da escola como comunidade” (cf. CdEC, Escola no limiar do terceiro milénio).
Tirando o chapéu ao precioso trabalho de tantos professores extremamente dedicados, torno presente o apelo do Papa Francisco:
“Não desanimeis diante das dificuldades apresentadas pelo desafio educativo! Educar não é uma profissão, mas uma atitude, um modo de ser; para educar é preciso sair de si mesmo e permanecer no meio dos jovens, acompanhá-los nas etapas do seu crescimento, pondo-se ao seu lado. Dai-lhes esperança, otimismo para o seu caminho no mundo. Ensinai-lhes a ver a beleza e a bondade da criação e do homem, que conserva sempre os vestígios do Criador. Mas sobretudo com a vossa vida, sede testemunhas daquilo que comunicais. Um educador […] transmite conhecimentos e valores com as suas palavras, mas só será incisivo sobre os jovens se acompanhar as palavras com o testemunho, com a sua coerência de vida. Sem coerência não é possível educar! Sois todos educadores, não há delegações neste campo. Então, a colaboração em espírito de unidade e de comunidade entre os vários componentes educativos é essencial e deve ser favorecida e alimentada. A escola pode e deve ser catalisadora, ser lugar de encontro e de convergência de toda a comunidade educadora, com a única finalidade de formar, ajudar a crescer como pessoas maduras, simples, competentes e honestas, que saibam amar com fidelidade, que saibam levar a vida como uma resposta à vocação de Deus, e a profissão futura como um serviço à sociedade”.

D. Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco
22-09-2017

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