sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

PREPARAR A FESTA DO GRANDE ENCONTRO


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A história da criação e a história humana, com todas as suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, avanços e retrocessos, é o lugar da ação salvífica de Deus, da Sua proximidade, da Sua misericórdia e salvação: é um lugar teológico. O tempo que se aproxima é capaz de parecer um tanto amalucado. Convida-nos a altear todos os vales, a aplanar as veredas escarpadas, a endireitar os caminhos tortuosos, a fazer florir os desertos, a fazer conviver leões e cordeiros o menino e a cobra, a transformar armas de guerra em instrumentos de trabalho, de justiça e de paz. Convida-nos à vigilância, à conversão, a preparar os caminhos do Senhor. Mas que grande e feliz tarefa ele confia a todos nós, vivendo a tempo o nosso próprio tempo, mesmo que, para alguns, possa, de facto, parecer uma grande maluqueira!... O Advento é isso. É um tempo de fortes apelos dentro desse tempo que o Senhor nos dá. Um tempo por excelência para nos avivar a fé, nos escutarmos por dentro e nos ajudar a preparar para a celebração festiva do nascimento do Salvador, acolhendo-O com nobreza de atitudes e generosidade do coração. Neste percurso, porém, evocamos uma dupla vinda do Senhor Jesus: a de Belém, há dois mil anos. Mas também a Sua vinda gloriosa e definitiva no fim dos tempos. Esta Sua presença iniciada há dois mil anos no meio de nós, está em processo de crescimento até ao fim dos tempos. Um crescimento que acontece pelo testemunho de todos nós os crentes. Como afirmava Bento XVI, isto “implica que o cristão não olhe somente o que já foi e o que aconteceu, mas também o que está por vir”.
De uma maneira muito especial, o Profeta Isaías, São João Batista e Maria Santíssima, pela sua palavra e testemunho, vão ajudar-nos, através da Liturgia, a viver este tempo com profundidade, alegria e esperança. Com aquela esperança que não engana. Com aquela alegria que brota da graça de Deus em nós. E que bom seria se em todos os Lares cristãos existissem, a par da Sagrada Escritura, os verdadeiros sinais do Advento a estimular todos os membros da família à preparação para o Natal!... A Coroa do Advento a fazer lembrar a nova aliança de Deus com a humanidade. A lembra-nos a necessidade da conversão e da esperança que levam a perseverar na entrega da vida a Deus. A fazer-nos viver na alegria e na expetativa, simbolizadas também no acender, em cada Domingo, em comunidade, uma das quatro velas que apontam para a Luz do Mundo. A Árvore do Natal, que também é costume integrar-se nesta quadra, falar-nos-á como símbolo da vida, como símbolo do triunfo da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado. O Pinheirinho, de folhas sempre vivas e verdes, com bolas coloridas a enfeitá-lo, falar-nos-á da vida permanente e plena que Jesus nos oferece para que dêmos frutos de boas obras, de verdade e amor. A estrela, qual bússola orientadora, não deixará de nos indicar o caminho para chegarmos à meta. Para chegarmos a um verdadeiro encontro com Jesus e melhor sentirmos a Sua presença pelos caminhos que dão sentido à nossa vida e às coisas da vida. Mas será, com certeza, o Presépio o que muito nos pode ajudar a viver este acontecimento. O Presépio fala-nos do mistério do amor de Deus. Fala-nos da ternura, humildade, simplicidade e despojamento do nosso Deus, o Deus que se fez Menino. Convida-nos a parar, ao silêncio contemplativo e orante, à oração pessoal e familiar, tem sentido pedagógico e construtivo, é catequético.
Luz do mundo que afasta as trevas, Luz simbolizada na vela acesa, o Filho de Deus tornou-se em tudo igual a nós para nos dizer que o Pai é o Deus próximo, rico em misericórdia. O Deus que nos ama a todos a começar pelos mais desprotegidos. É o Deus que não faz acessão de pessoas e quer iluminar todas as noites no coração de cada pessoa, de cada família, de todo o mundo. Quer estabelecer a paz. Essa paz que também lhe iremos pedir, integrando-nos na iniciativa da Cáritas Portuguesa “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, um compromisso com a Paz no Mundo, a Paz em Família, a Paz entre Homens e Mulheres. Um gesto que este ano será também associado à iniciativa “Luz da Paz de Belém”, uma luz que os Escuteiros de diferentes países da Europa e de outros continentes, distribuem por toda a parte depois de, em cada ano, um rapaz ou uma rapariga austríaca, a ter acendido na Gruta da Natividade de Jesus, em Belém.
Que o Natal seja Natal! Que seja Festa! Festa autêntica, com todos os quês e acessórios indispensáveis e possíveis a uma festa! Que seja um verdadeiro encontro de família na alegria, na interação de todas as gerações, crianças, jovens e adultos, para celebrar com verdade, sem artificialismos na indiferença, mas como irmãos que se amam sinceramente, que não esquecem os pobres e os que sofrem, e sabem ser gratos para com a infinita misericórdia do Senhor que vem em missão de paz e do amor que redime e salva.
Para bem de todos, todos auguramos que este tempo de preparação não se transforme em mera feira comercial, antecipada pela avidez do lucro ou do supérfluo, de forma cansativa e a descentralizar ou a fazer esquecer a causa e o essencial da festa: o nascimento do Salvador, a verdadeira solidariedade de Deus para connosco. Se a preparação for apenas essa – e infelizmente pode acontecer! -, teremos, então, em nós, e até nas próprias famílias cristãs, uma grande pobreza interior no meio de tanta abundância de coisas supérfluas e inúteis. Sim, se o homenageado é desprezado e esquecido, que sentido terá a celebração do seu nascimento com tanta pompa e circunstância?

D. Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco
01-12-2017

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