quinta-feira, 1 de março de 2018

O que mostras és mesmo tu?!


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Fazemos parte de um desfile de máscaras, mesmo sem querermos. Fazemos de conta que nos conhecemos e cumprimentamos, alegremente, as semelhanças que julgamos ter. Não temos grande vontade de nos conhecer profundamente. Quanto menos, melhor. Quanto mais julgarmos saber sem grandes confirmações, melhor. Assim fica tudo arrumado nos seus devidos lugares. É esse o nosso grande problema. Somos demasiado arrumados e queremos arrumar os outros nas gavetas que temos. Não há ninguém tão igual a nós que possa caber nas nossas divisões, nas nossas caixas, no nosso coração. Guardamos dos outros o que nos oferecem de melhor e cuspimos o que não nos interessa ou nos faz tremer a estabilidade.

Fazemos parte de um Carnaval absurdo e vamos andando sem saber se somos as máscaras que vamos mostrando aos outros ou se, lá no fundo, ainda somos mesmo nós. Sobra-nos pouco de verdade se optarmos por disfarces de circunstância. Uma máscara para agradar aos outros, outra para quando tiver medo, outra para quando estiver a sofrer, outra para fingir que sou forte, outra para parecer que estou sempre alegre.

Talvez ganhássemos mais se nos pudéssemos ver, sempre, como somos. Talvez não fossemos tão bonitos como gostávamos de parecer mas, pelo menos, seríamos nós. Não há conforto maior do que esse. O de olhar para mim e querer ver-me. Sem a maquilhagem das aparências. Sem a superficialidade que o mundo me exige. Não há recompensa maior do que sentir que se conhece aquele com quem se está e vive. Sem o peso das expetativas. Mas… será este cenário possível?! Poderemos viver sem as nossas máscaras de segurança?! Sem aquilo que nos afasta mas, ao mesmo tempo, nos protege (tanto!) dos outros?! Parece-me que valerá a pena tentar. Se os outros não gostarem da nossa imagem verdadeira, o problema não será nosso. Nem deles. É apenas uma consequência de mostrar aquilo que se é. Haverá quem goste. Haverá quem decida não nos suportar. Paciência. Ainda assim, teremos o conforto que a transparência nos poderá oferecer. Não enganámos com uma máscara bonita e não tentámos corresponder ao que esperavam de nós. Fomos fiéis pinturas das paisagens que trazemos dentro. No dia em que deixarmos cair as máscaras ainda nos sobrará uma pergunta bastante mais difícil do que as anteriores:

Estarei eu preparado para ver o que tu és?!

E tu… Queres ver-me?!

Marta Arrais

http://www.imissio.net/artigos/49/1191/o-que-mostras-es-mesmo-tu/

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