Há relativamente pouco tempo vivemos um tempo de menor alegria. Pediu-nos a nossa fé que pensássemos sobre o sofrimento de Jesus e sobre as tormentas que se abateram sobre a sua vida. Pediu-nos a nossa fé que nos despíssemos de caprichos para contemplar a simplicidade do que é realmente importante. Claro que não poderemos nunca sentir na pele o que Jesus foi obrigado a sentir. Não está ao nosso alcance ter compaixão pelo outro a ponto de lhe sentir as feridas. No entanto, está na nossa mão querer ter essa vontade. Está ao nosso alcance simpatizar com o sofrimento daquele que, ainda hoje, inspira a nossa vida.
Jesus ter-nos-á dado inúmeras lições através dos diferentes momentos da sua vida e da sua história. Ainda assim, julgo que a maior de todas (e a mais atual) está no percurso até à Cruz.
Jesus cai pela primeira vez. Como nós. O peso do mundo às costas. O peso da sua história. O peso da sua própria vida. O peso da dor da Mãe e dos seus outros irmãos. É mais ou menos isso que nos acontece quando caímos. É sempre como se fosse a primeira vez. É como se o corpo se perdesse do nosso controlo e ficasse suspenso durante uns infindáveis milésimos de segundo. Silêncio. O embate no chão. Enfraquecidos e pequenos, tentamos recuperar-nos daquele momento. Sacode-se o que houver para sacudir e continua-se porque é assim que deve ser. No momento em que nos levantamos agimos sempre como se não estivéssemos destinados a cair outra vez.
Jesus encontra a sua Mãe. Como nós. É da Mãe que nos lembramos quando caímos. É de colo que precisamos quando caímos. Precisamos de quem nos saiba lavar as feridas e a vergonha.
Simão ajuda Jesus a levar a Cruz. E nós? Reparamos nos que caem à beira do nosso caminho? Ajudamos a levantar os que não conseguem levantar-se sozinhos?
Jesus cai pela segunda vez. Como nós. A esperança de não voltar a cair e de não voltar a sentir o corpo beijar o chão, cai por terra.
Jesus cai pela terceira vez. Como nós. Com umas quantas quedas no currículo, começamos a duvidar. Começamos a perceber que talvez estejamos destinados a repetir os tropeções e as quedas. Não é fácil cair. É duro. Não é fácil ver as cicatrizes das quedas antigas e saber que, lá à frente, vai estar outra pedra prontinha para nos pregar uma rasteira.
Não faz mal. Das quedas nasce a consciência limpa da nossa humanidade e da nossa fragilidade. E o que é que isso pode ter de bom?! Ser frágil? Ser pequeno? Perceber que não somos heróis?
Tudo.
As quedas são degraus para subir.
Saber que somos frágeis ajuda-nos a aprender a ser fortes, mas sem ser arrogantes.
Saber que somos pequenos ajuda-nos a ser grandes, mas sem acharmos que somos os maiores.
Saber que não somos heróis ajuda-nos a ser pessoas de verdade. Dessas que, na sua humanidade, são capazes de mudar o mundo.
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