sexta-feira, 20 de abril de 2018

CADA PESSOA É UM CASO É UMA HISTÓRIA


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O Instituto Politécnico de Portalegre tem, neste fim-de-semana, a Bênção dos Finalistas, a Bênção das Pastas como costuma dizer-se. Mais do que uma meta, é uma rampa de lançamento para o mercado de trabalho e para um futuro cheio de esperança, com grande júbilo de toda a comunidade académica. A Diocese de Portalegre-Castelo Branco, também neste fim-de-semana, e em Portalegre, vai constituir sacerdote um jovem na Ordem dos Presbíteros, para ir e ensinar, ao jeito de Cristo, n’Ele e com Ele. É neste ambiente de alegria e festa agradecida que vamos celebrar o Dia do Bom Pastor, que é Cristo, e o 55º Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

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No nosso Sínodo Diocesano, abordamos a sempre importante temática das vocações. É no Sínodo que me vou inspirar para reiterar aos jovens, rapazes e raparigas, que é importante e sabe bem parar, escutar e olhar. Parar, com travões suaves e seguros, travões de pé e de mão, para não se bater com o nariz nos vidros da caminhada nem se esbarrar contra uma qualquer parede a fazer partir a cabeça e a parede. Escutar, com ouvidos saudáveis e sem maleitas, sobretudo os ouvidos do coração, para ouvir bem a sinfonia do que é bom e não ser atropelado pelas trapalhadas da vida. E ver, ver sem uveítes nem cataratas, para rasgar estradas floridas e horizontes saudáveis e úteis, fazendo da vida uma verdadeira festa, de cariz pascal.
A palavra “vocação” está relacionada com “voz” e com o radical latino “vocare”, chamar. É a palavra que chama e, neste caso, é a Palavra de Deus que o faz para indicar um caminho a seguir. Quem chama, convoca e provoca. Convocar e provocar implica resposta e opção. É sempre desafiante! Mas, para o ser, reclama capacidade de escuta e tempo para discernir, é um processo de maturação contínua. É chamamento, é diálogo, é oração, é tensão interior, é perceber os sinais, é escutar, é ir intuindo como havemos de viver a vida em serviço aos outros na certeza de que é dando que se recebe. Ter vocação não é ter jeito para isto ou aquilo, embora convenhamos que também é preciso ter algum jeitinho para se não ser um desajeitado no exercício da função! Na minha área, de quando em vez, lá aparece um ou outro muito santo e competente mas sempre desengonçado, tantas vezes a fazer rir ou a enervar... Ter vocação também não é o resultado de um esforço pessoal ou do mérito desse esforço. Pode até ir contra os nossos próprios gostos, sim, que o digam alguns ilustres personagens da História da Salvação. Estritamente falando, não é uma profissão ou um emprego. Não é um privilégio face aos outros, não confere poderes extraordinários, muito menos deve dar ares de importância a quem quer que seja o quê. Não se tem vocação porque se é mais santo que os outros ou porque se está desiludido com a vida já experimentada. A vocação é um dom que se vai descobrindo através dos contextos da vida e dos contextos em que a vida se passa. É um dom que se acolhe, se recebe, se agradece, se faz frutificar com alegria e esperança. É dom e tarefa. É um acontecimento tão especial que entra no mistério do inacessível. E cada pessoa é um caso, é uma história, é ela mesma, irrepetível, mesmo que por aí possa identificar alguns sósias. Na sua Mensagem para este dia, o Papa Francisco torna presente que a vocação implica escutar, discernir e viver o chamamento do Senhor.
Aponto três grandes caminhos vocacionais, três grandes caminhos de concretização dessa opção e chamamento, desse diálogo, desse dom e resposta. Todos eles sentem a necessidade de orientar as antenas para captar bem as ondas e escutar com atenção. Todos eles reclamam oração, seriedade, maturação, responsabilidade e acompanhamento: a vocação é uma realidade mediada, sozinhos autorreferenciamo-nos com facilidade e enxergamos vesgamente. Esses três grandes caminhos são: a) a vocação ao matrimónio entre um homem e uma mulher, comunidade de vida e de amor, formando um só na alteridade e na diferença, para sempre, e abertos à vida; b) a vocação ao ministério ordenado, a ser padre, para serviço aos crentes em nome de Cristo, para ir e ensinar, aprendendo e caminhando também com aqueles que conduz e a quem ensina; c) e a vocação à vida consagrada, religiosa ou laical, uma entrega total, ficando com cabeça, coração e mãos livres para Deus e para a humanidade, para a missão. As três radicam no batismo que é a primeira e fundamental vocação que floresce e se diversifica em dons e carismas. Estes não são dados para benefício de quem os recebe, mas para solidificar e fazer crescer a vida comunitária, daí que não se devam enterrar. Isto inclui sair de si mesmo, atenção aos outros, atração pelo compromisso, sentido do serviço gratuito, valorização do sacrifício e doação incondicional de si próprio. No entanto, todos os batizados, cada um pelo seu caminho, têm vocação à santidade, seja qual for a sua condição ou estado de vida (cf. LG11). E todos são chamados também ao sublime encargo de fazer com que a mensagem divina da salvação seja conhecida e aceite por todos os homens em toda a parte (cf. AA3). Na verdade, pelo batismo, todos somos chamados à santidade e a ser bons pastores no Bom Pastor. O Bom Pastor convida cada um de nós, os batizados, a sermos pastores do Seu rebanho, com Ele e n’Ele, e ao Seu jeito. O Bom Pastor congrega, defende, conduz, cuida, alimenta o seu rebanho. Sejamos bispos, padres ou diáconos, profissionais da saúde ou empresários, operários ou funcionários, professores ou prestadores de outros nobres serviços à sociedade, na política ou na economia, nas artes ou nos ofícios, em tudo quanto seja contribuir para o progresso justo e sustentável, casado ou solteiro, pai ou mãe, jovem ou adulto, ninguém se deveria esquecer que Jesus, o Bom Pastor, a todos nos convoca à santidade e a todos nos confia a sublime missão de sermos Suas testemunhas, testemunhas qualificadas e comprometidas na própria vocação, quer seja no matrimónio, quer - quem sabe? nunca é tarde e nada é impossível! -, quer seja no ministério ordenado ou na vida consagrada, religiosa ou laical, quer seja permanecendo solteiro porque se entende que não se tem vocação nem para o matrimónio, nem para o ministério ordenado, nem para a vida consagrada. Não porque se tenha medo de responder positivamente, não porque se queira fugir a responsabilidades, não porque se deseja viver a vida de forma leviana e descomprometida, não porque se queira ficar solteirão ou solteirona, mas porque, depois de tudo considerar, rezar e ponderar, se entende que o caminho e a melhor forma de servir a comunidade humana é permanecer solteiro, doando a própria vida, com exigência e dedicação contagiante. Por tantos lados, estas pessoas assim disponíveis, são a alma das comunidades, a sua referência e o seu motor. E o mais engraçado de tudo isto é que ninguém tem nada com isso. Todos devemos respeitar as opções devidamente ponderadas dos outros, estimular e ajudar a que sejam muito felizes ajudando os outros a sê-lo também. Cada um é o que é. A nossa pessoa é o que somos e o que vamos aprendendo a ser.
As famílias são o espaço privilegiado da formação humana e cristã. Elas constituem a primeira e melhor escola não só para o desabrochar de vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada, mas também a que tenhamos muitas e santas vocações à vida matrimonial. Há famílias inteiras, pais e filhos, que também saem em missão para países estrangeiros. É a força da Palavra escutada, discernida e vivida! Uma jovem família da cidade de Castelo Branco, o casal e os seus oito filhos ainda menores, saíram em missão evangelizadora, estão no Vietnam, há já alguns anos.
“A Messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da Messe, que mande operários para a Sua Messe” (Mt 9, 37-38).

D. Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco
Portalegre, 20-04-2018.

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