Temos razões para ter medo. Temos todos os motivos do mundo para ter medo. Não é fácil lidar com tudo o que nos arrebata e afasta do caminho certo.
Temos razões para ter medo. A vida sabe ser terrível e muito injusta. Sabe trazer-nos a morte quando acreditávamos que ia correr tudo bem. Que seríamos testemunhas de um final feliz.
O medo parece andar de mãos dadas connosco. Não se compadece das nossas tentativas de o desacorrentar da nossa pele e dos nossos dias. Fez casa em nós e empenhou-se na decoração daquilo que trazemos cá dentro. As nossas gavetas e as nossas divisões estão sujas de um medo que não se consegue limpar nem lavar.
O medo atrofia. Faz-nos reparar melhor na escuridão e faz-nos dedilhar músicas mais tristes.
O medo cose-nos o coração com linhas de força suprema e, ainda assim, sobrevivemos. Avançamos. Atravessamos a maré com a coragem de quem sabe que não navega sozinho.
É essa a vantagem e o lado bonito do medo: a companhia.
Perante o medo da morte, estamos juntos.
Perante o medo da tristeza, estamos juntos.
Perante o medo da desilusão, estamos juntos.
Perante o medo de ir ao fundo, estamos juntos.
Talvez seja esta a lição que mora em todas as coisas terríveis e tristes que nos acontecem: há sempre uma luz que nos faz brilhar outra vez. Há sempre a esperança do fim da tempestade. Há sempre a promessa de uma mão capaz de nos conter as escuridões.
Por maior que seja o medo, é maior a esperança.
Por maior que seja a treva, é maior a luz.
Por maior que seja a mágoa, há de ser maior a alegria.
Por maior que seja a noite, amanhã há de nascer um dia novo só para ti.
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