sexta-feira, 27 de abril de 2018

A SANTIDADE DE AO PÉ DA PORTA



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Acaba de sair a público a Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, “Alegrai-vos e Exultai”. É do Papa Francisco, faz “ressoar mais uma vez o chamamento à santidade, procurando encarná-lo no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades”, encoraja a que também nós saibamos correr “com perseverança a prova que nos é proposta”. Não devendo pensar “apenas naqueles que já estão canonizados ou beatificados”, o Papa convida-nos a olhar para o pé da porta e a reconhecer esse incontável número de testemunhas que, não estando nos altares, “já chegaram à presença de Deus”, e, agora, santos entre os santos, nos “protegem, amparam e acompanham”. São eles que nos incitam e estimulam a correr, “cada um pelo seu caminho”, para a feliz meta da santidade. Esta, a santidade, é “o rosto mais belo da Igreja” e, entre os santos, recorda o Papa, “podem estar a nossa própria mãe, uma avó ou outras pessoas próximas de nós” que, “mesmo no meio de imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor “. Através dos “pequenos gestos” de cada dia, cada um há de trazer “à luz o melhor de si mesmo”, sem se deixar resignar “com uma vida medíocre, superficial e indecisa”. Há uma dinâmica popular na qual o Senhor nos revela “verdadeiros sinais de santidade” e para os quais Francisco nos chama a atenção: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da “classe média da santidade”.
E reafirma Francisco: todos “somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais”.
Para além de outros, o Papa não deixa de denunciar dois subtis inimigos da santidade: o agnosticismo e o neoplagianismo. O agnosticismo atual que “supõe uma fé fechada no subjetivismo”, “quer domesticar o mistério, tanto o mistério de Deus e da sua graça, como o mistério da vida dos outros”. Pretende “reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura” e prefere “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo ". O outro inimigo é o neopelagianismo que «no fundo, só confia nas suas próprias forças e sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico». O poder que os gnósticos atribuem à inteligência, os neopelagianos querem atribuí-lo à vontade. “No fundo, a falta dum reconhecimento sincero, pesaroso e orante dos nossos limites é que impede a graça de atuar melhor em nós, pois não lhe deixa espaço para provocar aquele bem possível que se integra num caminho sincero e real de crescimento”. Pessoas que enveredam por aí “não se deixam guiar pelo Espírito no caminho do amor”, complicam o Evangelho e tornam-se “escravos de um esquema que deixa poucas aberturas para que a graça atue” A corrupção espiritual “é uma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade”. É, porém, nas Bem-aventuranças que “está delineado o rosto do Mestre que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida” e a que o Papa nos apela: ser pobre no coração; reagir com humilde mansidão; saber chorar com os outros; buscar a justiça com fome e sede; olhar e agir com misericórdia; manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor; semear a paz ao nosso redor; abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas. A firmeza, a perseverança, a paciência, a mansidão, a alegria e o sentido de humor, a audácia e o fervor são caraterísticas da santidade no mundo atual. O Documento acentua que o caminho da santidade, “fonte de paz e de alegria que o Espírito nos dá”, deve ser vivido em comunidade, para se vencer o mal do egoísmo e do isolamento. Apela também à luta, à vigilância e ao discernimento, pois “não se trata apenas de uma luta contra o mundo e a mentalidade mundana, que nos engana, atordoa e torna medíocres sem empenhamento e sem alegria. Nem se reduz a uma luta contra a própria fragilidade e as próprias inclinações (…) é também uma luta constante contra o demónio, que é o príncipe do mal”.
Não deixe de ler esta Exortação do Papa Francisco, tão simples na linguagem e de agradável leitura.

D.Antonino Dias Bispo de Portalegre Castelo Branco
Oleiros, 27-04-2018.

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