LER AO SOM DE:
Eu vou cá estar. Disse um dia alguém que não tinha mãos a medir para o amor. Dava sempre mais do que o que tinha. Endivida-se por entre abraços que acolhem. Deixava crescer a sua conta de créditos em olhares capazes de renovar vidas. Colocava juros em toda a terra. Apostava tudo em terrenos secos e cobertos de pedregulhos, mas fazia-os render sempre muito mais do que qualquer outro.
Eu vou cá estar. Nem que isto fosse a última coisa que ele fizesse: ficar para todo o sempre! Dizia-o de forma convincente. Era mais do que uma promessa. Era uma dádiva inteira e permanente. Uma entrega total que não deixa que nada, nem ninguém lhe faça retirar a sua presença.
Eu vou cá estar. E, repetindo para si e para todos os que o acompanhavam, foi deixando crescer a semente da sua vida plantando-a nos corações. Ele bem sabia que só ali poderia germinar tudo aquilo que dizia e que era. Só ali, naquele pequeno espaço, poderia crescer e concretizar-se a frase da sua existência. Então saiu. Partiu sem demoras a escutar todos os batimentos que lhe chegavam. Olhou como ninguém e deixou-se entranhar pela humanidade sentindo bem de perto a complexidade da fragilidade.
Eu vou cá estar. E não importava para ele perder-se nas nossas perdas. Não lhe interessava, num combate corpo a corpo, dar-se de corpo inteiro. Era-lhe, isso sim, tremendamente importante ser colo de tantos rostos e esperança viva em tantos desesperos.
Eu vou cá estar. Tal como ontem o testemunhou, tal como o hoje o sentimos e tal como amanhã o esperamos e lhe confiamos!
Hoje, concentra-te em toda a tua vida e pergunta-te: quantas vezes deixaste que Ele te desse colo? Quantas vezes deixaste que Ele te agarrasse?
Emanuel António Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado