segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Se os outros são maus, tenho de ser bom?!

 


O que é que fazemos quando alguém, que está por perto, tem uma atitude péssima e reveladora de mau carácter?

 

O que devemos dizer a uma pessoa que prefere prejudicar os outros para ficar bem em todas as fotografias?

 

Até que ponto é desejável ignorar alguém que se gaba das maldades e mesquinhices que vai espalhando enquanto passa?

 

Há vários tipos de respostas a estas questões. Vários tipos de caminhos. Quase nenhum deles é fácil ou milagroso o suficiente para apagar a capacidade que alguém tem de fazer mal. De preferir não amar.

 

A primeira opção é a de ignorar. Eu vejo que alguém está a ser prejudicado e, ainda que compreenda o que está a acontecer, calo-me. Baixo a cabeça. Finjo que não vejo e, às vezes, até sou capaz de atirar um sorriso ao de leve, para não me comprometer e para não me antipatizar com aquela pessoa.

 

No entanto, o perigo de ignorar (essa e qualquer outra atitude) é muito claro: se eu ignoro não estou a protestar, não estou a dizer que não concordo, não estou a mostrar a minha opinião em relação ao assunto. Assim, de alguma forma, estou a validar o que alguém fez ou decidiu fazer (ainda que não me sinta bem com isso).

 

A segunda opção possível é a de mostrar à pessoa que reparámos no que ela fez. Dizer algo leve o suficiente para ser subtil, mas claro o suficiente para ser “eficaz”. Talvez lançar uma pergunta desafiadora… ou deixar uma pergunta no ar:

 

“Não sejas assim. Já viste se eu te fizesse isso a ti? Como é que tu ficavas?”

 

Se eu conseguir “cortar” o eco da atitude da pessoa que a protagoniza, vou desarrumá-la por um instante. Fazê-la pensar. Recuar. Colocá-la no lado de lá.

 

Claro. É muito mais fácil optar pela primeira opção e não ter problemas. Mas a segunda opção terá mais frutos. Mais flores. Mais resultados futuros. Não sejamos hipócritas. Sabemos que nem sempre teremos a disponibilidade mental para “obrigar” os outros a pensar no mal que estão a fazer. Muitas vezes, seremos tentados a pensar: se ele ou ela fazem isto tudo e não têm consequências ou não são chamados à atenção, tenho eu que ser exemplo? Não me parece justo. Além disso, esse raciocínio vai fazer-nos justificar as maldades que fizermos depois.

 

Qual é o caminho, então?

 

Ser o avesso da maldade. Ser exatamente o oposto do que a maioria vai escolher, por ser mais fácil.

 

Se os outros são maus, tenho de ser bom?

 

Tenho. Tens. Temos.

 

Do bem é que nasce tudo.


Marta Arrais

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