terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Ainda não percebeste que isto é a guerra?



Ainda não percebemos que vivemos tempos de guerra. Catástrofe. Dor. Vida e morte. Decisões impossíveis. Quem arrastamos connosco e quem deixamos cair? Quem levamos ao colo e de quem desistimos? Quem salvamos e quem arriscamos?

Sabes lá tu responder a estas perguntas. Sabemos lá nós.

No entanto, há quem tenha de saber. Há quem tenha de responder a estas, e a outras inimagináveis perguntas, a cada dia. A cada hora. A cada minuto.

E que me diz isso a mim?

Pelos vistos, nada. Continuo a ver-te (e a ver-nos) a assobiar para o lado. A viver a nossa vidinha de pessoas carentes de compaixão. Continuo a ver-te (e a ver-nos) a acreditar que o covid é uma invenção. Um exagero. Uma desmesura.

Será que queremos comprovar, a todo o custo, que só compreendemos aquilo que rasga a nossa pele? Será que só subiremos os nossos níveis de empatia pelo próximo, pelo bem comum, pela vida alheia, quando virmos que a guerra também nos leva os nossos? Também toca nos nossos?

Por mim já chega. Abreviamos a história, corremos as páginas de fio a pavio e vamos já espreitar o fim. Mas enquanto o fim não (nos) chega, como é que se fica? Como é que se lida com isto?

Sabes lá. E sabemos lá o que fazer com esta granada que nos mora no peito em vez do coração.

Enquanto não rebentamos, e enquanto ainda podemos, que se faça silêncio. Que se calem todos para que possamos ouvir a nossa própria voz. O nosso próprio instinto. Dizem que o apelo à sobrevivência é maior que tudo.

Já ouves agora?

Devíamos ter feito melhor. Tão diferente. Mas deixámos tudo entregue às “pessoas” que nunca souberam respeitar nada nem ninguém. Deixámos a nossa vida entregue às pessoas egoístas. Aos que não querem ser contrariados. Aos mimados. Aos que estacionam em segunda fila e ainda refilam com quem os repreende. Aos que passam à frente nas filas. Aos que preferem deixar-nos caídos do que dar-se ao trabalho de nos levantar. Deixámos isto entregue aos que não querem saber. Aos que pouco se importam.

Estavam à espera de quê? De milagres?

Marta Arrais


Sem comentários:

Enviar um comentário

Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado