terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Eis-nos no Novo Ano…
Eis-nos no quinto dia de 2021. Espero encontrar-vos ainda com o propósito dos votos feitos para este ano. Sim, vi tanta alegria com o final de 2020, o ano horrível…
Pois, não concordo. E são diversas as razões. Permitam-me iniciar a exposição com a partilha de uma pequena reflexão feita pelo padre João Aguiar Campos ao fim da primeira meia hora do novo ano:
"Depois de um ou dois minutos vistos à janela, o tempo é igual: automáticos, os calendários têm outros números, mas o céu é o que era e o chão também. Será novo apenas o que renovarmos e se nos renovarmos!..."
É verdade que em 2020 muitos sonhos e projetos ficaram em suspenso ou foram mesmo cancelados, mas a verdade é que a vida não foi cancelada. De todo! A vida continua depois das 24 badaladas. A nossa vida! A vida de cada um em particular! Nós é que temos de mudar! Cada um de nós é que tem de corrigir a direção que quer dar à sua vida.
É verdade que com a pandemia perdemos a alegria de ter coisas combinadas com antecedência: encontros, jantares e almoços, viagens e férias; abraços e beijos, carícias e cumprimentos… Com tantas medidas restritivas, quase já nem nos lembramos do que é o toque que gera empatia num cumprimento entre amigos, do beijo que aproxima pais, avós ou amados… Tudo isto passou a ser uma felicidade esporádica e atenta porque tudo tem de ser controlado, escrutinado, porque nos preocupamos com o bem estar do outro…
Na verdade, é impossível esquecer 2020, que nos apanhou desprevenidos e não preparados, atordoados pelo torpor existencial. Este ano, definido por muitos como fatal, horrível, para esquecer, teve o mérito de nos ter despertado desta sonolência para aprender a lidar com a dura realidade que é a nossa fragilidade humana. Teve o mérito de convidar-nos a procurar dar uma nova orientação à vida pessoal, social e até eclesial.
Visivelmente positivo e intrinsecamente bom: pobres e doentes, perdidos e confusos, elevamos o olhar ao céu, invocando a ajuda divina como única âncora de salvação; perante o desvanecimento dos nossos sonhos de omnipotência, descobrimo-nos pobres, feridos, incapazes de ser o suficiente para nós mesmos, necessitados de nossos irmãos e da ajuda do Senhor. Espontaneamente invocamos o Senhor como os discípulos durante a tempestade: "Senhor, salva-nos".
E esta presença de Deus assumiu o rosto concreto da solidariedade e da proximidade, informal ou organizada, de tanta gente empenhada em ajudar as pessoas que vivem sozinhas e as famílias em dificuldade; no compromisso concreto dos jovens que arregaçaram as mangas e se empenharam onde a necessidade era maior. Na dedicação de médicos, enfermeiros e auxiliares da ação médica, bombeiros e tantos mais…
Não! 2020 não foi assim tão mau. Foi uma aprendizagem, tal como 2021 continuará a ser, se assim quisermos aproximar mais de Deus e do Ser Humano.
Votos de um Bom Ano de renovamento pessoal e comunitário.
Paulo J. A. Victória
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