sábado, 23 de janeiro de 2021

Amar em tempo de Covid … e aceitar o outro como ele é





Por vezes sinto que o mundo está a acabar. Não sou a única. Tenho amigos que sentem o mesmo. A banda desenhada torna-se realidade. Não sinto medo de morrer. Sei que vai acontecer, mas não me preocupo com quando será. Será quanto tiver de ser. Por vezes até me apetece “dar o corpo às balas” e fazer algo de útil para proteger todos aqueles que precisam de ser protegidos. Mas não sou médica, não sou enfermeira e a única forma de ajudar é isolar-me. Só isolando posso, ao menos, não passar a ninguém aquilo que ninguém quer, e aquilo que pode ser fatal para aqueles que amo. Só cumprindo as regras é que sinto que estou a fazer algo de útil. Já que nada mais sei fazer. E fico irritada quando os outros não as cumprem. Fico mesmo cega de irritação, porque acho que não estão a amar verdadeiramente o outro … como eu amo … ao ponto de confundir a minha necessidade de utilidade com a dos outros. E cada um é livre.

Tanto isolamento tolda o juízo. Conjugado com incertezas várias sobre um futuro incerto e com os obstáculos do passado que teimam em estar presentes, a mente fica baça, o pensamento rotativo e rapidamente a minha realidade é uma fantasia criada na minha cabeça. Leio o esforço do outro como pouco face à rotatividade do meu pensamento, e fico com um medo autoritário embrulhado na minha fantasia de fim do mundo, onde eu sou insignificante, não fazendo parte o elenco principal ou da “linha da frente” sentindo-me assim, inútil. E o medo também tolda o juízo.

E com o juízo toldado, não há realidade que valha, sendo necessário que o outro dê um grito de realismo e de relativismo, para que eu consiga acordar desta fantasia que também surge de noites sem dormir, sempre em alerta com medo de perder o que tanto se sonha ter: um futuro em harmonia, consciente, simples e sem preconceitos.

Comecei 2021 a dizer “que 2022 venha depressa”. Comecei 2021 sem querer passar por ele. Vai ser duro. Está a ser muito duro. A exaustão leva ao conflito. O juízo toldado vai-nos cegar as ideias e os pensamentos. Rapidamente podemos entrar em conflito, perder o equilíbrio e ampliar algo que apenas careceu de um relativismo. Tudo passa. Até o Covid, como o temos hoje, irá passar.

Temos de aprender a amar em tempo de Covid. Aceitar o outro como ele é e tentar sempre estar à altura das situações. E quando não o conseguirmos fazer, devemos pedir perdão e ser perdoados. Só com este bom senso genuíno e de coração conseguiremos ultrapassar os desequilíbrios, ruturas, egoísmos, medos que os próximos meses nos vão trazer. Somos humanos. Vamos errar muito, e precisamos de reconhecer o erro e ser perdoados. Só assim é possível caminharmos juntos, para um futuro melhor.

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