sábado, 5 de março de 2022

Para quê tudo de novo?



Para quê tudo de novo? De que vale fazer um caminho que já se conhece? De que vale percorrer uma história em que já se sabe qual será o seu final?

Tem sido este o meu questionamento sobre os tempos litúrgicos e em especial sobre a Quaresma que agora iniciamos. Percorremos mais um tempo de introspecção. Um tempo onde nos é pedido que caminhemos sobre o que somos e o que temos para dar aos outros.

Mas nada disto é novo. E o final já o sabemos há muito. Mesmo que agora tudo pareça sombrio sabemos que no fim reinará a Luz. Em nós e por nós.

Então de que serve toda esta repetição? Estou certo que terá dois propósitos.

O primeiro, o mais simples, e espero que não seja simplista, é de que a nossa vida é toda ela uma verdadeira Quaresma. Sim, uma Quaresma. Não que seja sombria e vivida em penitência, mas porque somos caminhantes. E o simbolismo mais forte que temos na Quaresma e que se assemelha à nossa vida é a de nos sabermos caminhantes. A de sabermos que não estamos terminados e que não há nada em nós que não possa ser reconstruído.

O segundo propósito de toda esta repetição é a de conseguirmos dar valor ao acontecimento e descobrirmos novidade no Evangelho e em nós. Caminharmos de novo por entre os diferentes tempos litúrgicos e em especial a Quaresma dá-nos a possibilidade de descobrirmos as nossas sombras para que no Domingo de Páscoa tudo em nós possa ser Luz. Para que tudo em nós possa reluzir de um amor que nos transforma.

Repetimos. Para que não voltemos ao mesmo.
Repetimos. Para que nada em nós se perca.
Repetimos. Para que não voltemos a ser os mesmos.

Contraditório à primeira vista, mas esta é a realidade e a proposta dos tempos litúrgicos: repeti-los para que possamos ser Páscoa.


Emanuel António Dias



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