domingo, 31 de julho de 2022

O Rico Insensato

 


A liturgia deste domingo questiona-nos acerca da atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida; e convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.
No Evangelho, através da “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma vida voltada apenas para os bens materiais: o homem que assim procede é um “louco”, que esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência. O que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a deificação da riqueza. Até alguém que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar neles o seu interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamental”.
Na primeira leitura, temos uma reflexão do “qohélet” sobre o sem sentido de uma vida voltada para o acumular bens… Embora a reflexão do “qohélet” não vá mais além, ela constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para encontramos aí o sentido último da nossa existência. A reflexão do “qohélet” convida-nos a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança em coisas falíveis e passageiras. Quem vive, apenas, para trabalhar e para acumular, pode encontrar aí aquilo que dá pleno significado à vida? Quem vive obcecado com a conta bancária, com o carro novo, ou com a casa com piscina num empreendimento de luxo, encontrará aí aquilo que o realiza plenamente? Para mim, o que é que dá sentido pleno à vida? Para que é que eu vivo?
A segunda leitura convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o Homem Novo, que é “imagem de Deus”. Convém não esquecer que a construção do “Homem Novo” é uma tarefa que exige uma renovação constante, uma atenção constante, um compromisso constante. Enquanto estamos neste mundo, nunca podemos cruzar os braços e dar a nossa caminhada para a perfeição por terminada: cada instante apresenta-nos novos desafios, que podem ser vencidos ou que podem vencer-nos.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 30 de julho de 2022

Canadá: Papa pede que se «prossiga na busca da verdade» e reconciliação com povos indígenas

Francisco deixa Quebeque, reforçando caráter «penitencial» da sua viagem


O Papa encerrou hoje a sua passagem pelo Quebeque, no Canadá, reforçando os apelos em favor da reconciliação e da “busca da verdade” na relação da Igreja com os povos indígenas.

“Vim como peregrino, com as minhas limitadas possibilidades físicas, para dar novos passos em frente convosco e para vós: para que se prossiga na busca da verdade, progrida na promoção de percursos de cura e reconciliação, para que se continue a semear esperança”, declarou, numa audiência com representantes dos povos nativos, na sede da Arquidiocese do Quebeque.

A poucas horas de deixar o Canadá, Francisco sublinhou a “imensidão do caminho de cura e reconciliação” que as duas partes procuram percorrer, como sublinha o mote da visita apostólica, ‘Caminhando juntos.

Vim ao Canadá como amigo para me encontrar convosco, para ver, ouvir, aprender e apreciar como vivem as populações indígenas deste país. Não vim como turista: vim como irmão, para descobrir pessoalmente os frutos bons e maus produzidos pelos membros da família católica local, no decurso dos anos”.

O Papa sublinhou o “espírito penitencial” da viagem, destinada a “manifestar o pesar” pelo mal que muitos católicos causaram, “apoiando políticas opressivas e injustas” contra os povos indígenas.

“Próximo da conclusão desta intensa peregrinação, quero dizer-vos que, se já vinha animado por estes desejos, volto para casa muito mais enriquecido, porque levo no coração o tesouro incomparável feito de pessoas e populações que me marcaram”, acrescentou.

Francisco falou do impacto que teve, em si, o contacto com a realidade indígena.

“Ouso dizer – se mo permitis – que de certo modo, agora, também eu me sinto parte da vossa família e disso me sinto honrado”, referiu.

O discurso evocou várias figuras femininas da história da Igreja Católica como inspiração para “compor, voltar a tecer uma reconciliação que garanta os direitos dos mais vulneráveis e saiba olhar a história sem rancores nem cancelamentos”.

“Que Elas abençoem o nosso caminho comum, intercedam por nós e por esta grande obra de cura e reconciliação tão agradável a Deus. De coração vos abençoo. E peço-vos, por favor, que continueis a rezar por mim. Obrigado”, concluiu.


Foto: Vatican Media


Foto: Vatican Media

Após a breve intervenção do Papa, vários dos presentes cumprimentaram Francisco; três mulheres levaram, simbolicamente, os berços em que, tradicionalmente, transportavam os bebés.

Francisco embarga agora num voo de mais de 2 mil quilómetros e 3 horas até ao território de Nunavut, cerca de 300 quilómetros o sul do círculo polar ártico, que alberga a maior comunidade Inuíte.

A viagem iniciada no domingo, que passou por Edmonton e o Quebeque, encerra-se com uma audiência privada a sobreviventes das escolas residenciais e um encontro dedicado a crianças e idosos, numa escola primária.

A partida para Roma acontece pelas 18h45 locais (23h45 em Lisboa) e a chegada à capital italiana está prevista para as 07h50 de sábado (06h50 em Lisboa).

OC

Quebeque, 29 jul 2022 (Ecclesia)

sexta-feira, 29 de julho de 2022

ACANAC - 18 MIL NA CIDADE DA LONA

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De um a sete de agosto vai decorrer, nesta nossa Diocese de Portalegre-Castelo Branco, mais propriamente no Campo Nacional de Atividades Escutistas – CNAE -, na Quinta do Monte Trigo, concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, o 24º Acampamento que a Junta Central do Corpo Nacional de Escutas – CNE – promove. Embora tenha capacidade para 25 mil pessoas, este ano, o Acampamento Nacional – ACANAC - vai acolher, nesta urbe altamente ecológica, cerca de 18.500 Escutas. Não só portugueses, também gente de 24 países, incluindo 50 ucranianos, lê-se nas notícias de divulgação. Para além de promover a terra, a população do concelho aumenta cerca de 117% ao longo da semana. O evento será, como sempre, uma feliz aventura em sã convivência. Há propostas educativas, atividades diversas, reveem-se amigos, conhecem-se pessoas, geram-se mais amizades. Todos se envolvem, crescem, aprendem, ensinam, fazem coisas, nem sempre fáceis mas sempre úteis. Os Dirigentes, sem serem pai ou mãe galinha, são “a mão que apoia, o ouvido que escuta, a voz que aconselha”. Importante é que todos façam o favor de serem felizes. O viver e governar-se dentro deste formigueiro atarefado, criativo e traquina, mas exigente e disciplinado como convém a jovens que amam a vida e se treinam na sabedoria e arte do bem viver, implica também a boa gestão dos parcos orçamentos pessoais. Há muita coisa nos bares e mercados que, embora boa e apetecível, dela não se precisa nem se pode precisar. Bem gerir as economias é um dever pessoal e de solidariedade social....
Para quem não sabe, este Campo Nacional de Atividades Escutistas, em Idanha-a-Nova, tem 78 hectares. Fica perto da vila de Idanha-a-Nova, do santuário da Senhora do Almurtão, da Barragem do Marechal Carmona, não longe da Barragem de Toulica e circundada de terras turísticas com interesse histórico, cultural e paisagístico. A propriedade foi adquirida pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova e cedida em regime de direito de superfície ao Corpo Nacional de Escutas por 50 anos. Álvaro Rocha era o Presidente da Câmara Municipal, Joaquim Soares o Vereador sempre presente nos trabalhos seguintes. Afetado pelos incêndios de 2001 e 2003, o terreno foi reflorestado com o apoio da empresa "Bayer Cropscience" em parceria com os serviços da Câmara Municipal e os próprios escuteiros, assim era noticiado. Foram abertas, pela Engenharia Militar, estradas e plataformas indispensáveis. Com o apoio da Câmara Municipal e também dos serviços regionais do Ministério do Ambiente, criaram-se, e vão-se aperfeiçoando, infraestruturas de sombreamento, de água, de eletricidade, de combate a incêndios, algumas destas estruturas a título definitivo. Antes, os acampamentos nacionais, que eram sempre realizados em matas nacionais ou quintas particulares, exigiam montagem e desmontagem das infraestruturas em cada acampamento: uma trabalheira de suar a camisa e escoar os bolsos! Este Campo foi inaugurado, com pompa e circunstância, em 1 de agosto de 2007. Para além das atividades que ciclicamente aqui se vão promovendo, já se realizou neste Campo o ACANAC de 2007, o de 2012, o de 2017, seguindo-se agora o de 2022 sob o imaginário “Construtores do Amanhã”, naquela consciência de que, conhecendo o passado, o “Hoje será sempre o dia para construir um novo amanhã”! Este acampamento também é vivido dentro do contexto dos 100 anos do Corpo Nacional de Escutas, que celebraremos em 2023. O movimento escutista continua a ser “uma brincadeira muito séria”, um “jogo sedutor, divertido e interessante”, que, no respeito pelos treinadores, jogadores e regras do jogo, favorece a educação integral. É uma proposta de desenvolvimento sustentável com impacto na cidadania da polis e na cidadania do Reino para onde todos convergimos. O ACANAC, que se vem realizando desde 1926, tem variado a sua periodicidade, já foi de quatro em quatro anos, tem sido agora de cinco em cinco.
Nestes dias estão a ser montadas cerca de 3.500 tendas, dois supermercados de mil metros quadrados cada um, dois refeitórios para 60 mil refeições num total de cerca de 333 mil durante a semana, seis bares, um campo náutico, um campo aventura, um hospital de campo com quatro enfermarias, uma arena para 22 mil pessoas, uma zona central para exposições das Regiões e não só. Enfim, todas as infraestruturas julgadas necessárias para bem estar e agir. Os cidadãos da polis dividem-se em pequenos grupos, por faixas etárias: os Lobitos, dos 6 aos10 anos; os Exploradores, dos10 aos 14 anos; os Pioneiros, dos15 aos 18, e os Caminheiros, dos 18 aos 23 anos. Todos vivem integrados nas suas equipas dentro das suas seções, tendo atividades organizadas e coordenadas de acordo com as suas idades.
Também existe uma Capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima, inaugurada em 2017, no 23.º acampamento nacional, com mais de 22 mil escuteiros. O casal de arquitetos, Pedro Ferreira e Helena Vieira, antigos escuteiros, inspirados na sua própria experiência escutista, com “a vida ao ar livre, o acampamento, a tenda, a sobriedade e simplicidade das construções e estilo de vida”, sonharam e concretizaram o edifício, onde não falta a alusão ao lenço escutista, símbolo da promessa e do compromisso neste movimento, bem como não falta o panorâmico enquadramento, a luz, a água, o silêncio e a junção de outros elementos que favorecem o recolhimento para escutar Deus, a Natureza e os Outros com os olhos e os ouvidos de coração agradecido. A Capela tem sido tema de publicações e distinguida com prémios nacionais e mundiais de design e arquitetura.
As atividades podem ser acompanhadas nas redes sociais do CNE – “escutismo” em qualquer plataforma – onde serão partilhados vídeos diários, este ano com a novidade de terem “uma espécie de telejornal, feito pelos voluntários, com notícias do campo”.
D. Antonino Dias . Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 29-07-2022.

Que a tua esmola sejas tu




Quanto tens em abundância, deves partilhar com quem tem pouco ou nada. Assim é com os bens materiais, mas também com os talentos de cada um de nós. Não se trata de educação, simpatia ou generosidade, é uma obrigação.

Se nada tiveres, mais do que uma palavra ou um sorriso, podes e deves dar do teu tempo, que sendo da tua vida, talvez não seja para ti!
 
Quanto mais pobre fores, maiores são as tuas esmolas. E se o fizeres com alegria, é certo que ganharás o céu.
                                         
Também cada um dos teus dias é uma esmola que te esqueces de agradecer. Dá a tua vida. Dá-te como esmola. Assim a recebeste, assim a deves dar, sem julgar a quem deves ou não dar… a chuva e o sol, as árvores e o mar tratam todos por igual.

Não sejas ingrato, não te queixes da ingratidão dos outros. O mais importante é a boa ação, não a forma como é recebido ou devolvido. Aliás, se a ação esperar algo em troca, então não tem a pureza de uma ação boa. Dá em segredo.

Alguns ricos revelam a sua pobreza espiritual de cada vez que tentam que os outros lhe deem a esmola da sua inveja. A vaidade é sinónimo de inferioridade.

O que aconteceria se desses tudo o que, sendo teu, não usas e não consideras importante? Ficarias mais pobre ou mais rico?

Sê humilde, se colocares o teu coração no mais baixo, elevarás a tua oração ao mais alto.

A nossa existência é semelhante à do mendigo que estende a mão a quem passa… mantendo a esperança acesa, apesar de tantos que passam e nem sequer olham. Alguns olham, outros olham e dão, outros olham, dão e tocam-nos na mão… outros ainda, olham e dão-nos a sua mão.

Que a tua vida seja um pedaço de amor que se cumpre em ações concretas, faz-te próximo e cuida daqueles que tanta gente nem quer ver.


José Luís Nunes Martins


quinta-feira, 28 de julho de 2022

Um dia houve alguém que sonhou




Um dia houve alguém que sonhou. Sonhou que a Sua Palavra tocaria os simples e incomodaria os que se sentiriam intocáveis. Sonhou que na Sua mesa não faltaria pão e vinho para os que lhe procurassem de coração humilde e com toda a sua inteireza.

Um dia houve alguém que sonhou. Sonhou que jamais existiria divisão entre puros e impuros. Sonhou que todas as Suas palavras eram escutadas por quem tem sede e fome de amor. Sonhou que poderia deixar entregue o Seu Reino a uma só Igreja. Uma Igreja que se importaria mais com a humanização dos gestos do que com a verbalização das doutrinas.

Um dia houve alguém que sonhou. E para isso deu a conhecer um Pai com entranhas de Mãe, porque só quem sonha consegue ver e praticar a misericórdia. Sonhou com a certeza de que a compaixão conseguiria erguer tantos e tantas. Dando-lhes a possibilidade de poder recomeçar vezes sem fim e de poderem regressar a casa em festa.

Um dia houve alguém que sonhou. Sonhou elevar a Sua humanidade para que ninguém pudesse duvidar da Sua divindade. Sonhou que o Seu olhar daria a alegria de se saberem amados. Sonhou que o Seu toque daria a felicidade de se saberem erguidos. Sonhou que todos e todas pudessem sentir-se ovelhas do mesmo rebanho, não por intimidação, mas por reconhecerem o seu amado.

Um dia houve alguém que sonhou. E não descansou enquanto não deixou tudo planeado. Não desistiu enquanto não transmitiu tudo àqueles que O seguiam. Porque Ele bem sabia que o Seu sonho não era coisa para ficar dentro de Si. Ele bem sabia que tinha de se cumprir para que o Mundo jamais ficasse na mesma.

Um dia houve alguém que sonhou. Sonhou mais alto do que todos os homens e mulheres e para que o Seu sonho ganhasse forma teve de o concretizar com a Sua vida. Por inteiro. Doando-se sem medidas.

Um dia houve alguém que sonhou e por isso amou.


Emanuel António Dias

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Vive a tua vida!


Ocupamo-nos demasiado da vida dos outros. Vivemos para nos comparar com o que os outros fazem, com os carros que os outros têm, com as casas bonitas que compraram, com as famílias perfeitas que aparentam ter, com os empregos de sonho que conseguiram, com as férias paradisíacas publicadas no instagram.

Enquanto nos vamos comparando e julgando à luz do que cremos que os outros são, estamos a viver mal e a viver pouco. Estamos, mais ainda, a viver uma ilusão que nos deixa infelizes e desanimados.

A comparação e o desejo de ter isto ou aquilo que o outro tem é inevitável, mas a vida alheia não pode ser premissa para a nossa própria vida. A verdade é que, muitas vezes, o que julgamos ver e encontrar na vida dos outros pode não existir realmente. Aquilo que vemos é só o que os outros nos deixam ver e isso quase nunca corresponde à verdade toda.

Mas não há vidas melhores que a minha?

Depende daquilo em que estás a pensar quando fazes essa pergunta mas, na realidade, cada vida e cada experiência é diferente da outra e os desafios inerentes a essa realidade podem ser exigentes numa medida que a tua compreensão não alcança.

Mais do que viveres a tua vida para alcançar algo parecido com o que os outros parecem ter ou alcançar, é importante que vivas, experimentes e construas a vida que queres.

A vida que te faz feliz.

A vida que te deixa adormecer em paz.

A vida que rima com os teus princípios e com a tua consciência.

A vida que te foi dada e que pode ser preenchida com o que bem te apetecer.

A vida que não pertence a mais ninguém.

Enquanto vivermos de aparências, de comparações e de falsas e irremediáveis expectativas não me parece que estejamos a experimentar uma existência justa e condizente com aquilo que merecemos.

Às vezes também chove e há tempestade nas férias paradisíacas.

Às vezes o emprego de sonho é um esqueleto de sentidos e de realização pessoal.

Às vezes o carro é emprestado.

Às vezes a casa está vazia.

Queres uma vida bonita?

Vive a tua.


Marta Arrais


terça-feira, 26 de julho de 2022

Sobre pessoas bonitas



Sobre pessoas que nos mostram o lado mais bonito da vida. Que nos mostram até o lado mais bonito de nós. Pessoas que nos mostram o lado mais bonito de tudo. E que, só por isso, nos fazem acreditar que ainda vale a pena. Que tudo isto vale a pena. Sobre pessoas que nos fazem acreditar.

Sobre pessoas que são luz na escuridão. Luz que nos ilumina. E que nos faz brilhar.

Sobre pessoas que são sol nos dias cinzentos.

Sobre pessoas que são paz na tempestade.

Sobre pessoas que são abrigo sempre que os medos nos invadem.

Sobre pessoas que são balão de oxigénio que nos devolve a respiração.

Sobre pessoas que são asas que nos fazem voar.

Sobre pessoas que são pára-quedas que nos ajuda a pousar.

Sobre pessoas que são colo que não nos deixa cair.

Sobre pessoas que são mãos que nos ajudam a levantar. E mãos que se dão às nossas para sempre. Para nos acompanhar.

Sobre pessoas que são abraço de alma. Abraço de coração. Pessoas que são lugar seguro para onde podemos sempre correr. Para onde podemos sempre voltar.

Sobre pessoas que são olhos que nos vêem de verdade. Por dentro do que somos. Pessoas que nos sabem e que nos sentem.

Sobre pessoas que nos ouvem e que nos lêem as palavras, os gestos e até os silêncios.

Sobre pessoas que são sorriso em forma de abraço. Que conseguem fazer-nos sorrir sempre mais uma e outra vez.

Sobre pessoas que são beijinhos que nos curam as dores. Que curam tudo. Pessoas que são ternura.

Sobre pessoas que são magia.

Sobre pessoas que são milagres a acontecer.

Sobre pessoas que são presença sempre. Que, mesmo longe, são sempre perto. Pessoas que nos mostram que o coração não tem distância.

Sobre pessoas que se fazem morada. Que nos fazem morada.

Sobre pessoas que nos são. Pessoas a quem nós somos. Tanto e sempre.

Sobre pessoas que nos tatuam o coração para sempre. Com o que nos dão. Com o que são.

Sobre pessoas que são tanto.

Sobre pessoas em forma de amor.

Que saibamos agradece-las e amá-las. Muito. Todos os dias.

E que saibamos sê-las. Muito. Todos os dias também.



Daniela Barreira


segunda-feira, 25 de julho de 2022

Papa iniciou visita histórica, em busca da reconciliação com os povos indígenas

Viagem de 19 mil quilómetros, entre 24 e 30 de julho, é apresentada por Francisco como «peregrinação penitencial»


(Ecclesia) – O Papa iniciou ontem a sua 37ª viagem internacional, percorrendo mais de 19 mil quilómetros para uma peregrinação “penitencial” ao Canadá, em busca da reconciliação com os povos indígenas.

Falando aos cerca de 80 profissionais da comunicação social que o acompanham no Airbus A330 da Ita Airways, Francisco sublinhou que se trata de “uma viagem penitencial”, pedindo que todos a façam com esse espírito.

A conversa abordou ainda a celebração, este domingo, do II Dia Mundial dos Avós e Idosos: “Os jovens devem ter contacto com os avós”.

Pouco antes da partida, pelas 09h16 de Roma (menos uma em Lisboa), o Papa deixou uma mensagem no Twitter: “Queridos irmãos e irmãs do Canadá, vou até vós para encontrar os povos indígenas. Espero que, com a graça de Deus, a minha peregrinação penitencial possa contribuir para o caminho de reconciliação já empreendido. Por favor, acompanhem-me com a oração”.

Recordando a particular devoção dos povos indígenas a Santa Ana, avó de Jesus, Francisco cumpre o desejo de celebrar esta festa litúrgica precisamente em território canadiano, no próximo dia 26 de julho.

A visita, que decorre até 30 de julho, passa pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit – que abriga o maior número de Inuítes.

Francisco é o segundo Papa a passar pelo Canadá, que recebeu São João Paulo II por três vezes: 1984, 1987 e 2002.

Em declarações aos jornalistas, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni destacou que a viagem visa “continuar o caminho de reconciliação empreendido nos últimos meses com os Métis, Inuítes e Primeiras Nações”, povos indígenas afetados na época colonial pelas políticas de assimilação cultural

Convidado pelas autoridades civis, indígenas e religiosas do Canadá, Francisco parte de Roma pelas 09h00 deste domingo (menos uma em Lisboa), para um voo de sete horas, chegando a Edmonton, capital da província de Alberta, pelas 11h20 (18h20 em Lisboa), antes de instalar-se no Seminário São José.
A 1 de abril, no Vaticano, o Papa pediu “perdão” pelo envolvimento dos católicos na gestão de escolas residenciais para povos indígenas do Canadá, perante representantes destas comunidades, confessando “indignação e vergonha”.



“Pela deplorável conduta de alguns católicos, peço perdão a Deus. Quero dizer-vos de todo o coração: estou muito entristecido. Uno-me aos bispos canadianos, para pedir-vos perdão”, referiu Francisco, no final de uma série de encontros com delegações das Primeiras Nações, Métis e Inuítes.

O Papa falou de uma “colonização sem respeito” que provocou uma “tragédia” nas comunidades indígenas, separando famílias e desrespeitando identidades culturais ou valores espirituais.

“Tudo isto é contrário ao Evangelho de Jesus”, sustentou.


Durante a viagem, o Papa tem nove intervenções previstas – quatro discursos, quatro homilias e uma saudação a representantes de povos indígenas.

A primeira etapa da visita, em Edmonton, é totalmente dedicada às populações nativas das Primeiras Nações, Métis e Inuítes, evocando as vítimas das chamadas “escolas residenciais”, criadas pelo governo e confiadas a Igrejas cristãs, incluindo a católica.

No dia 26 de julho, celebração litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus, Francisco participa na tradicional peregrinação que acontece há séculos, no lago homónimo, a cerca de 72 quilómetros de Edmonton.


Foto: papalvisit.ca

Já no Quebeque, decorrem os tradicionais encontros com as autoridades civis, com a comunidade católica e uma celebração pela reconciliação, com participação especial de comunidades indígenas, no Santuário de Santa Ana de Beaupré.

Ao mesmo tempo, um grupo de representantes indígenas vai caminhar 275 quilómetros até ao Quebeque, numa manifestação de apoio aos sobreviventes das escolas residenciais.

As “Primeiras Nações” são os povos presentes no território canadiano antes da chegada dos europeus; os “Métis” (mestiços) nasceram do encontro entre indígenas e europeus, tendo uma identidade específica, reconhecida oficialmente; os “Inuítes” são os povos das terras do norte, junto ao Ártico, conhecidos habitualmente como esquimós.

O Vaticano lembra que, no passado, a política do Canadá assumia a “inferioridade das etnias e culturas indígenas e sua inevitável extinção”, uma política de assimilação cultural que era implementada através do sistema de escolas residenciais, distribuídas por todo o país.

A Comissão da Verdade e Reconciliação, que abordou este período histórico, pedia ao Papa, em 2015, um pedido de perdão às vítimas pelo papel do Igreja Católica “no abuso espiritual, cultural, emocional, físico e sexual de crianças das Primeiras Nações, Inuítes e Métis em escolas residenciais”.

Os bispos católicos do Canadá estabeleceram uma instituição de caridade para gerir o “Fundo de Reconciliação Indígena”, destinado a compensar as vítimas, num total de 30 milhões de dólares.

Na última semana, uma autorização judicial abriu caminho à venda de imóveis em 34 paróquias da ilha de Terra Nova, na costa atlântica canadiana.

OC

domingo, 24 de julho de 2022

Oração do Dia Mundial dos Avós e Idosos

 





Escola de Oração

 


O tema fundamental que a liturgia nos convida a reflectir, neste domingo, é o tema da oração. Ao colocar diante dos nossos olhos os exemplos de Abraão e de Jesus, a Palavra de Deus mostra-nos a importância da oração e ensina-nos a atitude que os crentes devem assumir no seu diálogo com Deus.
A primeira leitura sugere que a verdadeira oração é um diálogo “face a face”, no qual o homem – com humildade, reverência, respeito, mas também com ousadia e confiança – apresenta a Deus as suas inquietações, as suas dúvidas, os seus anseios e tenta perceber os projectos de Deus para o mundo e para os homens. A “oração” de Abraão é paradigmática da “oração” do crente: é um diálogo com Deus – um diálogo humilde, reverente, respeitoso, mas também cheio de confiança, de ousadia e de esperança. Não é uma repetição de palavras ocas, gravadas e repetidas por um gravador ou um papagaio, mas um diálogo espontâneo e sincero, no qual o crente se expõe e coloca diante de Deus tudo aquilo que lhe enche o coração. A minha oração é este diálogo espontâneo, vivo, confiante com Deus, ou é uma repetição fastidiosa de fórmulas feitas, mastigadas à pressa e sem significado?

O Evangelho senta-nos no banco da “escola de oração” de Jesus. Ensina que a oração do crente deve ser um diálogo confiante de uma criança com o seu “papá”. Com Jesus, o crente é convidado a descobrir em Deus “o Pai” e a dialogar frequentemente com Ele acerca desse mundo novo que o Pai/Deus quer oferecer aos homens. A forma como Jesus Se dirige a Deus mostra a existência de uma relação de intimidade, de amor, de confiança, de comunhão entre Ele e o Pai (de tal forma que Jesus chama a Deus “papá”); e Ele convida os seus discípulos a assumirem uma atitude semelhante quando se dirigem a Deus… É essa a atitude que eu assumo na minha relação com Deus? Ele é o “papá” a quem amo, a quem confio, a quem recorro, com quem partilho a vida, ou é o Deus distante, inacessível, indiferente?

A segunda leitura, sem aludir directamente ao tema da oração, convida a fazer de Cristo a referência fundamental (neste contexto de reflexão sobre a oração, podemos dizer que Cristo tem de ser a referência e o modelo do crente que reza: quer na frequência com que se dirige ao Pai, quer na forma como dialoga com o Pai). É necessário ter consciência de que o Baptismo, identificando-nos com Jesus, constitui um ponto de partida para uma vida vivida ao jeito de Jesus, na doação, no serviço, na entrega da vida por amor. É este “caminho” que temos vindo a percorrer? A minha vida caminha, decisivamente, em direcção ao Homem Novo, ou mantém-me fossilizado no homem velho do egoísmo, do orgulho e do pecado?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 23 de julho de 2022

AVÓS E IDOSOS DEVEM SER ARTÍFICES DA REVOLUÇÃO DA TERNURA

 




Quem está numa idade avançada tem uma importante missão: ser “artífice da revolução da ternura” e “libertar o mundo da sombra da solidão e do demónio da guerra”. A afirmação é do Papa Francisco na Mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que, este ano, se celebra a 24 de julho, e tem como tema “Dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92, 15).

Na Mensagem, o Santo Padre não esconde as dificuldades que a velhice traz, tanto na vida individual como social. Apesar disso, convida os idosos a redescobrir essa fase como “dom de uma vida longa", um dom para toda a sociedade, acrescentando que “Bendita a casa que guarda um ancião! Bendita a família que honra os seus avós!”

Francisco diz que num mundo dilacerado pela violência da guerra, é necessária “mudança profunda, uma conversão, que desmilitarize os corações, permitindo a cada um reconhecer no outro um irmão”.

Neste contexto, o Santo Padre lembra que o testemunho dos idosos é importante e significativo e desafia-os a “ser mestres de um modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis”. Uma missão que começa na sua própria família mas que se estende a muitas outras pessoas, nomeadamente crianças e jovens que fogem da guerra ou sofrem por causa dela, na Ucrânia, no Afeganistão, no Sudão do Sul ou em outros lugares do mundo.

A importância da oração

O Santo Padre fala ainda da importância de os avós e idosos continuarem a viver de forma particular a dimensão da oração. Esta – insiste Francisco – é “o instrumento mais precioso e apropriado que temos para a nossa idade”. Uma “imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações”.

Ir ao encontro dos que vivem sós

O Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida aponta duas modalidades concretas para viver o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: celebrar em cada paróquia uma missa dedicada aos idosos e ir ao encontro dos que não costumam receber visitas. Por outro lado, na Mensagem, o Papa indica que “a visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo”.

https://redemundialdeoracaodopapa.pt/

sexta-feira, 22 de julho de 2022

BENDITA A FAMÍLIA QUE HONRA OS SEUS IDOSOS!

 

Vamos viver o II Dia Mundial dos Avós e idosos. Desde há tempos que, em alguns países, o celebrávamos em 26 de julho, na memória litúrgica de Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus. Doravante, por iniciativa do Papa Francisco para toda a Igreja e para facilitar uma maior participação e festa, embora perto daquela memória, e a seu pretexto, celebrá-lo-emos no quarto domingo de julho de cada ano. A durabilidade das pessoas aumenta, facto que não devemos ver como problema, mas como oportunidade para agradecer e investir cada vez mais na solidariedade intergeracional, fundamento do desenvolvimento sustentável. A família é o principal centro de coesão social, onde as pessoas mais velhas “são agentes essenciais para a construção de sociedades pluralistas em que a dignidade humana e a liberdade são valorizadas e respeitadas”.
Apoiado num versículo do Salmo 92, o Papa Francisco, desta vez, quer falar ao mundo dos idosos como aquelas pessoas que “dão fruto mesmo na velhice”. Coisa que exige remar contra a maré em relação àquilo que o mundo pensa desta idade e contra o comportamento resignado de alguns idosos que, deixando cair os braços após a vida ativa, vivem sem nada mais esperar e fazer. É certo que, por um lado, muitas pessoas “têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contacto: os idosos não nos dizem respeito – pensam elas – e é conveniente que estejam o mais longe possível, talvez juntos uns com os outros, em estruturas que cuidem deles e nos livrem da obrigação de nos ocuparmos das suas penas. É a «cultura do descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre «nós» e «eles». Por outro lado, a velhice “constitui uma estação que não é fácil de entender, mesmo para nós que já a vivemos. Embora chegue depois dum longo caminho, ninguém nos preparou para a enfrentar; parece quase apanhar-nos de surpresa (...) Por um lado, somos tentados a exorcizar a velhice, escondendo as rugas e fingindo ser sempre jovens, por outro parece que nada mais se possa fazer senão viver desiludidos, resignados a não ter mais «frutos para dar».
Mas não deve, não pode ser assim. A sociedade deve desmilitarizar o coração e ver o outro como um irmão e amigo para caminharem juntos, os idosos devem ensinar a contemplar cada pessoa com o mesmo olhar compreensivo com que olham os seus netos. Este Dia Mundial, segundo Francisco, é mais uma oportunidade para dizer ao mundo que a Igreja quer fazer festa, uma festa conjunta com aqueles que o Senhor “saciou com longos dias”, pois uma vida longa é uma bênção, é um sinal vivo da benevolência de Deus, fonte da vida. Bendita “a casa que guarda um ancião! Bendita a família que honra os seus avós!”, lemos na Mensagem do Papa da qual aqui realço alguns pensamentos mas convido a ler pois nos desafia e provoca a celebrar a festa conjuntamente, com alegria: “Celebremo-la juntos! “Convido-vos a anunciar este Dia nas vossas paróquias e comunidades, a visitar os idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados. Procuremos que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!”.
A velhice “não é um tempo inútil, no qual a pessoa deva pôr-se de lado recolhendo os remos para dentro do barco, mas uma estação para continuar a dar fruto: há uma nova missão, que nos espera, convidando-nos a voltar os olhos para o futuro”. É verdade que a aposentação com a perda da vida ativa, os filhos já autónomos, a consciência de que as forças declinam, o aparecimento duma doença, a dificuldade em acompanhar os ritmos acelerados do mundo, tudo pode levar os idosos a crises pessoais, a interiorizar a ideia de mal-amados e do descarte, a pensar que se é um peso, um estorvo. E se isto pode fazer sofrer os idosos, também faz sofrer muitas famílias que, por circunstâncias várias a que a vida as obriga, os têm de colocar, contra vontade sua e deles, em estruturas que as ajudem a cuidar dos seus idosos com amor e ternura. Se, porventura, muitos o fazem para se verem livres deles e de possíveis trabalhos e nunca lá aparecem a visitá-los, outros há que, sofridos, se sentem obrigados a isso, mas permanecem sempre preocupados e presentes, não é tudo farinha do mesmo saco!
Sabemos que as sociedades mais desenvolvidas “gastam muito para esta idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência”. Na esperança de que essas dimensões sejam sempre repensadas em busca do melhor bem comum, Francisco também convida todos os avós e idosos a serem protagonistas daquela “revolução da ternura, uma revolução espiritual e desarmada” conseguida através da oração, tornando-se “um pouco poetas da oração”. A oração confiante “pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações. Podemos ser «o “grupo coral” permanente dum grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo da vida» . Importante é lutar por uma velhice ativa, “inclusive do ponto de vista espiritual, cultivando a nossa vida interior através da leitura assídua da Palavra de Deus, da oração diária, do recurso habitual aos Sacramentos e da participação na Liturgia”, sem esquecer, a par, as boas relações com a família, com os pobres e atribulados, com a ajuda concreta e a oração por todos. Tudo isso ajudará a que ninguém se sinta mero espetador no teatro do mundo, a olhar da sacada, a ficar à janela. Cada um poderá ser como uma «oliveira verdejante na casa de Deus», como uma bênção para quem vive junto de si, encontrará mais força para multiplicar o louvor, descobrirá que “envelhecer não é apenas a deterioração natural do corpo ou a passagem inevitável do tempo, mas também o dom duma vida longa. Envelhecer não é uma condenação, mas uma bênção!”.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-castelo Branco, 22-07-2022.

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O II DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS IDOSOS

(XVII domingo do Tempo Comum – 24 de julho de 2022)


“Dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92, 15)



Caríssima, caríssimo!

O versículo 15 do Salmo 92 – «dão fruto mesmo na velhice » – é uma boa notícia, um verdadeiro «evangelho» que podemos, por ocasião do II Dia Mundial dos Avós e Idosos, anunciar ao mundo. O mesmo vai contracorrente relativamente àquilo que o mundo pensa desta idade da vida e também ao comportamento resignado de alguns de nós, idosos, que caminhamos com pouca esperança e sem nada mais esperar do futuro.

Muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contacto: os idosos não nos dizem respeito – pensam elas – e é conveniente que estejam o mais longe possível, talvez juntos uns com os outros, em estruturas que cuidem deles e nos livrem da obrigação de nos ocuparmos das suas penas. É a «cultura do descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre «nós» e «eles». Mas, na realidade, uma vida longa – ensina a Sagrada Escritura – é uma bênção, e os idosos não são proscritos de quem se deve estar à larga, mas sinais vivos da benevolência de Deus que efunde a vida em abundância. Bendita a casa que guarda um ancião! Bendita a família que honra os seus avós!

Com efeito, a velhice constitui uma estação que não é fácil de entender, mesmo para nós que já a vivemos. Embora chegue depois dum longo caminho, ninguém nos preparou para a enfrentar; parece quase apanhar-nos de surpresa. As sociedades mais desenvolvidas gastam muito para esta idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência [1]. Por isso é difícil olhar para o futuro e individuar um horizonte para onde tender. Por um lado, somos tentados a exorcizar a velhice, escondendo as rugas e fingindo ser sempre jovens, por outro parece que nada mais se possa fazer senão viver desiludidos, resignados a não ter mais «frutos para dar».

O fim da atividade laboral e os filhos já autónomos fazem esmorecer os motivos pelos quais gastamos muitas das nossas energias. A consciência de que as forças declinam ou o aparecimento duma doença podem pôr em crise as nossas certezas. O mundo – com os seus ritmos acelerados, que sentimos dificuldade em acompanhar – parece não nos deixar alternativa, levando-nos a interiorizar a ideia do descarte. Assim se eleva para o céu esta súplica do Salmo: «Não me rejeites no tempo da velhice; não me abandones, quando já não tiver forças» (71, 9).

Mas o mesmo Salmo, que repassa a presença do Senhor nas diversas estações da existência, convida-nos a continuar a esperar: chegada a velhice e os cabelos brancos, o Senhor continuará a dar-nos a vida e não deixará que sejamos oprimidos pelo mal. Confiando n’Ele, encontraremos a força para multiplicar o louvor (cf. Sal 71, 14-20) e descobriremos que envelhecer não é apenas a deterioração natural do corpo ou a passagem inevitável do tempo, mas também o dom duma vida longa. Envelhecer não é uma condenação, mas uma bênção!

Por isso, devemos vigiar sobre nós mesmos e aprender a viver uma velhice ativa, inclusive do ponto de vista espiritual, cultivando a nossa vida interior através da leitura assídua da Palavra de Deus, da oração diária, do recurso habitual aos Sacramentos e da participação na Liturgia. E, a par da relação com Deus, cultivemos as relações com os outros: antes de mais nada, com a família, os filhos, os netos, a quem havemos de oferecer o nosso afeto cheio de solicitude; bem como as pessoas pobres e atribuladas, das quais nos façamos próximo com a ajuda concreta e a oração. Tudo isto ajudará a não nos sentirmos meros espetadores no teatro do mundo, não nos limitarmos a olhar da sacada, a ficar à janela. Ao contrário, apurando os nossos sentidos para reconhecerem a presença do Senhor [2], seremos como uma «oliveira verdejante na casa de Deus» ( Sal 52, 10), poderemos ser uma bênção para quem vive junto de nós.

A velhice não é um tempo inútil, no qual a pessoa deva pôr-se de lado recolhendo os remos para dentro do barco, mas uma estação para continuar a dar fruto: há uma nova missão, que nos espera, convidando-nos a voltar os olhos para o futuro. «A nossa sensibilidade especial de idosos, da idade anciã às atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as novas gerações» [3]. É o nosso contributo para a revolução da ternura [4], uma revolução espiritual e desarmada da qual vos convido, queridos avós e idosos, a fazer-vos protagonistas.

O mundo vive um período de dura provação, marcado primeiro pela tempestade inesperada e furiosa da pandemia, depois por uma guerra que fere a paz e o desenvolvimento à escala mundial. Não é por acaso que a guerra tenha voltado à Europa no momento em que está a desaparecer a geração que a viveu no século passado. E estas grandes crises correm o risco de nos tornar insensíveis ao facto de que existem outras «epidemias» e outras formas generalizadas de violência que ameaçam a família humana e a nossa casa comum.

Perante tudo isto, temos necessidade duma mudança profunda, duma conversão, que desmilitarize os corações, permitindo a cada um reconhecer no outro um irmão. E nós, avós e idosos, temos uma grande responsabilidade: ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos. Aprimoramos a nossa humanidade ao cuidar do próximo e, hoje, podemos ser mestres dum modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis. A nossa atitude poderá, talvez, ser confundida com fraqueza ou servilismo, mas serão os mansos – não os agressivos e prevaricadores – que herdarão a terra (cf. Mt 5, 5).

Um dos frutos que somos chamados a produzir é o de guardar o mundo. «Todos nos sentamos nos joelhos dos avós, que nos tiveram ao colo» [5]; mas hoje é o momento de colocar sobre os nossos joelhos – com a ajuda concreta ou mesmo só com a oração –, juntamente com os nossos netos, muitos outros assustados que ainda não conhecemos e que talvez fujam da guerra ou sofram por causa dela. Guardemos no nosso coração – como fazia São José, pai terno e solícito – os pequeninos da Ucrânia, do Afeganistão, do Sudão do Sul...

Muitos de nós maturaram uma consciência sábia e humilde, de que o mundo tanto precisa: não nos salvamos sozinhos, a felicidade é um pão que se come juntos. Testemunhemo-lo àqueles que se iludem de encontrar realização pessoal e sucesso na contraposição. Todos o podem fazer, mesmo os mais frágeis: até mesmo o deixarmo-nos cuidar – muitas vezes por pessoas que provêm doutros países – é uma maneira de dizer que é não só possível mas também necessário vivermos juntos.

Neste nosso mundo, queridas avós e queridos avôs, queridas idosas e queridos idosos, estamos chamados a ser artífices da revolução da ternura! Façamo-lo aprendendo a usar cada vez mais e melhor o instrumento mais precioso e apropriado que temos para a nossa idade: a oração. «Tornemo-nos, também nós, um pouco poetas da oração: adquiramos o gosto de procurar palavras que nos são próprias, voltando a apoderar-nos daquelas que a Palavra de Deus nos ensina» [6]. A nossa imploração confiante pode fazer muito: é capaz de acompanhar o grito de dor de quem sofre e pode contribuir para mudar os corações. Podemos ser «o “grupo coral” permanente dum grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo da vida» [7].

Deste modo o Dia Mundial dos Avós e Idosos é uma oportunidade para dizer mais uma vez, com alegria, que a Igreja quer fazer festa juntamente com aqueles que o Senhor – como diz a Bíblia – «saciou com longos dias» (Sal 91, 16). Celebremo-la juntos! Convido-vos a anunciar este Dia nas vossas paróquias e comunidades, a visitar os idosos mais abandonados, em casa ou nas residências onde estão hospedados. Procuremos que ninguém viva este dia na solidão. Ter alguém para cuidar pode mudar a orientação dos dias de quem já não espera nada de bom do futuro; e dum primeiro encontro pode nascer uma nova amizade. A visita aos idosos abandonados é uma obra de misericórdia do nosso tempo!

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Ternura, que faça de todos nós dignos artífices da revolução da ternura para, juntos, libertarmos o mundo da sombra da solidão e do demónio da guerra.

A todos vós e aos vossos entes queridos, chegue a minha Bênção, com a certeza da minha afetuosa proximidade. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim!

Roma, São João de Latrão, na festa dos Santos Apóstolos Filipe e Tiago, 3 de maio de 2022.

FRANCISCO

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Precisas de ouvir mais





O silêncio é uma forma simples e muito eficaz de dar espaço e tempo ao outro. De lhe dar a importância que outros lhe negam sempre que decidem carregá-lo com discursos sem fim nem grande sentido.

É incrível o quanto se pode aprender sobre alguém só de estar a seu lado em silêncio e com atenção. Para muita gente, o silêncio é um incómodo, pelo que tentam preenchê-lo, falando de si! Revelam-se, porque não se suportam! Quase como se tivessem vergonha de serem quem são… sentem a sua voz interior como uma ameaça.

Quando escutamos, podemos ouvir o que nos dizem, mas também, e talvez ainda mais importante, o que não nos dizem!

Por vezes, falar é uma forma da vaidade se alimentar a si mesma. Alguns só falam porque são incapazes de se calar…

Mesmo as conversas que começam por ser sobre algo útil, em pouco tempo chegam a assuntos desnecessários e, sempre que continuam por aí, acabam em temas despropositados, com afirmações quase sempre imprudentes.

Aprender a fazer silêncio é essencial, porque nos coloca no nosso lugar. Os sofrimentos ensinam-nos a arte do silêncio. A felicidade também.

Pensar a vida, e cada uma das suas dimensões concretas em nós, demora. Exige calma e concentração, atenção ao exterior, e paz interior.

Mais, mesmo que tenhas algo importante a dizer, ainda assim isso não te dá o direito de o declarar sem que tenhas de esperar pelo momento certo para o fazer.

Precisas de ouvir mais. Até porque o mais provável é que haja muita gente a precisar que tu os escutes.

E quando alguém partilhar contigo o seu coração, aceita-o. Escuta com toda a atenção. Não estejas apenas à espera da tua vez de falar e a pensar no que vais dizer.

Quando escutares, escuta.

Escutar já é uma resposta!


José Luís Nunes Martins




quarta-feira, 20 de julho de 2022

Vinde a mim... E eu vos aliviarei





«Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.»
Mt 11, 28-30


Jesus oferece-se como solução para todos os fardos que possamos ter. Coloca em Si o peso de tudo aquilo pelo que podemos estar a batalhar. Esta frase, pronunciada por Jesus aos Seus discípulos e às pessoas que O acompanhavam deve ter tido um enorme impacto, porque para além de serem palavras fortes, todos e todas podiam vivenciar de perto a veracidade destas palavras. E a prova disto são os milagres e as imensas pessoas que Jesus ergueu ao longo de toda a Sua vida.

No entanto, olhando para o nosso quotidiano, como é que estas palavras podem fazer sentido na nossa vida? Ficamos apenas pela mera fé? Como podemos realmente sentir este alívio se agora não temos a Sua presença física entre nós?

São, claramente, perguntas legítimas e tremendamente humanas, perante as dores, os fardos e os desafios que todos nós vivenciamos ou que temos conhecimento através da existência do outro. Como é que aliviamos a dor de uma criança que na sua tenra idade se encontra a lutar pela vida? Como é que damos esperança aos seus pais? Como é que damos um futuro àqueles que não conseguem fugir da pobreza, da fome e da guerra? Como é que aliviamos o sofrimento daqueles que são rejeitados pela sua orientação sexual, pela sua etnia ou pelo simples facto de serem refugiados? Como é que humanizamos e convertemos estas palavras de Jesus em gestos concretos?

Aquilo que irei apresentar agora não será a resolução de todos os problemas do mundo, no entanto estou certo de que poderá mudar o mundo de muitos e muitas e, isso, já poderá aliviar o sofrimento e a opressão de tantos homens e mulheres. Para humanizarmos estas palavras de Jesus precisamos de imitar os seus gestos: olhar com atenção tudo e todos; escutar com o coração tudo e todos; defender os oprimidos deste nosso tempo; erguer quem já perdeu a esperança em si; colocar no centro aqueles de quem ninguém se importa.

Na verdade, basta deixar que O Amor seja e esteja. As palavras de Jesus tornam-se uma realidade quando deixamos que Ele seja em nós. Quando permitimos que o outro seja testemunho do Seu amor.

Hoje, no meio da nossa vida, ainda há gente que faz da sua vida um jugo suave doando-se inteiramente ao outro para que possa sentir-se e saber-se amado por um Deus que jamais nos abandona!

Emanuel António Dias


terça-feira, 19 de julho de 2022

O que nos tira o sono?



Dormimos mal. Parece que, por muito que o corpo precise de descanso, a cabeça não quer deixar. Faz-nos, diariamente, um desfile com as nossas maiores preocupações, com os cenários imaginários (que dificilmente se concretizarão), com as possibilidades de tragédia, de abandono, de não merecimento, de fracasso, de não-perdão, de não-aceitação.

Dormimos mal porque pensamos demasiado. A quantidade de pensamentos é avassaladora e a qualidade destes deixa muito a desejar.

Como o dia nos ocupa a nossa estrutura mental, pessoal e emocional, parece que nos resta aquele pedacinho de tempo antes de cair no sono para pensar em tudo o que nos atropelou e atropela. Em tudo o que passou por nós e não nos passa. Em todas as palavras ditas e não ditas. Por nós e pelos outros.

Eu sei. É difícil dormir bem quando aquilo que ouvimos só rima com mal. Com fracasso. Com possibilidades de uma vida que terá muito mais de trágica do que de cómica ou saudável. Ou é a guerra que não acaba. Ou os preços das casas que não descem. Ou o crash imobiliário que ninguém sabe se chega. Ou os médicos e enfermeiros que andam zangados. Ou os professores que estão em vias de extinção. Ou o preço da gasolina que não desce. Ou os incêndios. Ou isto ou aquilo.

Precisamos de encontrar espaço e tempo para nos distanciarmos desta loucura que nos quer tomar o coração, a saúde e os pensamentos. Há muito que não depende de mim, nem de ti. Há muita coisa que nem eu nem tu poderemos resolver, por muito grande que seja a nossa vontade.

Naquilo que depende de ti, o que podes fazer diferente?

Naquilo que depende de ti, onde podes dizer não?

Encontra tempo para o descanso. Para o cuidado da totalidade do que és. Os nossos pensamentos estão doentes, como nós e como esta sociedade estranha em que nos mergulhamos a cada dia. Mas a sociedade também és tu. Guarda-te e protege-te do que não pode ser mudado por ti; dos acontecimentos em que não podes interferir.

Pensa naquela pessoa querida que te melhora os dias.

Pensa naquele prato maravilhoso que te faz lembrar os tempos da tua infância.

Pensa naquele dia de gargalhadas que tiveste e que te fez expandir o coração.

Pensa naquela praia com pouca gente onde vais quando tens tempo.

Pensa em ti. No que há de bonito para ver além do que nos mostram.

Pensa em bom. Em bonito. Em amor. E faz a tua vida rimar com isso.


Marta Arrais

segunda-feira, 18 de julho de 2022

«Re[A]colher…»


É tempo de recolhimento e acolhimento.
O Verão liberta-nos do cumprimento rígido de horários, de obrigações frenéticas e de ritmos vazios,
que nos são impostos por outros e para outros!
Estes meses entram pelas nossas casas com uma única conotação: Recolher!
É preciso acolher quem vem para descansar e, é urgente recolhermo-nos!

Quando passam pela nossa casa, que as portas sejam abertas de par em par.
Tudo tem de estar perfeito para acolhermos aqueles que andam errantes.

Vivemos 50 semanas do ano com o pensamento nestes dias, onde alcançamos o tal descanso merecido!
Tudo tem de estar perfeito para nos sentirmos bem recolhidos e felizes, para recarregarmos baterias.

 No 16º Domingo do Tempo Comum, do ano C, a liturgia quer-nos recolher no Senhor da Vida,
mas também nos quer acolher em albergues seguros e felizes.
Somos a Marta! Somos a Maria! Somos Abraão e Sara! Somos S. Paulo!
Marta, Abraão e Sara que sabem acolher O Senhor.
Maria e S. Paulo que saboreiam a Palavra d’O Cristo e A anunciam.
Então… Quem devemos ser? O que precisamos fazer?
Responde o Salmo:
«O que não faz mal ao seu próximo, nem ultraja o seu semelhante,
o que tem por desprezível o ímpio, mas estima os que temem o Senhor.»


Como escutas a Palavra de Deus?
Como acolhes Jesus?
O mundo anseia por Marta e precisa muito de Maria… As irmãs de Lázaro!
As amigas de Jesus, que O acolhiam na sua casa, são um modelo de Recolhimento.
Viviam no Amor e faziam com que os bons gestos nascessem!

Durante o Verão, recolhe-te no regaço do Senhor da Vida.
Não te atarefes tanto, mas não te prives do serviço ao próximo!
Sê casa repleta de flores que oferece conforto, paz, diálogo, silêncio, pão e Amor.
A Eucaristia é o momento onde escutas a Palavra e acolhes Jesus.
És Maria e Marta!
Não te demores nas escolhas… podes ser as duas!
Acolhe e recolhe-te!


Liliana Dinis

domingo, 17 de julho de 2022

Escutar e Partilhar

 


As leituras deste domingo convidam-nos a reflectir o tema da hospitalidade e do acolhimento. Sugerem, sobretudo, que a existência cristã é o acolhimento de Deus e das suas propostas; e que a acção (ainda que em favor dos irmãos) tem de partir de um verdadeiro encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus. É isso que permite encontrar o sentido da nossa acção e da nossa missão.
A primeira leitura propõe-nos a figura patriarcal de Abraão. Nessa figura apresenta-se o modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo o que tem com o irmão que se atravessa no seu caminho e que encontra no hóspede que entra na sua tenda a figura do próprio Deus. Sugere-se, em consequência, que Deus não pode deixar de recompensar quem assim procede.
No Evangelho, apresenta-se um outro quadro de hospitalidade e de acolhimento de Deus. Mas sugere-se que, para o cristão, acolher Deus na sua casa não é tanto embarcar num activismo desenfreado, mas sentar-se aos pés de Jesus, escutar as propostas que, n'Ele, o Pai nos faz e acolher a sua Palavra.
Qual é a nossa perspectiva da hospitalidade e do acolhimento? Esta leitura sugere que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, a sentar a pessoa no sofá, a ligar a televisão para que ela se entretenha sozinha, e a correr para a cozinha para lhe preparar um banquete opíparo; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao nosso encontro, escutá-lo, partilhar com ele, a fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com aquilo que ele sente...
A segunda leitura apresenta-nos a figura de um apóstolo (Paulo), para quem Cristo, as suas palavras e as suas propostas são a referência fundamental, o universo à volta do qual se constrói toda a vida. Para Paulo, o que é necessário é "acolher Cristo" e construir toda a vida à volta dos seus valores. É isso que é preponderante na experiência cristã.
A centralidade que Cristo assume na experiência religiosa de Paulo leva-o à conclusão de que Cristo basta e que tudo o resto assume um valor relativo (quando não serve, até, para "desviar" os crentes do essencial). Que valor ocupa Cristo na minha experiência de fé? Ele é a prioridade fundamental, ou há outras imagens ou ritos que chegam a ocupar o lugar central que só pode pertencer a Cristo?


https://www.dehonianos.org/


sábado, 16 de julho de 2022

«O que teve compaixão dele!»



Cada vez estou mais ciente que a evangelização passa pelo testemunho de vida. Imitando São Bento, que ontem celebramos, é pela oração e pelo trabalho que mostramos ao mundo quem somos e em quem acreditamos.

Nos últimos tempos, tenho sido abordado por alguns conhecidos e amigos no sentido de os desenrascar nos critérios e formações para serem padrinhos de Batismo, Crisma ou Matrimónio. Se num passado recente, procurava encontrar formas ou pessoas que simplificassem os processos, hoje começo por questionar estes futuros padrinhos, pelos motivos pelos quais aceitaram esses encargos. Se é uma questão social, familiar ou de simples amizade? Se sabem o que é ser padrinho/madrinha de um sacramento católico? Depois enveredo pela coerência de vida. Que mensagem passam aos pais, amigos ou familiares? Como é que os próprios afilhados olharão, mais tarde ou mais cedo, para o testemunho dos padrinhos?

Num mundo em que andamos acelerados, constantemente estimulados para uma realidade sempre, e cada vez mais, imediata, e por vezes, mesmo mediata. Precisamos de momentos, tempos de reflexão, para que encontremos a coerência entre o que se diz defender e o que se vive!

Numa sociedade cada vez mais egoísta e egocêntrica, precisamos de luzeiros que nos deem segurança no caminho que trilhamos dia após dia. Creio que começamos a estar cansados de luzes que são apenas aquele estrondo do momento, mas que nada mais iluminam que eles mesmos.

A oração e o silêncio podem ajudar-nos a a encontrar as razões para todo o nosso trabalho.

«Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?»; «O que teve compaixão dele.» (cf. Lc 10, 25-37)

Compaixão, no dicionário Priberam diz que é um "Sentimento benévolo e solidário que inspira em alguém a infelicidade ou o mal alheio; sentimento de partilha do sofrimento de outro ou outros". Só com estes sentimentos que a oração nos capacita, é que podemos aproximar-nos dos outros para tratar deles. Tudo o resto é teatro!

Esta é a única forma de nos evangelizarmos e de evangelizar os outros.


Paulo J. A. Victória


sexta-feira, 15 de julho de 2022

O TIO EM BRAGA E VIANA - O SOBRINHO EM PORTALEGRE

 

Antes, porém, de falarmos do sobrinho em Portalegre, vou recordar o tio, o grande patriota, sábio e santo, orgulho de Portugal e dos portugueses. Falamos de Bartolomeu Fernandes Vale, isto é, Bartolomeu dos Mártires, dos “Mártires” por ter nascido e sido batizado na freguesia dos Mártires em Lisboa. Nascido em maio de 1514 e falecido em julho de 1590, festejá-lo-emos na próxima segunda-feira. De inteligência rara e expoente do pensamento e da fé, foi humilde e simples na sua grandeza, evangelizador e pastor exímio, bispo sempre presente com “grande zelo apostólico, hábitos excessivamente frugais, rigorosos e disciplinados”. Quando a coragem juvenil do rei D. Sebastião desaguou em fraqueza humilhante e o fez sumir em Alcácer Quibir, Portugal engolfou-se numa crise de indefinição quanto à sua independência. No debate em que todos se aguilhoavam, Bartolomeu dos Mártires foi pessoa de bom senso ao lado duma solução pacífica que ultrapassasse tal crise. Coisa que, conforme os tempos e os seus ventos, conforme as sensibilidades interpretativas e o puxar das brasas para interesses de ocasião, a sua intervenção não deixou de ser muitas vezes retomada como assunto de controvérsia. No Concílio de Trento, onde foi uma das vozes de referência sempre escutada com a maior atenção e muito proveito para a Igreja, mesmo aí não deixou de defender os pergaminhos de Portugal. Após 32 anos de grande trabalho, e trabalho de qualidade como Arcebispo de Braga, recolheu ao convento de São Domingos, na cidade de Viana do Castelo. Aqui se encontra ainda a sua cela, assinalada na parede exterior do convento com uma placa junto à janela, e transformada, sem grandes alterações no seu interior, num oratório interno para uso do pessoal ao serviço da cúria diocesana que funciona no convento, bem como ao serviço de algumas atividades pastorais que ali se desenvolvem. Aquando da sua morte, quiseram levar o seu corpo para Braga. Viana alvoraçou-se, e, ó pernas, para que vos quero! De toda a parte, a gente correu célere e lacrimosa para ver e tocar o cadáver do santo que os soldados tiveram de defender, dizendo a todos que daqui não saí, e não saiu mesmo. Ali se encontram os seus restos mortais, na grande e bela igreja do convento, presentemente igreja matriz da paróquia de Nossa Senhora de Monserrate na qual eu fui ordenado Bispo em 21 de janeiro de 2001.
Mas hoje eu queria sobretudo recordar o sobrinho, Dom Diogo Correia, o quarto bispo de Portalegre. Natural de Lisboa ou de Setúbal (?), era filho do alcaide-mor de Braga e sobrinho de São Bartolomeu dos Mártires. Foi cónego em Braga, visitador da arquidiocese, abade de uma abadia, e, após a frequência desta escola, foi nomeado bispo de Ceuta, aí servindo doze anos. Ceuta fora conquistada pelos portugueses em 1415, sendo posteriormente elevada a diocese. Mais tarde, foi Diocese Primaz de África, acumulando também com as administrações de Valença do Minho, que pertencia a Tui, e com as de Olivença, que estava com Badajoz. Após isso, foi sufragânea de Braga e, mais tarde, de Lisboa. A partir de 1645, passou a ser território espanhol, sendo depois extinta e incorporada na Diocese de Cádis, Cádis-Ceuta.
Pelos seus dedicados trabalhos em Ceuta, D. Diogo foi nomeado Bispo de Portalegre. Como Bispo eleito desta diocese, estando ainda em Lisboa, “mandou seis moios de trigo à casa da Santa Misericórdia, para que se repartissem por pessoas pobres e necessitadas. Valia nesta cidade o alqueire de pão por quinhentos reais”. Esta sua atitude estimulou os poderosos e ricos desta cidade de Portalegre à partilha, encheram-se de nove horas e começaram a fazê-lo também. Dom Diogo entrou na Diocese a 15 de setembro de 1598, mas já dela havia tomado posse no terceiro Domingo de julho, representado pelo Deão da catedral, Francisco Alvarez Pimentel: faz anos que tomou posse na próxima terça-feira. “E depois de estar em sua cadeira, foram tantas as esmolas que fez, tantos os vestidos que deu a pobres, tantas as órfãs que amparou e tantas as pobrezas que remediou que eu não me atrevo a contá-los”. A todos pedia que o informassem de alguma situação de necessidade e “não sabia dar senão à mão cheia, e sempre dizia, quando dava, que perdoassem que era pouco, mas que outro dia haveria ocasião para mais”. À vila de Alegrete, “que é terra do seu bispado que dista duas léguas desta cidade, e sabendo ele a falta que havia para se curarem tão graves enfermidades, por ser gente pobre e não haver botica nem físico nem barbeiro, mandou tanta quantidade de dinheiro à casa da saúde que bastou para tudo se remediar, além das conservas e caixas de marmelada, pães de açúcar e açúcar rosado e tudo o mais que havia em sua dispensa...”
Talvez influenciado pelo testemunho do seu tio em Braga, a sua vida muito “impressionou os seus diocesanos pela frugalidade da sua mesa, pela piedade e solicitude pelos pobres”. Quando dava alguma vez a quem já tinha dado e era avisado de que estava a ser enganado, respondia que era um ditoso engano. Foi ele quem chamou a Portalegre os Jesuítas, dando origem ao Colégio de São Sebastião que, com o Seminário, foram, ao tempo, os dois centros culturais da cidade e da região. Com a expulsão dos jesuítas, o Marquês de Pombal, agredindo e torturando o edifício tanto quanto o necessário, o Colégio foi adaptado a uma fábrica de tecidos, a Fábrica Real. Hoje é a sede da Câmara Municipal de Portalegre.
Após já ter deixado o bispado, D. Diogo recolheu a sua casa e propriedade, ainda hoje com uns azulejos na parede, ao lado do portão, onde quem passa na estrada de Portalegre para Castelo de Vide pode ler: “Quinta do Bispo”. Aí, segundo a tradição, dedicava-se a modelar imagens de Jesus flagelado: “Senhor da Paciência”, “Senhor dos Aflitos”, “Senhor do Bonfim”. De acordo com a tradição local, seria até D. Diogo quem modelou o original da imagem do “Ecce Homo”, cuidada ao longo dos tempos pelos seus devotos e que hoje se encontra na igreja do Senhor do Bonfim. Uma joia de igreja do século XVIII, decorada a talha e com pinturas de alto valor que chegou a ser protegida pela esposa de D. João V, adquirindo o título de “Real Igreja do Bonfim”. A Irmandade chegou a ter 24 deputados, 12 clérigos, 12 seculares e a Rainha, Protetora.
Falecido em 16 de outubro de 1614, D. Diogo foi trazido de noite “com muitas luminárias a cavalo, e posto na sala em lugar alto”. Ali vieram os religiosos de São Francisco e cantaram as Vésperas dos Defuntos. Logo veio todo o clero, priores e curas de todas as igrejas e lhe cantaram as Matinas, estando todo o cabido sentado ao redor. Posto isto, foi levado à igreja no esquife do cabido “com grandes lágrimas e gritos dos pobres, de que estava cheia toda a rua desde a sua porta até à praça”. Colocado no meio da igreja e terminado o cerimonial fúnebre, foi depositado na sepultura que o bispo anterior, Dom Frei Amador Arrais, tinha preparado para si mas acabou por não usar, ficou em Coimbra.
D. Antonino Dias .- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 15-07-2022.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Papa Francisco deseja oferecer aos avós e idosos um projeto existencial



Cidade do Vaticano, 14 jul 2022 (Ecclesia) – O Dia Mundial dos Avós e dos Idosos deste ano vai ser celebrado a 24 deste mês e todas as dioceses, paróquias e comunidades eclesiais são chamadas a celebrar este dia cujo tema deste ano, indicado pelo Papa Francisco, é «Dão fruto mesmo na velhice» (Sl 92, 15).

Desta forma, como sugere na
mensagem preparada para a ocasião, o Papa Francisco deseja oferecer aos idosos um projeto existencial, serem “artífices da revolução da ternura”, realça uma nota enviada à Agência ECCLESIA.

Nesse domingo, às 10h00, na Basílica de São Pedro (Vaticano) o Cardeal Angelo De Donatis preside à celebração eucarística, mas todas as dioceses do mundo são convidadas a celebrar o Dia Mundial com uma liturgia dedicada aos idosos.

“Existem duas formas de participar no Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, sugeridas pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida: celebrando uma missa ou visitando os idosos sozinhos.

Em 2021, o Papa Francisco estabeleceu que este dia mundial seria celebrado todos os anos, no quarto domingo de julho, em proximidade da festa de São Joaquim e Sant’Ana, avós de Jesus.

Este ano será a 24 de julho, no mesmo dia, o Papa Francisco inicia uma viagem apostólica ao Canadá, durante a qual está prevista uma visita ao Santuário de Sant’Ana e um encontro com jovens e idosos numa escola primária de Iqaluit.

LFS

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Só é livre quem é firme



É um erro enorme julgar que a liberdade é a capacidade de ter sempre por onde escolher. Não é.

Depois de se ter escolhido um caminho é preciso ser fiel a ele. Afastando as tentações para mudar de rumo, que aparecem assim que começam a surgir adversidades mais fortes.

Ser livre é dizer ‘sim’ a uma opção e ‘não’ a todas as outras. Resistindo ao tempo, às aparências e aos apetites. Continuando, mesmo quando o mal nos seduz a voltar atrás e ficarmos ali… sem escolher nada. É curioso como o mal nos quer sempre desviar do bem, ao ponto de as contrariedades inesperadas poderem ser uma espécie de sinal de que estamos no caminho certo!

Talvez tudo comece com a descoberta dos nossos valores. É necessário tempo e serenidade para chegarmos às profundezas do nosso coração e para lá encontrarmos essas balanças e bússolas, que sabem pesar as hipóteses e apontam para o bem.

Depois, assim que surge uma possibilidade de escolha, temos de escolher de acordo com o que somos e com o que queremos ser.

No exato instante em que decidimos, não se acaba a liberdade, antes sim começa a sua etapa mais bela e importante: sermos fiéis a nós mesmos. Sem temores nem tremores, porque de nada vale a alguém a maior riqueza do mundo, se se perdeu de si mesmo, se se quis desviar em busca de ser outro…

E se tivermos escolhido mal? Se cometermos um erro? Então, não voltamos atrás. Assumimos o fracasso, e todas as consequências, e seguimos adiante, sem desculpas nem explicações. Com renovada responsabilidade para nos escolhermos bem, para nos escolhermos melhor.

Ser livre não é querer tudo, tentado até escolher duas ou três coisas ao mesmo tempo. Voltando atrás assim que nos sentimos a perder algo bom de um outro caminho.

Estamos condenados, e ainda bem, a escolher um caminho. Um só.

Ser livre é saber querer, mas é, em especial, saber ser leal ao que escolhemos antes.

Ser livre é comprometer-se consigo mesmo.


José Luís Nunes Martins

terça-feira, 12 de julho de 2022

Onde estamos? Para onde vamos?


Nunca, como hoje, procuramos e ansiamos tanto pela felicidade. No entanto, parecemos cada vez mais distantes de alcançá-la. Tudo nos parece satisfazer de forma instantânea. Parece que nada em nós se estende ou prolonga. Vivemos sempre sedentos pela novidade e pelo que ainda não temos.

Nunca, como hoje, falamos tanto de amor. Mas a verdade é que é bem visível o aumento de manifestações de ódio e discriminação pelos diferentes países. Falamos de direitos e defendemos todas as causas e mais algumas, mas ateimamos em não conseguir posicionar-nos no equilíbrio, sem cairmos na ceguez do extremismo que não nos permite analisar a vida para além de uma visão monocromática. Não há histórias de vida simples. Não existem decisões simples. Há um caminho. Há opções tomadas num determinado momento. E, como tal, mais do que um posicionamento rígido (seja ele liberal ou conservador) precisamos da capacidade de olhar o outro, escutá-lo e acolher a sua vivência sem julgamentos.

Nunca, como hoje, tivemos acesso a tanto conhecimento, mas a verdade é que não sabemos dar uso ao mesmo. Trocamos informação. Caímos em "achismos". E damo-nos inclusive ao prazer de fabricar fake news. Desejamos e dizemos lutar pela verdade, mas não somos capazes de lidar com a mesma. Não sabemos dar voz à mesma para que exista verdadeira democracia. Precisamos de filtrar. Precisamos de analisar e de apresentar factos. Só desta forma podemos contrapor argumentos, fundamentar posições e criar significados nas nossas vidas.

Vivemos dias atribulados. Em todo o mundo. E com preocupações que nos afetam a todos diariamente (alterações climáticas, refugiados, guerras, violação de direitos humanos, etc.). E, apesar de não podermos mudar o Mundo, somos responsáveis por tomar conta do nosso quintal. Cultivando-o com amor, escuta ativa e agência fundamentada. Somos todos responsáveis pelo nosso quintal e quanto melhor o plantarmos, mais fácil será combater a "sede" e a "fome" de tantos e tantas.

Em dias de enorme instabilidade, faz a diferença quem souber, usando a sua vida, aliar o conhecimento ao coração.


Emanuel António Dias


segunda-feira, 11 de julho de 2022

​​​«Gestos…»​​​


Não somos metade. Somos um todo.

Carregamos no peito as palavras que guardamos e os silêncios que partilhamos.
Tatuamos nas mãos os sonhos mais remotos e os desejos concretizados.
Esboçamos sorrisos para criarmos harmonia e limpamos lágrimas para atenuar a dor.
Abrimos os braços ao contemplar a cruz e fechamos os olhos ao saborear o Pão da Vida.
Somos os seguidores de Jesus, Daquele que é a Palavra, é o rosto do Deus Pai.
Somos membros do Corpo d’O Cristo que é a cabeça da Igreja.
Somos Gestos definidos e concretos!

,A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum, do ano C,
arranca-nos todas as desculpas que poderíamos elaborar, para não nos assumirmos como Baptizados.
Mas, é no Evangelho, que O Mestre das Parábolas ensina-nos quem é o nosso Próximo,
qual é a nossa Missão de Filhos muito amados de Deus.
Na bela história do Bom Samaritano, Jesus não quer julgar quem não faz…
quer enaltecer, exultar, elevar… quem faz!
e… com um olhar de Amor diz a mim, a ti, a cada um de nós: «Então vai e faz o mesmo».

Tu, que albergas no coração e na boca a Palavra de Deus,
nestes tempos de calor e magia…
onde o mar e campo são encontro…
onde o céu estrelado e o nascer do sol são partilha…
onde as flores são adornos, mais belas que o ouro…
onde o pão basta para sentarmos a humanidade inteira à volta da mesma mesa…
TU e EU… NÓS somos os únicos que sabemos que onde há Amor, nascem gestos!

Então vai e AMA…

Nestas merecidas férias…
Não te afastes do Corpo d’O Cristo, nem feches os olhos perante quem sofre.
Cumpre as palavras assumidas no teu Baptismo.
Ama Deus na Eucaristia e o teu Próximo onde quer que o encontres!


Liliana Dinis

domingo, 10 de julho de 2022

AMOR A DEUS E AOS OUTROS

 


A liturgia deste domingo procura definir o caminho para encontrar a vida eterna. É no amor a Deus e aos outros – dizem os textos que nos são propostos – que encontramos a vida em plenitude.
O Evangelho sugere que essa vida plena não está no cumprimento de determinados ritos, mas no amor (a Deus e aos irmãos). Como exemplo, apresenta-se a figura de um samaritano – um herege, um infiel, segundo os padrões judaicos, mas que é capaz de deixar tudo para estender a mão a um irmão caído na berma da estrada. “Vai e faz o mesmo” – diz Jesus a cada um dos que o querem seguir no caminho da vida plena.
A primeira leitura reflecte, sobretudo, sobre a questão do amor a Deus. Convida os crentes a fazer de Deus o centro da sua vida e a amá-lo de todo o coração. Como? Escutando a sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos seus mandamentos.

Encontramos espaço e disponibilidade para interrogar o nosso coração e para escutar o Deus que fala, que Se revela, que nos desafia e questiona?

 Pode acontecer que os nossos interesses egoístas, as nossas ambições, as nossas paixões, os nossos esquemas e projectos pessoais abafem a voz de Deus e nos impeçam de escutar as suas propostas. Quais são, para mim, essas outras “vozes” que calam a voz de Deus? Que lugar ocupam elas na minha vida? Em que medida elas contribuem para definir o sentido essencial da minha existência?Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que propõe Cristo como a referência fundamental, como o centro à volta do qual se constrói a história e a vida de cada crente. O texto foge, um tanto, à temática geral das outras duas leituras; no entanto, a catequese sobre a centralidade de Cristo leva-nos a pensar na importância do que Ele nos diz no Evangelho de hoje. Se Cristo é o centro a partir do qual tudo se constrói, convém escutá-l’O atentamente e fazer do amor a Deus e aos outros uma exigência fundamental da nossa caminhada.

Para muitos dos nossos contemporâneos, Jesus não é uma referência fundamental. Quando muito, foi um homem bom, que deu a vida por um sonho, um visionário, um idealista, que a história se encarregou de digerir e que hoje é, apenas, uma peça de museu; por isso, não tem qualquer espaço nas suas vidas. Como podemos testemunhar a nossa convicção de que Ele é o centro da história e de que Ele está no princípio e no fim da história da salvação?

“E quem é o meu próximo?” Excelente questão a deste doutor da lei à procura de precisão e de uma boa receita “para ter a vida eterna”. Porém, não há resposta pré-estabelecida, nem nos lábios de Jesus, nem na Internet… “Amarás!” Resposta vasta como o mundo! No caminho da nossa semana procuremos inventar a nossa relação com os irmãos reencontrados: evitar? ignorar? aproximar-se? Quem será o nosso próximo? Mas sobretudo, de quem nos tornaremos nós próximos? De quem nos vamos aproximar concretamente para pôr em acção este convite a amar? “Então, vai e faz o mesmo!”, diz-nos Jesus.


https://www.dehonianos.org/