sábado, 9 de julho de 2022

Amar-nos é a partida de um sonho sem chegada



Quantas vezes nos agradecemos? Quantas vezes nos agradecemos pelas lutas que travamos, por tudo o que conseguimos, por todos os esforços que fazemos diariamente, quantas vezes nos agradecemos?

Somos capazes de ser gratos aos outros, à vida, aos colegas, à família, à natureza, a Deus. Somos capazes de reconhecer o bom nos outros, de sentir o talento quando o vemos. Somos capazes de perceber os esforços que os outros fazem. Somos capazes de ver Deus nos outros, de ver o trabalho que têm e elogiá-lo, mas e nós?

Somos capazes de nos agradecer? Somos capazes de reconhecer o nosso talento? Somos capazes de ver a bondade em nós? Atrevemo-nos a elogiar-nos? Somos capazes de ver Deus em nós?

Habituamo-nos demasiado bem a ver-nos os defeitos. Apelidamo-nos de perfecionistas, mas na verdade somos bons a culparmo-nos pelos sítios aonde não fomos, as coisas que não fizemos, os lugares aonde não chegamos, as pessoas que não ouvimos e a quem ainda não ajudamos. Mas e a nós somos capazes de cuidar? Somos capazes de nos dar a mão? Somos capazes de nos abraçar? Somos capazes de nos escutar? Somos capazes de nos reconhecer as qualidades?

Ousemos parar.

Ousemos começar a ver-nos por inteiro. Ousemos observar-nos. Ousemos ver luz e sombra. Atrevamo-nos a assumir que há Deus em nós, que somos sua obra e que também há algo de sagrado em nós, que há Deus em nós! Lembremo-nos que se “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom.” (Gn 1, 31a) quem somos nós para duvidar?

Abandonemos aos poucos os hábitos de culpa, de cobrança, de perfeição. Cultivemos hábitos de amor, de cuidado, de compaixão, de ternura e de carinho para connosco.

Um dia citando o mandamento de amor de Jesus: ”ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt22, 37b) desafiaram: “somos capazes de amar aos outros, mas e a nós? como está o nosso amor por nós?”

Precisamos de olhar o mandamento dos dois lados, não apenas na vertente do amor ao próximo. O verdadeiro desafio é amar o outro como a nós mesmos. A ousadia do mandamento do amor de jesus não é somente amar o próximo, é amar-nos! E bem sabemos que por vezes é mais fácil amar o que está fora de nós, perdoar, entender e amar os outros que a nós mesmos.

Amemo-nos. Cuidemo-nos. Sejamo-nos gratos. Reconheçamos tudo o que somos e fazemos. E, veremos que fazendo-o também somos capazes de amar melhor o mundo. Salvar o mundo passa também por salvar-nos. Amar o mundo e os outros passa também por amar-nos. Cuidar do mundo passa também por cuidar-nos.


Paula Ascenção Sousa


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