terça-feira, 19 de julho de 2022

O que nos tira o sono?



Dormimos mal. Parece que, por muito que o corpo precise de descanso, a cabeça não quer deixar. Faz-nos, diariamente, um desfile com as nossas maiores preocupações, com os cenários imaginários (que dificilmente se concretizarão), com as possibilidades de tragédia, de abandono, de não merecimento, de fracasso, de não-perdão, de não-aceitação.

Dormimos mal porque pensamos demasiado. A quantidade de pensamentos é avassaladora e a qualidade destes deixa muito a desejar.

Como o dia nos ocupa a nossa estrutura mental, pessoal e emocional, parece que nos resta aquele pedacinho de tempo antes de cair no sono para pensar em tudo o que nos atropelou e atropela. Em tudo o que passou por nós e não nos passa. Em todas as palavras ditas e não ditas. Por nós e pelos outros.

Eu sei. É difícil dormir bem quando aquilo que ouvimos só rima com mal. Com fracasso. Com possibilidades de uma vida que terá muito mais de trágica do que de cómica ou saudável. Ou é a guerra que não acaba. Ou os preços das casas que não descem. Ou o crash imobiliário que ninguém sabe se chega. Ou os médicos e enfermeiros que andam zangados. Ou os professores que estão em vias de extinção. Ou o preço da gasolina que não desce. Ou os incêndios. Ou isto ou aquilo.

Precisamos de encontrar espaço e tempo para nos distanciarmos desta loucura que nos quer tomar o coração, a saúde e os pensamentos. Há muito que não depende de mim, nem de ti. Há muita coisa que nem eu nem tu poderemos resolver, por muito grande que seja a nossa vontade.

Naquilo que depende de ti, o que podes fazer diferente?

Naquilo que depende de ti, onde podes dizer não?

Encontra tempo para o descanso. Para o cuidado da totalidade do que és. Os nossos pensamentos estão doentes, como nós e como esta sociedade estranha em que nos mergulhamos a cada dia. Mas a sociedade também és tu. Guarda-te e protege-te do que não pode ser mudado por ti; dos acontecimentos em que não podes interferir.

Pensa naquela pessoa querida que te melhora os dias.

Pensa naquele prato maravilhoso que te faz lembrar os tempos da tua infância.

Pensa naquele dia de gargalhadas que tiveste e que te fez expandir o coração.

Pensa naquela praia com pouca gente onde vais quando tens tempo.

Pensa em ti. No que há de bonito para ver além do que nos mostram.

Pensa em bom. Em bonito. Em amor. E faz a tua vida rimar com isso.


Marta Arrais

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