quinta-feira, 6 de abril de 2023

O Traidor




Trair não é só trair o outro, é trair a si mesmo. Trair é deitar fora o melhor de nós, é desprezar a nossa própria identidade e vocação.

Nós também, como Judas, podemos vender Jesus por trinta moedas. Podemos escolher o caminho mais fácil, mais cômodo, mais seguro, o caminho que todos aplaudem, mas que nos afasta de Deus e dos outros.

Judas está preso entre o dinheiro e o amor, entre o poder e a ternura. Ele não é diferente de nós. Todos, em certo momento, precisamos escolher entre o que nos aprisiona e o que nos salva, entre o que nos dá segurança e o que nos faz crescer, entre a aparência e a verdade, entre a morte e a vida. Essa é a luta que nos constitui.

Pois, Jesus não escolheu discípulos sem defeitos, sem fraquezas, sem sombras. Escolheu homens e mulheres, como nós, que experimentam a tentação, o cansaço, a dor, a incompreensão. E, no entanto, Ele confia neles, acredita neles, ama-os. É assim que o amor de Deus se manifesta.

Queridos irmãos e irmãs, a vida não é feita apenas de escolhas fáceis, a vida é uma sucessão de desafios, de decisões que nos marcam para sempre. Judas escolheu o caminho da traição, mas, mesmo assim, Jesus não o excluiu, não o amaldiçoou, não o deixou sozinho. Judas é um convite a que olhemos com compaixão para todos os que erram, para os que caem, para os que se perdem.

| Cardeal José Tolentino Mendonça

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