O que é que em mim ainda não foi ressuscitado? Esta tem sido a questão que me tem acompanhado nos últimos dias. Ciente da importância da ressurreição de Jesus Cristo para a minha fé e para a minha vida, compreendo que a ressurreição não me pode deixar na mesma. A ressurreição comemorada no Domingo de Páscoa não pode ficar fechada à espera de que tudo se volte a repetir no próximo ano. Tenho de ser eu, com tudo o que sou e faço, a verdadeira visita pascal (ou também tradicionalmente conhecida por compasso). Sim, tenho de ser eu e tu. Temos de ser nós, que acreditamos nesta loucura, a marcar o compasso das nossas vidas com a alegria de nos sabermos erguidos. Temos de ser nós, com a nossa irreverência e inquietude, a abanar com o “mofo” existente na sociedade e na nossa Igreja para que também sejam lavadas com o mesmo exagero e cuidado que Maria fez com Jesus ao derramar-lhe um perfume de nardo extremamente caro.
O que é que em mim ainda não foi ressuscitado? O que é que ainda não me permiti perdoar, a mim e aos outros? O que é que ainda não fui capaz de mudar? O que é que em mim ainda não tem vida? Quais as sombras em que ainda não permiti que Ele levasse a Sua Luz?
Acreditar na ressurreição é exigente, no entanto é também extremamente libertadora. E se nos liberta, porque não devemos libertar os outros? Sem imposições, sem fanatismos, mas convidando. Deixando que o nosso testemunho seja desafiante ao ponto de os outros quererem saber mais, de quererem sentir mais, de quererem vivenciar cada vez mais de perto esta nossa loucura.
A ressurreição começa sempre à volta da mesa do altar. Reunidos e alimentados pela Palavra. Reunidos e alimentados pelo Seu corpo partilhado e pelo Seu vinho de alegria, mas a verdadeira ressurreição acontece todos os dias da nossa vida. Do outro lado da igreja, sim, do lado de fora. A ressurreição acontece na Eucaristia da nossa vida, isto é, acontece naquilo que somos e fazemos pelos outros e para os outros sabendo que testemunhamos Aquele que nos é tudo e nos dá tudo!
Se professo a ressurreição sem alegria e de cabisbaixo, como poderão os outros acreditar em mim e em Deus? Se não me sinto erguido como poderão os outros acreditar em mim e em Deus? Se me considero erguido e não sou capaz de erguer a vida de outros, como poderão acreditar em mim e em Deus?
Sejamos a ressurreição, sejamos o amor que ergue todos seja em que altura for ou em que condição se encontre!
Emanuel António Dias
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