A liturgia do 5.º Domingo do Tempo Comum coloca-nos face a questões que, desde sempre, inquietaram os seres humanos: qual o sentido do sofrimento e da dor que acompanham a caminhada do homem pela terra? Qual a “posição” de Deus face aos dramas que marcam a nossa existência? A Palavra de Deus que hoje escutamos não tem respostas absolutas para estas questões; mas deixa-nos uma certeza fundamental: o projeto que Deus tem para nós não é um projeto de morte, mas é um projeto de felicidade e de vida sem fim.
Na primeira leitura, um crente chamado Job comenta, com amargura e desilusão, o facto de a sua vida estar marcada por um sofrimento atroz e de Deus parecer ausente e indiferente face ao desespero em que a sua existência decorre… Apesar disso, é a Deus que Job se dirige, pois sabe que Deus é a sua única esperança e que fora d’Ele não há possibilidade de salvação.O sofrimento – sobretudo o sofrimento do inocente – é o drama mais inexplicável que atinge o homem ao longo da sua caminhada pela história. Que razões há para o sofrimento de uma criança ou de uma pessoa boa e justa? Porque é que algumas vidas estão marcadas por um sofrimento atroz e sem esperança? Como é que um Deus bom, cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, Se situa face ao drama do sofrimento humano? A única resposta honesta é admitir que não temos explicações definitivas para realidades que nos ultrapassam absolutamente. O “sábio” autor do livro de Job lembra-nos, a este propósito, a nossa pequenez, os nossos limites, a nossa finitude, a nossa incapacidade para entender os mistérios e os caminhos de Deus; mas deixa-nos também uma certeza fundamental: dê a vida as voltas que der, Deus ama-nos com amor de pai e de mãe e quer conduzir-nos ao encontro da vida verdadeira e definitiva, da felicidade sem fim… O nosso mundo está cheio de dramas que nos deixam sem palavras… Talvez nem sempre sejamos capazes de entender os caminhos de Deus; mas, mesmo quando as coisas não fazem sentido do ponto de vista da nossa lógica humana, resta-nos confiar no amor e na bondade do nosso Deus e entregarmo-nos confiadamente nas suas mãos. Como é que lidamos com as questões que nos ultrapassam e põem em causa a nossa visão do mundo e da vida? Somos capazes de confiar em Deus, a fundo perdido, mesmo quando não compreendemos a lógica das suas decisões?
No Evangelho manifesta-se a eterna preocupação de Deus com a felicidade dos seus filhos. Na ação libertadora de Jesus em favor dos homens, começa a manifestar-se esse mundo novo sem sofrimento, sem opressão, sem exclusão que Deus sonhou para os seus filhos e filhas. O texto sugere, ainda, que a ação de Jesus tem de ser continuada pelos seus discípulos.O exemplo de Jesus mostra que o aparecimento do “Reino de Deus” está ligado a uma vida de comunhão e de diálogo com Deus. Rezar não é fugir do mundo ou alienar-se dos problemas do mundo e dos dramas dos homens… Mas é uma tomada de consciência dos projetos de Deus para o mundo e um ponto de partida para o compromisso com o “Reino”. Só na comunhão e no diálogo íntimo com Deus percebemos os seus projetos e recebemos a força de Deus para nos empenharmos na transformação do mundo. No meio da azáfama do dia a dia, conseguimos reservar momentos para o encontro e o diálogo com o Pai? Estamos conscientes da importância de escutar o Pai, de tentar entender e acolher os seus projetos para nós e para o mundo?
Na segunda leitura, Paulo de Tarso revela aos coríntios – e aos crentes de todas as épocas e lugares – que o amor é o princípio fundamental que guia cada um dos seus passos. Foi por amor que ele se fez servidor do Evangelho, sem exigir nada de ninguém. É de acordo com este princípio que os discípulos de Jesus devem viver.
A nossa sociedade é muito sensível aos direitos individuais e valoriza muito a liberdade. Trata-se, sem dúvida, de uma das dimensões mais significativas e mais positivas da cultura do nosso tempo… Contudo, a afirmação intransigente dos próprios direitos e da própria liberdade pode, por vezes, traduzir-se em prejuízo para os outros irmãos… Quando está em jogo o bem dos meus irmãos, onde começa e onde acaba a nossa liberdade?
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