terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

As máscaras que nos pomos

 

O Carnaval tende a ser uma forma descontraída de dizer uma coisa muito séria:

Todos vivemos mascarados. Ninguém consegue ser tão transparente que consiga revelar tudo o que é e todo o universo interior que o habita.

Todos precisamos de máscaras para sobreviver na selva social em que estamos mergulhados. Máscaras para o ambiente profissional, máscaras para estar com os amigos, máscaras para estar com a família, máscaras para quando não nos conhecem e queremos deixar uma boa impressão.

Claro que é inevitável usar máscaras no dia-a-dia, mas o perigo é deixar de saber onde começam e acabam. Onde somos mesmo nós ou a nossa capa preferida.

Mais ainda, o perigo é nunca permitirmos que os outros nos conheçam como realmente somos e acabarmos por perder a nossa essência.

Louise Borbeau explica-nos, num livro incrível, que as máscaras que adotamos estão relacionadas com as feridas que escondemos. São essas feridas, muitas vezes não vistas, que nos transformarão e determinarão a nossa forma de estar na vida.

Se eu tiver medo de ser rejeitado nunca deixo realmente que os outros se aproximem de mim. Se eu tiver medo de ser abandonado vou fazer de tudo para agradar os outros e para garantir que não se vão embora.

Por isso, mais do que perceber e ter consciência das máscaras que usamos é importante perscrutar as feridas que podem existir dentro de nós por curar. É nestas que está a chave. Tudo aquilo que não queremos ver torna-se gigante para nos obrigar a viver um confronto inevitável. Todas as vezes que não ouvimos (ou ignoramos) o corpo, a mente ou o espírito qualquer um deles vai encontrar formas colossais de nos chamar a atenção. Mais vale querer ver. Mais vale quereres ver-te.

O Carnaval pode ser uma festa muito divertida, mas ninguém há de querer andar mascarado o ano inteiro. Verdade?

Marta Arrais

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