domingo, 21 de julho de 2024

O Senhor é meu Pastor

 



A liturgia do 16.º domingo comum fala-nos do carinho de Deus pelas “ovelhas sem pastor”. Diz-nos que Deus olha com amor de pai e de mãe para aqueles homens e mulheres que vivem desorientados e à deriva, os que não têm quem os guie, defenda e alimente. No coração e na preocupação de Deus esses ocupam um lugar bem especial.

Na primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Deus condena os “pastores” indignos, aqueles que usam o “rebanho” que lhes foi confiado para concretizar os seus próprios projetos pessoais; e, paralelamente, anuncia que vai, Ele próprio, tomar conta do seu “rebanho”, assegurando-lhe a Vida em abundância.

As palavras de Jeremias contra os “pastores” que se aproveitam do rebanho em benefício próprio talvez nos tenham levado a apontar imediatamente para alguns líderes humanos que conhecemos e que consideramos responsáveis por boa parte do sofrimento que desfeia o nosso mundo… Na verdade, a história humana – mesma a mais recente – está cheia de situações em que as pessoas encarregadas de cuidar da comunidade humana usam o “rebanho” em benefício próprio e magoam, torturam, roubam, assassinam, privam de vida e de felicidade as pessoas que Deus lhes confiam… Teremos alguma responsabilidade – pela nossa indiferença, pelo nosso comodismo, pela nossa instalação, pelo nosso receio de denunciar – em tudo isso? E nós próprios, como é que lidamos com aqueles cuja responsabilidade Deus nos confiou: na família, no emprego, na Igreja? Procuramos colocar o bem de cada pessoa que caminha ao nosso lado acima dos nossos interesses e projetos pessoais?

O Evangelho conta-nos como é que Jesus responde à fome de Vida e de esperança daqueles que o procuram. “Profundamente comovido” com o desnorte das “ovelhas perdidas” que correm atrás d’Ele pelas vilas e aldeias da Galileia, Jesus oferece-lhes a Boa notícia do Reino e do projeto humanizador que Deus tem para o mundo e para os homens. A missão de Jesus também é a missão dos discípulos. Para a concretizar, estes devem manter uma estreita comunhão com Jesus.

A Igreja será sempre a “casa de Jesus”, a casa onde Jesus a todos acolhe com amor. Muitos dos homens e mulheres que partilham connosco o caminho e que se sentem perdidos e desorientados “como ovelhas sem pastor” voltam-se para a comunidade cristã à procura de ajuda, de orientação, de compreensão, de acolhimento… Como é que a nossa comunidade cristã responde a essa procura? Com um elenco de normas, de obrigações, de mandamentos, de regras rígidas, de proibições, de discursos cheios de dogmas e de chavões teológicos, ou com o olhar compadecido e compreensivo de Jesus? As nossas comunidades cristãs são o “hospital de campanha” onde aqueles que a vida magoou podem curar as suas feridas e experimentar a compreensão, o amor, a ternura, a misericórdia de um Deus bom, que é pai e mãe para todos os seus filhos e filhas? A nossa Igreja é rosto de Jesus para os homens e mulheres do nosso tempo?

Na segunda leitura Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Éfeso, fala-lhes do desígnio salvador de Deus. Esse desígnio abrange todos os filhos e filhas de Deus, sem distinção de raças, de etnias, de diferenças sociais ou culturais, de experiências religiosas. Deus a todos quer salvar, a todos quer reunir à sua volta. Reunidos na família de Deus, todos os que acolhem o convite à salvação são agora irmãos, unidos pelo amor.

Domingo após domingo a palavra de Deus recorda-nos o projeto de salvação que Deus preparou em nosso favor. A repetição não incomoda: trata-se da questão mais decisiva quanto ao sentido da nossa vida, uma questão que deve estar sempre diante dos nossos olhos para dar sentido ao caminho que vamos percorrendo na história. No entanto, a segunda leitura deste décimo sexto domingo comum põe em relevo um aspeto essencial desse projeto: ele abrange todos os filhos e filhas de Deus, sem distinção de raças, de etnias, de diferenças sociais ou culturais, de experiências religiosas. Deus não faz aceção de pessoas, Deus não discrimina os seus filhos; a todos Ele quer salvar, a todos Ele quer reunir à sua volta. Nós, seres humanos, inventamos fronteiras para proteger as nossas possessões, criamos espaços onde só alguns privilegiados podem aceder, decidimos quem merece e não merece a nossa atenção e o nosso acolhimento; mas Deus enviou-nos o seu Filho Jesus para abolir as barreiras que nos separam, para destruir as velhas inimizades e para nos inserir numa única família, a família de Deus. Que implicações tem isto na nossa forma de ver Deus, de ver a vida e de ver os irmãos que caminham ao nosso lado?


www.dehonianos.org

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