No Domingo da solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, celebramos o Dia Mundial da Juventude. Entre nós, fá-lo-emos na véspera, no próximo sábado, na vila de Gavião, desejando que toda a Diocese congregue sinergias, ajudando a promover tão feliz evento e facilitando a participação dos destinatários. Os jovens representam a esperança e a alegria do mundo e da Igreja. O seu entusiasmo, a sua energia, a sua capacidade criativa, o seu gosto pela vida e pelas coisas da vida, contagiam, estimulam, fazem mexer pessoas e comunidades, são o presente e o futuro.
O Papa Francisco pescou o mote da sua Mensagem do Livro da Consolação de Isaías. Daquele contexto em que o profeta anuncia ao sofrido Povo de Deus o regresso do exílio da Babilónia, na esperança de um novo rumo para a sua vida e para a sua história: “Aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar” (Is 40,31).
Se, naquele tempo, o povo vivia tempos difíceis, também hoje, recorda o Papa, vivemos “tempos marcados por situações dramáticas que geram desespero e nos impedem de olhar para o futuro com espírito sereno: a tragédia da guerra, as injustiças sociais, as desigualdades, a fome, a exploração do ser humano e da criação”. E são os jovens quem paga o preço mais alto desta situação, pois sentem a incerteza do futuro e não vislumbram perspetivas seguras para os seus sonhos, correndo o risco de viverem “sem esperança, prisioneiros do tédio e da melancolia, por vezes arrastados para a ilusão da transgressão e das realidades destrutivas”.
Uma vida assim sem sentido, porém, não convém, não interessa, não realiza, empobrece cada vez mais, deixa mais vazio no interior de cada um. Todos aspiramos a uma vida com sentido, e se outra razão não existisse haveria aquela que é a mais fundamental de todas: “fomos criados por Aquele que é infinito e, por isso, em nós habita o desejo de transcendência, a inquietação contínua para a realização de aspirações maiores, para um “algo a mais”. Assim, vamos sentindo a vida como uma peregrinação contínua. Ou, como afirma Francisco, como “uma jornada que nos empurra para além de nós mesmos, um caminho em busca da felicidade”. E, para nós, a vida cristã “é uma peregrinação em direção a Deus, à nossa salvação e à plenitude de todo o bem”.
Neste peregrinar, porém, pode surgir o cansaço, é normal. Pode começar-se com alegria e entusiasmo e mais além sentir o cansaço. Diz Francisco que, nalguns casos, “o que provoca ansiedade e cansaço interior são as pressões sociais para atingir determinados padrões de sucesso nos estudos, no trabalho e na vida pessoal. Isto produz tristeza, pois vivemos no afã de um ativismo vazio que nos leva a preencher os nossos dias com mil coisas e, apesar disso, a sentir que nunca conseguimos fazer o suficiente e que nunca estamos à altura. Este cansaço é muitas vezes acompanhado pelo tédio. É o estado de apatia e de insatisfação de quem não se põe a caminho, não decide, não escolhe, nunca arrisca e prefere ficar na sua zona de conforto, fechado em si mesmo, vendo e julgando o mundo por detrás de uma tela, sem nunca “sujar as mãos” com os problemas, com os outros, com a vida”.
A solução para o cansaço “não é ficar parado para descansar”. Reclama-se “um repouso mais profundo, o repouso da alma, que muitos procuram e poucos encontram, e que só pode ser encontrado em Cristo”. Descansar como Jesus e em Jesus é um convite que Jesus nos faz: “Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6,31). Esse lugar para onde nos podemos retirar, estar com Jesus e sentir Jesus a caminhar connosco é a Eucaristia. Francisco torna presente o que afirmava Carlo Acutis: “a Eucaristia é a autoestrada para o céu”. Ela torna-nos peregrinos da esperança”. E a esperança não engana, não desilude, funda-se na fé, faz saber que a própria tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, a firmeza a esperança que nos leva a vencer “todo o cansaço, toda a crise e toda a ansiedade, dando-nos uma forte motivação para avançar, porque é um dom que recebemos do próprio Deus”.
A Mensagem para este Dia Mundial dos Jovens acentua que a caminhada da vida não se pode fazer “como meros turistas, mas como peregrinos”. É um caminho interior que não permite que passemos pelos lugares da vida de forma superficial, sem captar a beleza do que se encontra, sem descobrir o sentido dos caminhos percorridos, mas mergulhando de alma e coração nos lugares que encontra, fazendo-os falar, tornando-os parte da sua busca de felicidade.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 18-11-2024.
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