quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A esmola e o dom


A esmola e o dom

Esta nossa vida é um dom que recebemos sem o termos pedido, somos todos mendigos, mas podemos ser todos esmola.

Quem nos estende a mão pede-nos, antes de tudo o mais, o olhar, para que o nosso se encontre com o seu. Que não nos seja indiferente e que façamos parte do seu caminho.

Não perdemos a nossa dignidade quando pedimos algo... menos ainda quando aceitamos com humildade o que o outro nos dá.

A esmola nada muda, quem pede continua pobre e quem deu não deixa de ser rico, apenas enaltece a humildade de se reconhecer a fragilidade e estender a mão ao encontro.

Tal como alguém decidiu precisar de mim para realizar o seu projeto, também eu preciso dos outros para concretizar o que sou. O que muitas vezes consideramos esmolas, são dons. Encontros em que todos começam por assumir a sua fragilidade e em que, depois, cada um sai bem mais forte.

Ser dom não é dar o que se tem em excesso, antes sim, o que podendo até fazer-nos falta a nós, talvez o faça ainda mais ao outro. Não para que ele nos agradeça, antes sim para que receba o amor e possa, também ele, amar. A maior de todas as riquezas é dar a vida, como dom, a quem isso faça diferença.

Amar é olhar o outro nos olhos e reconhecer nele um igual. Quer peça ou quer dê. É sempre o mesmo.

Esmola é dar o que não preciso. Dom é dar o que o outro precisa.

Amar é estender ao outro as nossas mãos. Puras. Vazias de coisas, mas cheias de amor.
[Ilustração de Carlos Ribeiro]

Publicado originalmente em 
iMissio


José Luís Nunes Martins

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