domingo, 6 de dezembro de 2015

ESPOSA EXAGEROU: MARIDO SOUBE DESCULPAR

“O perdão entre os esposos permite redescobrir a verdade de um amor que é para sempre e que não passa. No âmbito das relações familiares, a necessidade de reconciliação é praticamente quotidiana. (…) Um pacto ferido pode ser recomposto” (Sínodo da Família, 81).


D. Antonino Dias

Na terra de Hus, existiu um homem chamado Job. Era íntegro e reto, muito feliz com a sua esposa, os sete filhos e três filhas. Possuía um sem número de ovelhas, camelos, bois, jumentos e um sem número de servidores. Era o homem mais importante de todos os homens do Oriente, lá pelo século VI, antes de Cristo.
Dia após dia, sem razão que o justificasse, ficou reduzido à miséria. Os próprios filhos morreram esmagados, durante uma festa, debaixo de uma casa que ruiu por causa de um furacão. Por fim, ele próprio ficou numa chaga viva, desde a planta dos pés ao alto da cabeça. Era tal o seu sofrimento que chegou ao ponto de pegar num caco de telha para se coçar. Tudo suportou com uma paciência infinita, sem revolta nem protestos, sem cometer pecado nem dizer qualquer estroinice contra Deus. A sua atitude tornou-se proverbial e ainda hoje usamos a expressão: “paciência de Job”. Muito mais impaciente andava a sua mulher que, com ele, quando tudo corria bem, também era muito feliz. Na hora da prova, porém, não acompanhou Job, não o compreendeu no sofrimento, não lhe incutiu coragem e esperança. Considerou-o culpado da desgraça que lhes bateu à porta, incitou-o à revolta e manifestou-se nervosa e fora do bom senso. Afiou de tal modo a língua que, viperinamente, o mimoseou assim: “Persistes ainda na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de vez!” Mas ele é que não foi nessa. Se ela tinha pressa que fosse andando. Não se perturbou com o que ouviu e disse-lhe com muita serenidade: “falas como uma insensata. Se recebemos os bens das mãos de Deus, não aceitaremos também os males?” (cf. Job 1-2). De facto, quer fosse pelo cansaço da dedicação à doença do marido, quer fosse por lhe custar aceitar a pobreza inesperada e a morte dos filhos, quer fosse porque não aguentava mais tal situação, quer fosse por se sentir desencantada com Deus e com Job, quer fosse lá pelo que fosse, ela não esteve à altura do momento. Job não deitou lenha na fogueira, procurou entender a pedrada e desculpar a esposa. Continuou a enfrentar o sofrimento, agravado, por certo, com esta reação de quem ele menos esperava: da sua esposa! Job soube ouvir e perdoar. Não destruiu a ponte por onde passar. Perdoou, soube perder para que todos ganhassem. Não abandonou, não guardou rancor, não amuou, não encabritou, não levantou paredes. Soube ser fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Depois, como o amigo poderá verificar, o Livro de Job dá-nos conta dum longo debate entre um Job questionador e os seus amigos Elifaz, Baldad, Sofar e Eliú, numa tentativa de compreenderem, à luz da teologia da época, as razões do sofrimento.
Apesar dos trambolhões da vida e dum quotidiano tantas vezes acidentado, este é o caminho que uma família, ao se constituir, assume, com alegria esperança: viver sem que o amor entre num rame-rame sem sentido, sem que o amor perca o entusiasmo da primeira hora, sem que o encanto se perca, a magia desapareça, a agressividade se imponha, a indiferença reine, a novidade e a surpresa deixem de existir. “O perdão entre os esposos permite redescobrir a verdade de um amor que é para sempre e que não passa. No âmbito das relações familiares, a necessidade de reconciliação é praticamente quotidiana. (…) Um pacto ferido pode ser recomposto” (Sínodo da Família, 81).
Nesta primeira semana do advento, o Senhor mandou-nos vigiar e orar

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