quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

VENCE A INDIFERENÇA E CONQUISTA A PAZ



Em pleno ambiente de guerra fria, em que as potências disputavam a hegemonia política, económica e militar e o mundo vivia sob a ameaça da guerra das estrelas, o Papa Paulo VI, em 1968, instituiu, no primeiro dia de cada ano, o Dia Mundial da Paz. Desde então, os Papas têm redigido, em cada ano, uma Mensagem especial para este dia. Francisco não foge à regra e sujeitou a Mensagem deste ano ao mote: VENCE A INDIFERENÇA E CONQUISTA A PAZ.
Como sabemos, a paz é um dom de Deus, confiado aos cuidados e ao trabalho de cada um e de todos nós, sem exceção. Não nos podemos render “à resignação e à indiferença”, perante o sofrimento humano quase sempre causado pelo homem ao próprio homem.
Nessa Mensagem que eu desafio a que seja procurada na NET e lida na íntegra, o Papa alerta para o errado comportamento “de quem fecha o coração desinteressando-se dos outros, de quem fecha os olhos para não ver o que acontece ao seu redor ou se esquiva para não ser abalroado pelos problemas alheios”. Esta atitude da indiferença, diz ele, “carateriza uma tipologia humana bastante difundida e presente em cada época da história; mas, hoje em dia, superou decididamente o âmbito individual para assumir uma dimensão global, gerando o fenómeno da globalização da indiferença”.
Não é a primeira vez que o Papa aborda este tema da indiferença. Desta vez, porém, vem-nos recordar que a “primeira forma de indiferença na sociedade humana é a indiferença para com Deus, da qual deriva também a indiferença para com o próximo e a criação (…) O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e da sociedade; sente-se autossuficiente e visa não só ocupar o lugar de Deus, mas prescindir completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a ninguém, exceto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos.”
Mostrando-se consciente de tanta informação que hoje existe, ele afirma que “Infelizmente, temos de constatar que o aumento das informações, próprio do nosso tempo, não significa, de por si, aumento de atenção aos problemas, se não for acompanhado por uma abertura das consciências em sentido solidário. Antes, pode gerar uma certa saturação que anestesia e, em certa medida, relativiza a gravidade dos problemas”.
“Noutros casos, - continua o Papa - a indiferença manifesta-se como falta de atenção à realidade circundante, especialmente a mais distante. Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar e vivem o seu bem-estar e o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade sofredora. Quase sem nos dar conta, tornámo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete.” Esta indiferença denunciada pelo Papa, indiferença que provoca o fechar-se em si e o desinteressar-se pelos outros, acaba por contribuir para a falta de paz com Deus, com o próximo e com a criação, a casa comum. Além disso, tem repercussões na esfera pública e social e anda “de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece, e às vezes justifica, ações e políticas que acabam por constituir ameaças à paz.”
No espírito do Jubileu da Misericórdia, o Papa convida cada um “a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a adotar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho” (…) “Jesus adverte-nos: o amor aos outros – estrangeiros, doentes, encarcerados, pessoas sem-abrigo, até inimigos – é a unidade de medida de Deus para julgar as nossas ações.”




D.Antonino Dias ( Bispo Diocesano)

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