quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O que é um gesto de amor?




O amor exige-nos que não sejamos egoístas nem orgulhosos, pelo que a primeira das condições para uma obra de amor é que ela tenha apenas o outro em vista. Nunca devemos usar o outro para nos exibirmos, nem mesmo para nós mesmos.

A vaidade é um vício de quem procura aprovação no olhar dos outros e deseja que pensem bem a seu respeito. Criar esta cortina de ilusão é algo muito comum em quem não tem nada para mostrar. O orgulho é outro vício de quem se considera superior aos outros. É um caminho para a desgraça, porque o orgulhoso anda sempre sozinho.

Os nossos gestos de amor não devem servir para impressionar alguém; devem ser um movimento de generosidade que leva algo bom de nós ao outro.

Amar é dar-se, entregar o melhor de nós, para o bem de quem amamos.

O amor constrói-se com pequenas ações, não com gestos grandiosos e corajosos. A sua grandeza reside na subtileza das escolhas simples e corajosas – porque se acredita que o caminho é longo e tem de se fazer dia a dia, todos os dias, cada dia de forma diferente.

Qualquer gesto de amor, por mais pequeno que pareça, é grande.

O amor é atento. Quando só a felicidade do outro me faz feliz, preciso saber em que posso ajudá-lo de forma concreta. E não há dois dias iguais. Talvez haja momentos em que é preciso fazer algo maior, mas nos demais a presença e o silêncio são tão simples quanto valiosos e… difíceis de cumprir.

O sentido da vida consiste em encontrar e percorrer o caminho que sai de mim e me leva ao coração do outro, para que à janela do seu íntimo eu veja o mundo através do seu olhar. E em abrir-me ao outro com confiança… para que, ultrapassados os meus medos, o amor transforme as nossas duas fragilidades numa força capaz de lutar todos os dias por uma só felicidade, maior do que nós dois!

José Luis Nunes Martins

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Dia 29 de Setembro- Dia dos Santos Arcanjos





Santos anjos, nos protejam de todo o mal .




SÃO MIGUEL ARCANJO

Este Santo príncipe das milícias celestes, em contínua batalha contra as forças do mal, é celebrado pela Igreja em 29 de setembro. Ao longo da história e em todos os lugares do mundo, há edifícios e lugares sagrados, entre os mais diversos, dedicados ao nome deste defensor da Igreja e da fé cristã.

“São Miguel, ajude-nos na luta; cada um sabe qual luta tem em sua vida hoje. Cada um de nós conhece a luta principal, que faz arriscar a salvação. Ajude-nos."





SÃO GABRIEL ARCANJO

O nome Gabriel significa "força de Deus". Ele é um dos três Arcanjos que a Igreja celebra em 29 de setembro, junto com Miguel e Rafael. Este mensageiro de Deus teve a tarefa de anunciar a sua Vontade. No 1° de abril de 1951, Pio XII o proclamou Padroeiro das telecomunicações.

"São Gabriel, traga-nos notícias, traga-nos a Boa Notícia da Salvação, que Jesus está connosco, que Jesus nos salvou e nos dê esperança."





SÃO RAFAEL ARCANJO

O culto a São Rafael começou a partir do século XI. Sua festa litúrgica é celebrada em 29 de setembro, junto com os Santos arcanjos Miguel e Gabriel. Seu nome vem do hebraico "Rafa-El", que significa "remédio de El", em contraposição do nome do demônio Asmodeus, "aquele que faz perecer".

"São Rafael, segure a nossa mão e nos ajude no caminho para não errarmos a estrada, para não permanecermos parados. Sempre caminhando, mas ajudados por vós”.

https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia.html

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

UM ANO PASTORAL SOB A AMEAÇA DE MÁ COMPANHIA



Costuma dizer-se que a necessidade aguça o engenho e quem tem boca vai a Roma. Faz parte da vida a tarefa de nos desunharmos das situações difíceis e das crises que nos batem à porta. E as soluções vão surgindo a cada passo, umas mais envergonhadas e tímidas, outras mais audazes e felizes. No entanto, se algumas se apresentam como beco sem saída e a reclamar um sinal de sentido proibido, outras há, a maioria, que vão rasgando caminhos e abrindo portas a novas formas na arte do bem fazer. É bonito de se ver. Mais interessante é ter a coragem de arriscar, com as cautelas que a sã prudência exige, mas com a esperança de vencer os adamastores e sentir a alegria de ter passado além do cabo das tormentas.
Em jornais e páginas da Internet, corre amiúde o pensamento de Albert Einstein sobre o benefício das crises. Sem querer substituir os nossos “operários da verdade” e fazedores de opinião sobre tal matéria, e que são muitos, vou trazer à baila aquele cientista, esse génio da história, muito inspirado pelos livros de ficção científica, segundo rezam as crónicas, e cujos pais o levaram ao médico porque não havia maneira de começar a falar. Mas lá chegou o tempo de falar e falou muito e muito bem, como sabemos. Dizia ele: “Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo sem ter sido superado. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu próprio talento e respeita mais os problemas que as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a dificuldade para encontrar as saídas e as soluções. Sem crises não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos. É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento é uma carícia. Falar da crise é promovê-la, e calar-se na crise é exaltar o conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.
Se isso vale para todos os sectores do pensamento e da atividade humana, a pastoral é uma nobre e necessária atividade em prol da humanidade, tem de fazer parte desse arriscar e dum constante resolver, com competência e criatividade. Mesmo que não seja fácil, é o desafio, é a provocação. O autor da “Última tentação de Cristo”, referindo-se ao momento da morte de Cristo na Cruz, em que Ele, dolorosamente, afirma que “Tudo está consumado!”, esse autor diz que tal grito é um grito triunfal, não porque tudo finalmente tenha acabado, mas porque, realmente, tudo iria começar. Esta é a génese da história da evangelização que não nos permite que fiquemos a olhar para o céu ou a carpir mágoas como profetas da desgraça. Temos de viver como verdadeiros discípulos, de sair, ir e ensinar, com a força do Espírito. Dois mil anos depois, a evangelização ainda está a começar. Ela reclama a gratidão pelo “hoje” desse gesto do amor de Deus para com toda a humanidade. E a Igreja não pode esquecer que ficou incumbida de anunciar a todos os povos, sempre com o tal novo vigor, novo entusiasmo, nova linguagem, novas formas de ação, com criatividade, humildade, alegria, em sinodalidade...
Se as coisas tivessem corrido normalmente, sem a má companhia da covid-19, a abertura oficial do Ano Pastoral, teria acontecido no sábado passado, 26 de setembro. Houve, no entanto, uma bela iniciativa dos jovens diocesanos que em três locais da Diocese, se reuniram, à noite, em oração ao jeito de Taizé. Reuniram-se em conformidade com as normas sanitárias, mas muita gente participou através das redes sociais. Foi bonito e rico de sentido.
Como é do conhecimento de todos, uma das muitas consequências da pandemia, foi a alteração da data da Jornada Mundial da Juventude, adiada por um ano, para 2023. Se para muitos é um atraso e um transtorno, será para outros uma oportunidade, um tempo extra para fazer aquilo que urge fazer para estarmos prontos a tempo de fazer história neste que será um dos maiores ou mesmo o maior acontecimento eclesial em Portugal das nossas vidas.
É para lá que a Igreja portuguesa caminha, a nossa Diocese também. Queremos que este acontecimento não se limite a acontecer perto de nós, mas que aconteça connosco, nos jovens que se preparam para participar presencialmente, mas não só. A Jornada Mundial da Juventude, como horizonte, não é uma coisa apenas para os mais novos, nem apenas para o Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações, cuja dinâmica muito apreciamos e tem sido muito persistente mesmo nestes tempos de ação dificultada. É para todos! Queremos que seja para as comunidades a verdadeira baliza para a qual, todos unidos e não como qualquer pivô individualista, haveremos de, durante os próximos anos, apontar as nossas ações e escolhas. Se unidos e sem treinadores de bancada, se como verdadeira e forte equipa com amor à camisola, venceremos as resistências de qualquer guarda-redes, em comunhão paroquial e diocesana, com a força do Espírito.
Queremos que as comunidades estejam despertas para as exigências e as possibilidades evangelizadoras das pré-jornadas, como oportunidade de conversão pastoral, pelo acolhimento de jovens que atravessarão a nossa diocese em direção a Lisboa. Queremos que a dinâmica interrompida, em março passado, seja retomada com o propósito de perguntar aos jovens: “que Igreja?”. Que Igreja veem? Que Igreja querem? Que Igreja sonham? E, sobretudo, com que Igreja se comprometem. Dar espaço e voz aos jovens, aos que estão nas comunidades e, por meio desses, chegar aos que por lá passaram como catequizandos e se afastaram, não é uma hipótese, é uma condição sem a qual não conseguimos ver bem o futuro das nossas comunidades.
Com as portas do ano pastoral escancaradas deste jeito, partimos com esperança jovem, confiando plenamente no Senhor que em nós também confia. E porque confia em nós, a todos nos envia, em seu nome, com a força do Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da evangelização. Sim, é o Espírito Santo que acende e guarda a fé nos corações e os detém em suas mãos. É Ele que “inflama e anima a missão”, que “atrai para Si mesmo a vontade dos homens”, como afirma o Papa Francisco na Mensagem deste ano às Obras Missionárias Pontifícias. Aí, Francisco lembra alguns princípios que não podemos esquecer. Só a atração por Cristo e pelo Espirito Santo pode conquistar o nosso coração, o coração de quem anuncia e o coração das pessoas a quem anunciamos. Se esta atração for verdadeira, se este encontro acontecer, a alegria destas pessoas acaba por as colocar em estado de missão, com memória agradecida e humilde, sem arrogância, mas aprendendo de Cristo que é “manso e humilde de coração”. Saberão fazer-se fracos com os fracos, facilitar e não complicar a vida das pessoas, não colocarão obstáculos ao desejo de Jesus que reza por cada um e quer salvar a todos a partir da realidade das suas vidas, com especial preferência pelos humildes e pobres. Saberão que todo o povo de Deus tem o “instinto” da fé, o sensus fidei, que o ajuda a não se enganar nas coisas de Deus em que crê, o que deve merecer o maior respeito pela sua espiritualidade, uma espiritualidade popular, sim, mas é nela que a maior parte bebe e adere de forma conatural à iniciativa livre e gratuita de Deus, como afirma o Papa.
Esta atração por Cristo, este encontro com Ele guiados pelo Espírito, se, de facto, for verdadeiro e fecundo, exclui muitas tentações em quem anuncia, pois há armadilhas a evitar, como refere Francisco. Vou sintetizar algumas para aguçar o apetite de todos lerem a referida Mensagem e a outra para o Dia Mundial das Missões: a autorreferencialidade que funciona em promoção pessoal e tudo faz em chave de publicidade das próprias iniciativas; a ânsia de comando com supremacias e funções de controlo como se a Igreja fosse um produto das nossas análises, programas, acordos e decisões; a ideia tácita de pertencer a uma aristocracia, a uma classe superior, elitista, que procura ampliar os seus espaços, segundo os sistemas e as lógicas mundanas da militância; um certo sentimento de superioridade e impaciência devido ao facto de o povo talvez até frequentar as paróquias e os santuários, mas não se comprometer nas organizações eclesiais, passando a ser isolado e a ser visto como uma massa inerte a precisar de consciencialização, como se a certeza da fé fosse consequência de um discurso persuasivo ou de métodos de preparação; a abstração que faz perder o contacto com a realidade e tudo elabora estrategicamente segundo chaves ideológicas de preferência promocional, cristalizando tudo num simulacro, incluindo as referências à fé ou os apelos verbais a Jesus e ao Espírito Santo; o funcionalismo que tudo aposta em modelos mundanos de eficiência ou estandardiza todo o anúncio, garantindo a ilusão de resolver os problemas, de ter as coisas sob controle, de melhorar a administração ordinária do que existe, esquecendo-se que uma Igreja que tem medo de se abandonar à graça de Cristo e aposta na eficiência do sistema, já está morta.
Ao iniciarmos o Ano Pastoral com o mês de outubro pela frente, e que tem como tema missionário a resposta do profeta Isaías à sua vocação, não esqueçamos que Deus continua a precisar de pessoas para enviar em seu nome para que anunciem e testemunhem o seu amor pela humanidade. Mesmo que a uns possa pedir uma resposta mais radical, todos devem ser capazes de dar a sua resposta firme, sejam quais forem as suas circunstâncias existenciais: “Aqui estou, Senhor, enviai-me!”, respondeu o profeta. E nestes tempos de dificuldade, é importante que as próprias famílias não se esqueçam desta sua generosa disponibilidade e missão junto dos seus, dentro da própria casa. Como a sociedade seria diferente se cada família se sentisse e vivesse como pequenina Igreja doméstica, a acolher, a esclarecer e ensinar, pela palavra e pelo testemunho, de forma feliz e alegre!...
Com saudações amigas e agradecidas para todos os sacerdotes, diáconos, membros de vida consagrada, agentes da pastoral, órgãos de corresponsabilidade, movimentos de apostolado e todos os diocesanos, formulo votos de bom trabalho ao serviço da causa da evangelização. Que todos encontremos na oração a força que nos une e fortalece na comunhão e na esperança, na fé e na missão, sob o manto protetor de Maria a Estrela da Evangelização.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano

Portalegre-Castelo Branco, 28-09-2020.


Se os outros são maus, tenho de ser bom?!

 


O que é que fazemos quando alguém, que está por perto, tem uma atitude péssima e reveladora de mau carácter?

 

O que devemos dizer a uma pessoa que prefere prejudicar os outros para ficar bem em todas as fotografias?

 

Até que ponto é desejável ignorar alguém que se gaba das maldades e mesquinhices que vai espalhando enquanto passa?

 

Há vários tipos de respostas a estas questões. Vários tipos de caminhos. Quase nenhum deles é fácil ou milagroso o suficiente para apagar a capacidade que alguém tem de fazer mal. De preferir não amar.

 

A primeira opção é a de ignorar. Eu vejo que alguém está a ser prejudicado e, ainda que compreenda o que está a acontecer, calo-me. Baixo a cabeça. Finjo que não vejo e, às vezes, até sou capaz de atirar um sorriso ao de leve, para não me comprometer e para não me antipatizar com aquela pessoa.

 

No entanto, o perigo de ignorar (essa e qualquer outra atitude) é muito claro: se eu ignoro não estou a protestar, não estou a dizer que não concordo, não estou a mostrar a minha opinião em relação ao assunto. Assim, de alguma forma, estou a validar o que alguém fez ou decidiu fazer (ainda que não me sinta bem com isso).

 

A segunda opção possível é a de mostrar à pessoa que reparámos no que ela fez. Dizer algo leve o suficiente para ser subtil, mas claro o suficiente para ser “eficaz”. Talvez lançar uma pergunta desafiadora… ou deixar uma pergunta no ar:

 

“Não sejas assim. Já viste se eu te fizesse isso a ti? Como é que tu ficavas?”

 

Se eu conseguir “cortar” o eco da atitude da pessoa que a protagoniza, vou desarrumá-la por um instante. Fazê-la pensar. Recuar. Colocá-la no lado de lá.

 

Claro. É muito mais fácil optar pela primeira opção e não ter problemas. Mas a segunda opção terá mais frutos. Mais flores. Mais resultados futuros. Não sejamos hipócritas. Sabemos que nem sempre teremos a disponibilidade mental para “obrigar” os outros a pensar no mal que estão a fazer. Muitas vezes, seremos tentados a pensar: se ele ou ela fazem isto tudo e não têm consequências ou não são chamados à atenção, tenho eu que ser exemplo? Não me parece justo. Além disso, esse raciocínio vai fazer-nos justificar as maldades que fizermos depois.

 

Qual é o caminho, então?

 

Ser o avesso da maldade. Ser exatamente o oposto do que a maioria vai escolher, por ser mais fácil.

 

Se os outros são maus, tenho de ser bom?

 

Tenho. Tens. Temos.

 

Do bem é que nasce tudo.


Marta Arrais

domingo, 27 de setembro de 2020

SIM, PAI!



https://www.youtube.com/watch?v=yR9iCx05_6M

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum deixa claro que Deus chama todos os homens e mulheres a empenhar-se na construção desse mundo novo de justiça e de paz que Deus sonhou e que quer propor a todos os homens. Diante da proposta de Deus, nós podemos assumir duas atitudes: ou dizer "sim" a Deus e colaborar com Ele, ou escolher caminhos de egoísmo, de comodismo, de isolamento e demitirmo-nos do compromisso que Deus nos pede. A Palavra de Deus exorta-nos a um compromisso sério e coerente com Deus - um compromisso que signifique um empenho real e exigente na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel convida os israelitas exilados na Babilónia a comprometerem-se de forma séria e consequente com Deus, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. Cada crente deve tomar consciência das consequências do seu compromisso com Deus e viver, com coerência, as implicações práticas da sua adesão a Jahwéh e à Aliança.
O Evangelho diz como se concretiza o compromisso do crente com Deus... O "sim" que Deus nos pede não é uma declaração teórica de boas intenções, sem implicações práticas; mas é um compromisso firme, coerente, sério e exigente com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus Cristo. O verdadeiro crente não é aquele que "dá boa impressão", que finge respeitar as regras e que tem um comportamento irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas é aquele que cumpre na realidade da vida a vontade de Deus.
A segunda leitura apresenta aos cristãos de Filipos (e aos cristãos de todos os tempos e lugares) o exemplo de Cristo: apesar de ser Filho de Deus, Cristo não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas assumiu a realidade da fragilidade humana, fazendo-se servidor dos homens para nos ensinar a suprema lição do amor, do serviço, da entrega total da vida por amor. Os cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver do mesmo jeito, na entrega total ao Pai e aos seus projectos.

https://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?mc_id=2977Litur

sábado, 26 de setembro de 2020

Recomeçamos!



Ainda como quem não sabe por onde é o caminho, recomeçamos.

O Verão atravessou-nos de luz como se uma janela se tivesse aberto do lado de dentro do coração.

Vivemos o pico do Verão como quem viveu, também, a Primavera.

Uns meses antes, todas as flores pareciam ter desaparecido da face da terra e tudo em redor parecia demasiado difícil, escuro, inacreditável.

Depois, chegou agosto e as tempestades que trazíamos presas aos olhos começaram a secar. Era como se o Sol e o Céu nos tivessem dado umas pequeninas tréguas para recuperar forças, fôlego e fé.

Não me esqueci (nem me esqueço) daqueles para quem a Primavera e o Verão ainda não chegaram. A doença. A morte. A perda. As saudades. As ausências.

Para muitos, ainda será inverno de neve e de gelo ou outono de vento que nos faz cair as folhas das árvores que (nos) habitam debaixo da pele.

Ainda assim, a pouco e pouco, recomeçamos e ousamos tirar os olhos do chão.

Começamos de novo como quem foi forçado a nascer outra vez. Como quem foi impelido a aprender a viver num mundo tão diferente do que era.

Ainda assim, permitimos que o Sol faça casa em nós e nos acenda a luz que precisarmos para ver e andar melhor.

Começamos de novo como quem sabe que ainda há futuro. Que ainda há esperança. Que ainda há barcos para chegar. Que ainda haverá dias que nos farão tremer de alegria. Que nascerão folhas novas. Que ainda havemos de dar as mãos outra vez sem que nos sintamos envenenados. Que ainda havemos de nos abraçar até sentir os ossos. Que ainda havemos de brindar ao que passou. 

Começamos outra vez como quem sabe que as batalhas não acabaram. Que a espada ainda não está cravada no coração do dragão.

E assim, enquanto não vencemos a guerra, que saibamos deixar (só) paz por onde passarmos.


Recomeçamos?


Marta Arrais

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

UM JOVEM MILITAR ANTE AS FRAQUEZAS DO PODER


Francisco não deixou de lembrar este jovem militar na Exortação Cristo Vive. A sua iconografia é inconfundível. Aparece amarrado a um troco de árvore com o corpo ferido por setas. A forma de execução fez dele um tema recorrente de pintores, escritores, escultores, de expressões artísticas de vária ordem. Quase não há igreja ou capela que não tenha a sua imagem em arte popular ou mais sofisticada. Dá nome a pessoas, instituições, terras, cidades, aldeias, ruas... É invocado contra as doenças contagiosas, contra a fome e a guerra. É São Sebastião, um dos jovens mais celebrado. Três setas, uma em pala e duas em aspa, e as três atadas por um fio, constituem as suas armas ou insígnias. Vamos recordá-lo.
Uns dizem que nasceu no sul de França. Outros, em Milão, nos fins do século III, duma família nobre. O que é mais certo é que cresceu e foi educado em Milão, sendo uma pessoa que se impunha pela sua figura e qualidades. Respeitado por todos, foi também estimado pela nobreza. Seu pai era militar, ele quis seguir a carreira do pai. De Milão, desloca-se para Roma, onde grassavam as mais severas perseguições contra os cristãos. Alistado nas legiões do imperador, a sua agradável presença, coragem e dedicação logo se fizeram notar, acabando por ser nomeado comandante da guarda pessoal do imperador, a Guarda Pretoriana, cargo que só se dava a pessoas de gabarito e de total confiança. Se a sua dedicação à carreira militar merecia os maiores elogios dos seus companheiros e do próprio imperador, também a sua fé e a coerência de vida, sem subserviências, sem alardes nem falsidades, é digna de todos os aplausos e encómios. Como cidadão do Império romano, na destacada posição e missão que lhe estava confiada, foi grande na sua dedicação ao imperador e à pátria. Como cidadão do Reino de Deus, foi jovem cristão de gema e garra, sempre fiel aos seus princípios e defensor dos cidadãos desse Reino, terrivelmente perseguidos. Sempre que podia, lá partia, com alegria e coragem, a visitar e ajudar os cristãos encarcerados, os torturados, os mais fracos, os doentes, os necessitados, as vítimas do ódio. A todos consolava e animava a permanecerem fortes e firmes na fé, até ao martírio, em fidelidade a Cristo e ao seu Batismo.
De facto, desde que haja consciência do que significa ser cristão, o bem fazer e a santidade são possíveis em qualquer circunstância e situação, em qualquer trabalho ou cargo de autoridade, em qualquer idade e vocação, em qualquer compromisso humano desde que guiados por um coração sincero e convertido, sem medo nem cobardias. E a sociedade precisa destes testemunhos!...
Denunciado por um pide ou bufo do seu tempo, por um governador romano que não apreciava este seu jeito de ser e estar, veio a saborear o pão que o diabo amassou. Julgado sumariamente, foi acusado de traição. Forçado a renunciar ao cristianismo, permaneceu firme na fé apresentando os motivos que o animavam a seguir a fé cristã e a socorrer os perseguidos. Contestando o imperador, rogou-lhe que deixasse de perseguir os cristãos, garantindo-lhe que não eram subversivos, não faziam mal a ninguém, não eram seus inimigos nem inimigos do Estado, antes pelo contrário. O imperador, surdo no seu poder endeusado e de olhar vesgo por meros preconceitos, não dá o braço a torcer. Enraivecido com a firmeza e os argumentos de Sebastião, puxa pela sua importância de tirano, manda-o matar. Os soldados levaram-no, despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore, fizeram dele um alvo para o arremesso de flechas. Satisfeitos com obra tão miserável, abandonaram-no para que sangrasse até a morte. Ao cair da noite, uma senhora chamada Irene, com algumas amigas, foram recolher o corpo de Sebastião para o sepultarem. Espantadas no inesperado, constataram que o ‘morto’ estava vivo. Desamarraram-no, esconderam-no em casa de Irene, cuidaram-lhe das feridas. Já com algumas forças e a determinação de sempre, mas ainda não completamente restabelecido, Sebastião, no seu zelo pela Igreja perseguida, não teve paciência para esperar mais tempo. E eis que se apresenta, de novo e determinado, junto do imperador para defender os cristãos e para lhe condenar a sua forma impiedosa e injusta com que os tratava. Mesmo à distância, e fora desses apertos, bem poderemos nós imaginar o embate desse momento!...
O imperador, boquiaberto e incrédulo pelo que via, ouviu e engoliu a surpresa, mas voltou a reagir com os preconceitos e outras maleitas aliadas às fraquezas do poder. E, de novo, repete a dose, reforçada. Ordena que seja torturado e espancado até à morte. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, manda que seja lançado ao esgoto público da cidade, o lugar mais imundo de Roma.
Faleceu a 20 de janeiro, pelo ano de 286, com cerca de trinta anos. Outros cristãos resgataram o seu corpo e sepultaram-no nas catacumbas, sob a Via Ápia. Mais tarde, no ano de 680, as suas relíquias foram solenemente transportados para uma Basílica em Roma.
A perseguição por causa da fé continua hoje a não dar tréguas. Mais de 300 milhões de fiéis sofrem a discriminação e a perseguição religiosa. Um em cada sete vive num país onde a perseguição é uma realidade diária. São expulsos, deslocados, discriminados, torturados e mortos por professarem a sua fé em Jesus Cristo. Se, porém, olharmos noutro sentido, constataremos também outra espécie de martírio, de testemunho, de santidade, quer nas situações limite quer nas rotinas diárias que a vida impõe no trabalho, na profissão, no estudo, na vizinhança, na convivência social, na coerência da vida com a fé, na honestidade em negócios e atividade, nas tarefas domésticas, nos pais que criam e educam os seus filhos com amor e responsabilidade, nos doentes e idosos que continuam a sorrir para a vida e a unir o seu sofrimento ao sofrimento de Cristo pela salvação do mundo, na autoridade que serve honestamente, que renuncia à corrupção e se empenha pelo bem comum....
Francisco recorda-nos que "nos momentos difíceis da história" é costume afirmar-se que "a pátria precisa de heróis”. Isso é verdade, diz ele. Mas acrescenta que a Igreja, hoje, também precisa de heróis, isto é, precisa de “testemunhas, de mártires". Precisa de testemunhas no quotidiano da vida sejam quais forem as circunstâncias existenciais de cada um!


D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 25-09-2020.

Não te atrases: o futuro é hoje e és tu




Em que tipo de pessoa te estás a tornar?

És capaz de te compadecer da dor do outro, ainda que não a compreendas?

És capaz de oferecer consolo, mesmo quando sentes que os outros não têm assim tanto tempo para ti?

Em que tipo de pessoa te transformaste?

Consegues sair da tua bolha para remendar a bolha de alguém?

Consegues perceber que nem todas as pessoas lidam com os problemas da mesma maneira que tu?

Julgo que nos iludimos. Imaginámos que os novos tempos mudariam as pessoas. Que as tornaria melhores. Mais capazes de sentir empatia.

Julgámos que os novos tempos nos tornariam mais sensíveis. Que nos emocionariam a ponto de pensarmos duas (ou três) vezes sobre o rumo que estamos a dar às nossas vidas.

Julgámos mal. Percebemos tudo ao contrário. Estamos todos iguais ao que sempre fomos ou, até, piores do que alguma vez conseguimos ser. Pusemos uma coroa de ouro branco no nosso umbigo e dedicamo-nos a contemplá-la e a puxar-lhe o lustro.

No entanto, a esperança ainda não tem preço. Ainda não se compra e ainda não está extinta. Muito menos usa máscara.

Não te atrases. Usa a esperança como quem quer levar ao peito uma bandeira de bondade. Usa a ternura como quem quer levar ao peito uma bandeira feita de flores e de abraços.

Não te atrases. O futuro é hoje. E és tu. Somos todos. Quem se demitir da sua responsabilidade está a ser, intencionalmente, menos. Pouco. Muito menos que pouco.

Deixa-te de desculpas. De teorias da conspiração. De conversas de circunstância de quem nunca pratica o que diz. Faz-te ao caminho, de bandeira ao peito. Com a coragem de quem não sabe quando termina a aventura, mas que está disposto a vivê-la até ao fim.

Não te atrases. O futuro é hoje. És tu.

Um dia de cada vez.


Marta Arrais




quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Quando foi a última vez que amaste?


Quando foi a última vez que amaste? Não aquele amor lamecha. Nem demonstrado para as redes sociais, mas sim o amor à séria. Aquele que é capaz de perdoar inteiramente. O amor que fala sem ninguém escutar e que se revela sem ninguém dar por isso.

Quando foi a última vez que amaste? Esse amor tremendamente humano que chega a tocar o divino. O amor que é capaz de olhar sem condenação e proporcionar a ti e a todos a verdadeira libertação. O amor genuíno sempre pronto a ser ponto de abrigo e morada permanente dando assim a conhecer a casa que tantos não tiveram ou que continuam sem ter.

Quando foi a última vez que amaste? Esse amor que te convida a alegrar o dia dos que se cruzam contigo. O amor que te resgata para o desconhecido criando em ti uma nova vida. Aquele amor que é capaz de fazer a diferença com o olhar e deixar que todas as feridas se curem num abrir e fechar de olhos.

Quando foi a última vez que amaste? Quando é que foi a última vez que concretizaste aquilo a que foste chamado a ser? Quando é que foi a última vez que te rendeste ao verdadeiro amor?

Ainda há espaço para o amor. E tu tens tudo para ser prova disso. Largando essa desconfiança que te acanha. Deixando de lado esse egoísmo que não te deixa ver o mundo. Colocando de parte essa necessidade absoluta de te recolheres em ti mesmo.

Ainda há espaço para o amor. Para amar sem medida. Sem querer receber nada em troca. Amando gratuitamente sabendo que tudo se tornará bom. Deixa que o amor seja a tua marca. Deixa que ele que se torne numa maneira de tu agires para contigo. Para com os outros. Para com o mundo.

Nunca te canses de te perguntar: quando foi a última vez que (te) amaste?





Emanuel António Dias




terça-feira, 22 de setembro de 2020

Ama quem precisa, não quem merece



Abre-te à luz que te habita, para que o teu caminho se ilumine. Sê mais transparente, não te enchas tanto de ti. A luz de ti mesmo precisa de um espaço para brilhar. Oferece-lhe um coração grande, com poucas coisas – quase vazio.

Aceita o dom do amor e serás uma fonte de bem para outros.

Nunca recuses o amor, ama. Nunca recuses o amor, deixa-te amar. Não há nada pior do que rejeitar o que te dá sentido à tua vida e te dignifica.

Não és o teu nome, nem a tua família, profissão, dinheiro, poder, posição social ou mesmo as tuas capacidades. Tu és aquilo que te diferencia dos outros.

Crescemos de cada vez que não acumulamos, enriquecemos de cada vez que somos generosos. A felicidade não é acrescentar coisas, é partilhar com quem não tem quem o valorize pelo que é!

Não te deixes atrofiar pelos teus orgulhos e egoísmos.

Lembra-te de que amar é um dom, não é um prémio. Ninguém o merece, mas todos precisam dele, muito.

Tu és maior, e mais importante, do que todos os teus erros e fracassos.

Os outros são iguais a ti: maiores e mais importantes do que todos os seus erros e fracassos.

Levanta-te, anda e ama.



José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O desejo de uma bênção, por Tolentino Mendonça






Quando Ezra Pound se pôs a explicar o que pretendia Dante na “Divina Comédia” — com aquele longuíssimo peregrinar entre inferno, purgatório e paraíso — foi muito claro. Para ele, Dante fala de “Everyman”, de cada um de nós, pois a vida não é uma confortável linha reta, mas essa trajetória através do emaranhado “árduo e silvestre” do tempo, que se vai tornando sempre mais ferido de fragilidade. Como conta Dante, “a vida se fez penosa”, “a alma se tornou pesada” e, como fomos aí parar, “dizer não sabemos”. Por isso, o meio da vida é também muitas vezes a hora do grito. “Quando eu já para o vale decaído/ tombava, à minha frente um vulto incerto/ que por longo silêncio emudecido/ parecia, irrompeu no grão deserto:/ ‘Tem piedade de mim’, gritei-lhe então.” Há um momento em que sentimos como um imperativo essa necessidade extrema de consolação e de socorro. Essa pode ser expressa de várias maneiras, é certo. Maneiras tão díspares que se diria não terem nada em comum. Mas não é assim: o nosso coração humano, de uma forma ou de outra, anda em busca do mesmo. Tem o desejo de uma bênção.

A bênção acorda nas profundezas do coração a certeza de que somos amados e essa certeza estende uma ponte de corda entre abismos

Esta semana subi ao Monte La Verna, que Dante descreve como um “cru rochedo entre o Tibre e o Arno”, e que serviu a Francisco de Assis como refúgio de solidão para viver o seu ardente desejo de Deus. Foi nesse lugar, numa estadia que começou no mês de agosto de 1224, que São Francisco recebeu o sigilo místico dos estigmas. Infelizmente, esta subida, fi-la de carro, porque gostaria tanto de ter subido a pé, com os peregrinos que via em pequenos grupos pela estrada e que se davam a si próprios o tempo necessário para sentir dentro de si o impacto daquele caminho. Não tenho dúvidas de que a lentidão e a dor da escalada os preparava para um dos tesouros que o Monte La Verna guarda: a história da bênção que Francisco de Assis concedeu ali ao seu companheiro Frei Leão. Frei Leão foi praticamente o secretário, o confidente e o confessor de São Francisco. Não por acaso, as sua sepultura está colocada ao lado da do Poverello, em Assis. Francisco chamava a este Leão, com algum humor, “a ovelha de Deus”. Era um homem bom, simples e de coração puro. E grande era a estima que Francisco lhe dedicava. Uma prova disso está no verso da folha onde se conserva uma das mais importantes composições poéticas de São Francisco, “Louvores a Deus Altíssimo”. No verso, Francisco gravou uma bênção a Frei Leão para fortalecê-lo num momento de provação que este viveu sobre o Monte La Verna: “O Senhor te abençoe e te guarde. Mostre-te a sua face e tenha de ti misericórdia. Dirija para ti o seu olhar, e te dê a paz. O Senhor te abençoe, irmão Leão. Te abençoe, te abençoe, te abençoe o Senhor, e te guarde irmão Leão.”

A bênção acorda nas profundezas do coração a certeza de que somos amados e essa certeza estende uma ponte de corda entre abismos. A bênção acompanha-nos ao longo da viagem como um bordão. A bênção atesta que a nossa necessidade de sentido e de consolação não são impossíveis de satisfazer. Tenho um amigo que muitas vezes repete este resumo de bênçãos que ele encontrou: “Possa o caminho crescer contigo/ possa o vento ser as tuas asas/ possa o sol iluminar o teu rosto/ possa Deus ter-te na palma das suas mãos.// Dá-te tempo para amar,/ porque isso é o privilégio que Deus nos oferece.// Dá-te tempo para ser amável/ porque essa é a via da felicidade.// Dá-te tempo para sorrir/ porque o sorriso é a música da alma.// Dá-te tempo para a ternura/ porque a vida é demasiado curta para o tolo egoísmo.”

[SEMANÁRIO#2496 - 29/8/20]

domingo, 20 de setembro de 2020

Voltar para Deus





A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.

A primeira leitura pede aos crentes que voltem para Deus. "Voltar para Deus" é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e acções reflictam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus.

O Evangelho diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela gratuidade.

A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projecto.


https://www.dehonianos.org


sábado, 19 de setembro de 2020

Não somos tudo de bom




Não somos tudo de bom. E estaremos muito enganados se acreditarmos que o somos. Viveremos na ilusão que não nos permite caminhar para a realidade daquilo que somos e vivemos. Permaneceremos em permanentes quedas conquistando assim uma vida sem chão. De total incerteza.

Não somos tudo de bom. E isso deve estar bem presente na nossa cabeça. Devemos eliminar essa imagem perfeita e encarar, de frente e corajosamente, as imperfeições que dão forma à nossa humanidade. São elas que nos relembram os limites. São elas que nos mostram a veracidade de tudo o que somos e fazemos.

Não somos tudo de bom. Nunca o seremos (pelo menos enquanto estivermos nesta vida terrena). E tudo isto pode ser duro de aceitar, mas é, sem dúvida alguma, a única forma de nos virmos a aceitar. É a única via autêntica que temos. A única que nos permite ser um pouco melhor em todos os dias da nossa vida.

Não somos tudo de bom, mas isso não impede que não tenhamos o bom, o bem e o belo em nós. Somos bons quando reconhecemos que erramos. Somos o bem quando temos a coragem de pedir desculpa. Somos o belo quando nos olhamos verdadeiramente e seguimos com a certeza de que amanhã será diferente. De que amanhã haverá uma outra oportunidade de sermos tudo de bom.

Não somos tudo de bom. É o que devemos relembrar no nosso pensamento para que não nos finalizemos. Para que não caiamos numa bolha de superioridade e egocentrismo. Não somos tudo de bom e isso não tem de ser mau. Deve inquietar-nos. Mover-nos. E levar-nos a para bem mais longe!

Não somos tudo de bom. Até ao dia em que (o) seremos totalmente...



Emanuel António Dias

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

UM JOVEM DOS PAMPAS – UM MAPUCHE








Torno presente mais um dos jovens que o Papa Francisco apresenta na sua Exortação Apostólica Cristo Vive, como estímulo à santidade no quotidiano da vida. Servir-me-ei de fontes Salesianas e da própria página do Vaticano. Trata-se de Zeferino Namuncurá, um cidadão dos pampas, filho e neto de grandes caciques da nação mapuche. Era um mapuche, um homem da terra, nascido a 26 de agosto de 1886, em Chimpaym, nas margens do Rio Negro, nas terras aroucanas entre a Argentina e o Chile. Fernão de Magalhães e a sua comitiva, quando lá chegaram por volta de 1520, logo deram nome aos nativos. Tendo desembarcado, depararam com umas pegadas de tal envergadura que logo imaginaram que seria um povo de gigantes! Deram-lhe o nome de patagões, os de pé grande, de “pata grande”, da Patagónia. A ser verdade, é possível que tivessem entrado naquelas terras à espera que pulasse detrás de algum chaparro ou esquina, uma abada de gente de “pata ao léu”, de pé descalço, uma patuleia comandada por uma qualquer Maria da Fonte, lá do sítio, a esbaforir danação e com a vontade de lhes fueirar as costas e lhes chegar a roupa ao pelo por andarem por terra alheia!... O desassossego desta gente, porém, jamais terminou, continua a lutar pela sua sobrevivência e cultura milenar!...
Se tais zonas têm paisagens de belo horrível, de encher o olho e convidar à contemplação, é uma terra difícil, uma “terra dura, estéril, flagelada pelo vento ou queimada pelo sol, imobilizada pela neve ou encharcada pela chuva”. O seu povo era “um povo acostumado a combater desde o amanhecer até ao anoitecer e, frequentemente, também do anoitecer até ao amanhecer contra os elementos naturais. Zeferino foi forjado por esta terra, obrigado a crescer depressa, como todos os seus coetâneos; uma infância curta, uma adolescência mais ou menos inexistente. A vida nos pampas exige de quem tem 9 ou 10 anos a agilidade de um adulto: cavalgar, caçar, pescar, usar as bolas com extrema precisão, conhecer, enfim, todos os truques para a sobrevivência”.
Seu pai teve de se render às tropas da República Argentina. Elevado à patente de Coronel, deslocou-se para Buenos Aires. Algum tempo depois, Zeferino também parte para Buenos Aires, para estudar e se preparar para um dia voltar à terra para defender a sua raça. Depois de ter frequentado, por pouco tempo, uma escola estatal, mas cujo ambiente escolar não apreciava, falou com seu pai e, em 20 de setembro de 1897, foi matriculado, como aluno interno, num Colégio Salesiano. Dedicou-se diligentemente ao estudo, procurando na fé o apoio para superar os próprios limites. Enamorado por Dom Bosco, e tendo escolhido Domingos Sábio como modelo, desejava ser sacerdote salesiano para evangelizar a sua gente. Como filho livre do descampado, o colocar-se na fila e obedecer ao toque da sineta não lhe eram coisa fácil. Mas foi sempre exemplar nos deveres cotidianos, no relacionamento social, no estudo, na oração e na participação comunitária. O “contacto com os sacerdotes salesianos de grande talento apostólico e cultural, iniciou uma rápida transformação que se tornou nele um propósito permanente”: "Vim estudar para ser útil ao meu povo”. Ele encarnava em si os sofrimentos, as preocupações, a cultura e as aspirações do seu povo, procurando adaptar e assimilar a fé e a cultura cristã nesse contexto cultural, enriquecendo-o. Como afirmou Bento XVI, "o Evangelho nunca destrói os valores que há numa cultura, mas os assimila e aperfeiçoa. O novo beato nunca esqueceu que era indígena e sempre tratou de ser útil à sua gente".
Em princípios de 1902 foi-lhe diagnosticada a tuberculose. Na esperança de que os ares da sua terra o ajudassem a recuperar, muda-se para Viedma, capital do Vicariato Apostólico. Aí frequentou o Colégio de São Francisco de Sales, como aspirante salesiano, sendo acompanhado pelos médicos.
Em julho de 1904, com 17 anos, devido à sua frágil saúde, é levado para Turim, na Itália. Os salesianos acreditavam que ele poderia continuar a cuidar da saúde e a estudar rumo ao sacerdócio, primeiro na escola de Turim, depois no Colégio Salesiano de Vila Sora, em Frascati. Em Turim, conversou várias vezes com o Beato Miguel Rua, o primeiro sucessor de São João Bosco. O que mais o marcou, porém, foi o encontro de alguns salesianos com o Papa Pio X, em 27 de setembro de 1904, em Roma, perante o qual ele ficou encarregado de dirigir um pequeno discurso. Terminou essa saudação, oferecendo ao Santo Padre um “quillango mapuche”, um tipo de cobertor feito de peles de guanaco, que os indígenas usavam e era feito, sobretudo, com a pele de um camelídeo nativo da América do Sul. Pio X ficou comovido e retribuiu-lhe com uma medalha. No ano seguinte, a tuberculose agravou-se. Foi internado no Hospital dos Irmãos de São João de Deus e acompanhado pelo médico pessoal dos Papas Leão XIII e Pio X. Faleceu a 11 de maio desse ano de 1905, com 18 anos de idade, num hospital da Ilha Tiberina, em Roma. Uma simples cruz de madeira, ficou a assinalar a sua sepultura num cemitério de Roma.
Antes que a Igreja o declarasse como tal, ele foi feito santo pelo seu povo. Era um jovem portador da “santidade dos pampas, regada pelas fadigas, valores, obediência, suportação; sem impulsos místicos, orações martirizantes, proclamas ou propósitos clamorosos, sem escritos exaltantes: um santo da terra, um santo ao alcance de todos, um santo, enfim, segundo o coração de Dom Bosco, que incentivava os seus alunos a ter duas características que pela sua simplicidade teria provocado alguma perplexidade nos grandes santos do passado, mas que para o sacerdote dos jovens eram o sinal inequívoco de uma santidade ao alcance dos jovens: "honesto cidadão e bom cristão". É o quanto basta para se tornar santo”.
Em 1924, os seus restos mortais foram levados para a Argentina. A Beatificação, por um Delegado do Papa, teve lugar a 11 de novembro de 2007, em Chimpaym, Rio Negro, terra natal do jovem, perante mais de cem mil pessoas, tendo sido fixada a festa religiosa no dia 26 de agosto, data do seu nascimento.
Em 12 de agosto de 2009, a pedido de seus familiares e com alguma polémica à mistura, os seus restos mortais foram novamente transladados. Agora para a localidade de San Ignacio, na província de Neuquén, onde vivem seus familiares e se encontra sepultado o seu pai, o cacique Manuel Namuncurá, batizado aos oitenta anos. Na Eucaristia a anteceder a transladação, participaram a sua família e também Valeria Herrera, a jovem mãe de Córdoba, Argentina, de 24 anos em 2000, que fora afetada por um câncer de útero, incurável. Por intercessão de Zeferino ficou saudável e veio a ter filhos. Cerca de 400.000 pessoas participam, anualmente, nas celebrações do Beato Zeferino.
Meditando em cada palavra, Zeferino fazia o sinal da cruz com tanta lentidão que causava mossa a quem o via. E corrigia os colegas ensinando-lhes a fazê-lo devagar e com devoção.
Sob este pretexto, cada um poderá avaliar o seu desempenho nessa matéria do bem fazer o sinal da cruz. Coisa triste quando se constata que muitos já não o sabem fazer e muitas famílias não o fazem nem ensinam a fazer!... Em relação a estas e outras coisas, a Sagrada Escritura insiste: “Tu as ensinarás com todo o zelo e perseverança a teus filhos. Conversarás sobre as Escrituras quando estiveres sentado em tua casa, quando estiveres andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares” (Deut 6, 7).

D. Antonino Dias  -
 Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 18-09-2020.

Não tem mal não ficar




Não tem mal não ficar. Às vezes é melhor sair de todo o barulho e deixar que o silêncio nos diga tudo. O movimento nem sempre traz todas as respostas. A rotina nem sempre nos oferece as certezas que buscamos. Há sempre um outro jeito. Mais misterioso e secreto capaz de mostrar que faz sentido partir.

Não tem mal não ficar. Não tem de ser tudo cumprido onde tudo foi iniciado. Dá para nos concretizarmos noutro lugar. Noutro tempo. Sem a pressa que nos apressa. Sem os olhares que nos obrigam a correr com o ar que ainda não temos. Sem o medo de não virmos a cumprir aquilo a que somos chamados a ser.

Não tem mal não ficar. Às vezes é melhor mudar de ares. Sairmos e sentirmos as brisas que tantos e tantas transportam com a sua forma de ser. Entrarmos na história de tantas histórias e experienciarmos, deste jeito, a vida a correr por entre as nossas mãos.

Não tem mal não ficar. A nossa existência acabará por se cumprir. Mais inteira e verdadeira depois de nos desprendermos. Depois de voltarmos ao de cima sem que insistamos num permanente desabar.

Não tem mal não ficar. O fim de uma estadia não nos dá por terminados. Oferece-nos um novo começo e uma nova estrada. Oferece-nos a certeza de que ainda vale a pena caminhar pelo desconhecido. Relembra-nos que assim poderemos estar mais perto.

Não tem mal não ficar se verdadeiramente andarmos à procura de onde temos que chegar.

Emanuel António Dias

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Já te viste ao espelho?!





Temos dificuldade em aceitar muitos dos comportamentos das pessoas que nos rodeiam e com quem convivemos.
Arrisco-me a dizer que todos dedicamos algum do nosso (pouco) tempo livre para exercitar o poder da crítica.
As pessoas não usam máscara e, quando a usam, deitam-na para o chão.
As pessoas não respeitam regras de cidadania e de convivência básicas. Nem no trânsito. Nem na rua. Nem no supermercado. Nem nas filas para este ou aquele balcão. Nem no ginásio. Nem quando andam a pé. Nem quando respiram.
As pessoas “no geral” tornaram-se o nosso alvo preferido porque, na verdade, não nos incluímos nesse grupo nem nessa generalização. As pessoas são as pessoas e eu…Bem… Eu sou aquela a quem ninguém pode apontar um dedo. A exemplar. A extraordinária. A que não comete erros. A que não põe o pé em falso. A que cede o seu lugar ao outro com alegria e sem reclamar.
Não. Eu não sou essa pessoa. E tu também não és.
As pessoas tornaram-se num conceito-saco onde colocamos tudo aquilo que desejávamos não ver nos outros. No entanto, e quanto mais generalizamos, mais nos afastamos da realidade que os outros são e da realidade que também somos.
As pessoas também somos nós. Também sou eu e também és tu.
Claro que poderemos ser pessoas que não cometem os mesmos erros que apontam, mas… cometemos outros. Uns iguais, uns mais insignificantes, outros a roçar o grave.
Quando estivermos empenhados nesse exercício fácil (da crítica) que nos leva apenas a um beco sem saída, talvez possamos obrigar-nos a parar e a usar o esforço dessa “prática” para refletir sobre o que (ainda) precisamos de fazer para nos tornar-nos melhores. Mais conscientes das nossas próprias atitudes.
As pessoas não respeitam regras e eu, às vezes, também não.
As pessoas nem sempre estão de boa cara e nem sempre têm paciência para lidar com o que se passa e eu, às vezes, também não.
As pessoas dizem uma coisa e fazem outra e eu, às vezes, também.
Pois é. Tudo muda quando nos vemos ao espelho, certo?


Marta Arrais

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

SS. CORNÉLIO, PAPA E CIPRIANO, BISPO, MÁRTIRES






S. Cornélio, papa, Basílica de São Paulo fora das muralhas 
A comemoração destes dois mártires, no mesmo dia, é muito antiga. O Martirológio de São Jerônimo já os celebrava juntos. Esta data escolhida indica, em particular, a renúncia ao trono papal do primeiro e a morte do segundo por decapitação.

Cornélio, o Papa da mansidão

Em Roma, no ano 251, após alguns anos de cargo vacante, devido à perseguição de Décio, Cornélio foi eleito Papa: era um romano, talvez de origens nobres, mas, certamente, reconhecido como homem de fé, justo e amoroso. Porém, a sua eleição não foi aceita pelo herege Novaciano, que se fez consagrar antipapa e promoveu um cisma precisamente na Cidade de Roma. Cornélio - que apoiava à distância o Bispo Cipriano – foi acusado de ser muito manso com os "lapsos": estes eram apóstatas, que retornavam à Igreja, sem as devidas penitências, mas simplesmente com a apresentação de um certificado de reconciliação, obtido de algum suposto confessor. Além do mais, uma epidemia abateu-se sobre Roma e, depois, teve início também a perseguição anticristã de Galo. O Papa Cornélio foi exilado e preso em Civitavecchia, onde faleceu, mas foi sepultado nas catacumbas de São Calisto, em Roma.

Cipriano, Bispo convertido  

Táscio Cecílio Cipriano nasceu no norte da África, provavelmente em Cartago, entre os anos 200 e 210 dC. Filho de família abastada, recebeu formação superior, dedicando-se à oratória e advocacia. Converteu-se ao Cristianismo, já adulto, por volta de 245. Três anos depois foi eleito bispo de Cartago. Foi degolado nas imediações da cidade, na presença de grande multidão de cristãos e pagãos, aos 14 de setembro de 258, durante a perseguição de Valeriano.

A Igreja na época de São Cipriano vivia intenso fervor. As sangrentas perseguições, que desde Nero (ano 64 dC) a sacudiam, somente faziam aumentar o fervor, e os mártires entregavam suas vidas com amor e fé.

Mesmo com todo este fervor, surgiam grupinhos de hereges que, desejosos de 'autonomia', pregavam uma doutrina diferente da dos Apóstolos e dos Bispos da Santa Igreja de Cristo. Para combater estas heresias, Cipriano divulga por volta do outono do ano de 251, como ele mesmo diz, um livrinho de conduta cristã denominado: "Catholicae Ecclesiae Unitate" - "A Unidade da Igreja Católica".

São maravilhosas as palavras de São Cipriano. Ele demonstra uma clareza de idéias e um espírito decidido na meta que almeja alcançar. Homem de Deus, baseou-se totalmente nas escrituras para defender a unidade da Igreja Católica, o Primado de Pedro, e outras Santas Doutrinas recebidas diretamente dos Apóstolos.
Martírio de São Cipriano

No dia décimo oitavo das calendas de outubro pela manhã, grande multidão se reuniu no campo de Sexto, conforme a determinação do procônsul Galério Máximo. Este, presidindo no átrio Saucíolo, no mesmo dia ordenou que lhe trouxessem Cipriano. Chegado este, o procônsul interrogou-o: "És tu Táscio Cipriano?" O bispo Cipriano respondeu: "Sou".

O procônsul Galério Máximo: "Tu te apresentastes aos homens como papa do sacrílego intento?" Respondeu o bispo Cipriano: "Sim".

O procônsul Galério Máximo disse: "Os augustíssimos imperadores te ordenaram que te sujeites às cerimônias". Cipriano respondeu: "Não faço".

Galério Máximo disse: "Pensa bem!" O bispo Cipriano respondeu: "Cumpre o que te foi mandado; em causa tão justa, não há que discutir".

São Cipriano, detalhe de um mosaico do século VI que representa a procissão dos mártires, na Basílica de Santo Apolinário Novo, Ravena

Galério Máximo deliberou com o seu conselho e, com muita dificuldade, pronunciou a sentença, com esta palavras: "Viveste por muito tempo nesta sacrílega idéia e agregaste muitos homens nesta ímpia conspiração. Tu te fizeste inimigo dos deuses romanos e das sacras religiões, e nem os piedosos e sagrados augustos príncipes Valeriano e Galieno, nem Valeriano, o nobilíssimo César, puderam te reconduzir à prática de seus ritos religiosos. Por esta razão, por seres acusado de autor e guia de crimes execráveis, tu te tornarás uma advertência para aqueles que agregaste a ti em teu crime: com teu sangue ficará salva a disciplina". Dito isto, leu a sentença: "Apraz que Tarcísio Cipriano seja degolado à espada". O bispo Cipriano respondeu: "Graças a Deus!"

Após a sentença, o grupo dos irmãos dizia: "Sejamos também nós degolados com ele". Por isto houve tumulto entre os irmãos e grande multidão o acompanhou. E assim Cipriano foi conduzido ao campo de Sexto. Ali tirou o manto e o capuz, dobrou os joelhos e prostrou-se em oração ao Senhor. Retirou depois a dalmática, entregando-a aos diáconos e ficou de alva de linho e aguardou o carrasco, a quem, quando chegou, mandou que os seus lhe dessem vinte e cinco moedas de ouro. Os irmãos estenderam diante de Cipriano pano de linho e toalha. O bem-aventurado quis vendar os olhos com as próprias mãos. Não conseguindo amarrar as pontas, o presbítero Juliano e o subdiácono Juliano o fizeram.

Desde modo morreu o bem-aventurado Cipriano. Seu corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi colocado ali perto, de onde, à noite, foi retirado e, com círios e tochas, hinos e em grande triunfo, levado ao cemitério de Macróbio Candiano, administrador, existente na via Mapaliense, junto das piscinas. Poucos dias depois, morreu o procônsul Galério Máximo.

Mártir santíssimo Cipriano foi morto, no dia décimo oitavo das calendas de outubro, sob Valeriano e Galieno imperadores, reinando, porém, nosso Senhor Jesus Cristo, a quem a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém.


https://www.vaticannews.va/pt/
https://www.ecclesia.com.br/

Recomeçar custa?... Ai se custa…




Recomeçar!... Recomeçar é um verbo que não gostamos muito de usar. Recomeçar parece implicar que falhamos e é necessário voltar ao início… Mas esta é a realidade humana quer queiramos ou quer não. Tantas, mas tantas vezes é-nos pedido para recomeçar. Tantas, mas tantas vezes, somos nós próprios que gostaríamos de voltar ao ponto de partida para ter um outro fim aquilo que iniciamos outrora…

Como professor, vejo-me a recomeçar uma outra vez. E custa… Aí se custa… Ao recomeçar parece que falhamos algures… No entanto, é a marca mais humana que podemos enunciar. Como humanos, como imperfeitos, como finitos temos que tantas e tantas vezes recomeçar…

Como professor, deparo-me com um novo início. Não é novo. Novos alunos a "juntarem-se" aos "velhos", quando assim é, é o normal. Mas para estes novos é necessário recomeçar.
 
Este ano a novidade está (sim, esta é a grande novidade), na situação pandémica que vivemos. Há um tempo antes do coronavírus e um tempo depois.

Se a sociedade ou as pessoas a partir de agora forem melhores, mais responsáveis e mais civilizadas, acredito que será graças à escola. É o campo de treino onde os fundamentos do conhecimento são ensinados; o lugar onde acontecem verdadeiras reuniões entre pares. Depois da tragédia inicial do coronavírus, teremos que pensar na gênese, no início de tudo. E por onde começar a construção de novo? Não será a escola depois da família?

Nietzsche afirmou que a escola tem a função de formar não apenas funcionários, mas também cidadãos. Os funcionários do Estado precisam de informação e de competências, mas para formar os cidadãos precisamos de conhecimentos, de uma visão, mas também de sentido do destino individual e coletivo das pessoas. Para isso, o ensino à distância que tivemos de março até junho, não é suficiente. Devemos retomar as aulas presenciais. As crianças e os jovens precisam voltar a estar juntos porque o ensino não é apenas um discurso vertical que passa do professor para o aluno, mas é também horizontal, mútuo e recíproco entre pares.

Como professor coloco o foco no ensino e nos alunos, porém, se pensarmos no nosso quotidiano perceberemos que a vida se vive no relacionamento com o outro:

«Na verdade, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles». Mt 18, 20.

A pandemia e o coronavírus é uma realidade, mas já antes estávamos nós e os nossos irmãos. Tal como na escola, temos enquanto sociedade, ter a coragem de saber vivermos uns com os outros; socorrermos uns aos outros e não ficarmos "trancados" nos nossos umbigos. Aí não está Deus.

Tenhamos a coragem de RECOMEÇAR a viver.

Paulo J. A. Victória

terça-feira, 15 de setembro de 2020

A importância da tristeza



A alegria é apenas uma parte da vida, por muito que alguns tentem convencer-nos de que a sua existência é apenas feita de bons momentos.

Ser humano é ser de carne e osso. A vida que queremos parece que passa o tempo a fugir-nos, e enquanto perseguimos o que sonhamos a cada dia há tropeços e quedas. Vamos absorvendo esses sofrimentos que fazem parte de qualquer caminho, até que, num inesperado momento, temos de os enfrentar no íntimo. Sussurramos e gritamos com a tristeza que nos abraça o coração.

O mundo de hoje pressiona-nos a estar sempre felizes, ou pelo menos a parece-lo Uma pressão forte e constante para que apenas consideremos o lado positivo de tudo. Ora, o mundo é muito mais do que as cores da alegria, há tempos e lugares onde a tragédia vive e cresce…

A minha felicidade tem de integrar os momentos em que, de forma inesperada, uma aflição vaga, sossegada e profunda chega, fazendo com que deixemos de encontrar gosto e diversão nas coisas comuns. E é nesses terrenos inexplorados que devemos procurar as belezas raras que não existem senão nos vales mais profundos da condição humana.

Há caminhos para o alto! Mas é preciso procurá-los e reconstruir as partes que se estragaram por falta de uso.

A tristeza eleva-nos, na medida em que nos desvia o olhar do inútil e nos faz ver o importante.

Hoje, as grandes conquistas são as de coisas, o sucesso material… Não se valoriza quem enfrentou os seus pesadelos e alcançou a paz. Como se isso não fosse o mais importante. Quanto valem todas as riquezas para quem se perdeu a si mesmo de modo a alcançá-las?

É possível que eu impeça o meu coração de sentir tristeza, mas isso tem um custo: estarei a desligar-me de todas as outras emoções, boas e más. Só pode ser feliz quem permite a si mesmo sentir todos os sentimentos.

Sem tristeza própria, não posso compreender nem ajudar na tristeza de quem quer que seja… E, sem amor, ninguém é feliz, nem sequer fica perto!

Ainda que a minha história seja um mar de infortúnios, acredito que há e haverá sempre algo que me ultrapassa e justifica a minha vida.

Uma alma triste não deixa de ser nobre, muito pelo contrário.

E quando é tempo de paz e alegria, ninguém voa mais alto do que aqueles que aceitam a vida tal como ela é: longa, larga, profunda e tão alta que chega ao céu.

Há uma certa doçura na tristeza que revela a nossa fragilidade autêntica, mostrando-nos, a nós mesmos e aos outros, como verdadeiros. Tristes, mas inteiros.

Que a tristeza não nos faça mentir e criar falsas aparências de sucesso e alegria. Que não nos feche em nós e assim nos impeça de amar e de ser amados.


José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Papa pede «sentido de responsabilidade» às famílias, no início do ano escolar

 Francisco destaca importância de «testemunho de fé e de solidariedade» face à pandemia



Cidade do Vaticano, 13 set 2020 (Ecclesia) – O Papa apelou ao “sentido de responsabilidade” das famílias, no início de um ano escolar marcado pela pandemia de Covid-19, numa mensagem divulgada hoje pelo Vaticano.

Francisco faz votos de que “o reinício do ano escolar seja vivido por todos com grande sentido de responsabilidade, na perspetiva de um renovado pacto educativo que tenha as famílias como protagonistas e que coloque no centro os jovens”.

“O seu crescimento saudável, bem formado e sociável é condição para um futuro sereno e próspero de toda a sociedade”, acrescenta a mensagem enviada aos participantes na 13ª Peregrinação Nacional das Famílias pela Família a Pompeia e Loreto (Itália), através do seu secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin.

O Papa evoca todos os que “sofrem de modo particular as dificuldades devidas à pandemia” e elogia os promotores da peregrinação, que “quiseram propor este testemunho de fé e de solidariedade, para que cada um pudesse obter da oração e da comunhão fraterna, esperança e força para seguir em frente”.

Francisco pede que “as famílias cristãs na Itália, na Europa e em todo o mundo continuem a formar aquele grande rio que difunde a vida, a fé, a esperança e o amor no povo de Deus e em toda a sociedade”.

OC

domingo, 13 de setembro de 2020

Papa: nem tudo se resolve com a justiça, é preciso perdoar para ser perdoado

 


https://www.youtube.com/watch?v=wDgC4CXSscM

"Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar (...). Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida!”.



Inspirado na passagem de São Mateus (Mt 18, 21-35), proposta pela liturgia do dia, o Papa dedicou sua reflexão no Angelus deste XXIV Domingo do Tempo Comum ao perdão, enfatizando que devemos "aplicar o amor misericordioso nas relações humanas."
Dirigindo-se a um número sempre maior de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco pediu que a intercessão da Mãe de Deus sempre nos recorde do quanto somos devedores de Deus: “se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”
Patrão indulgente e compassivo
O cerne da parábola do rei misericordioso contada por Jesus é a indulgência que o patrão demonstra para com o servo com a dívida maior.
A súplica "Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo" é encontrada duas vezes na parábola, começou explicando o Papa:

“A primeira vez é pronunciada pelo servo que deve a seu patrão dez mil talentos, uma soma enorme, hoje seriam milhões de euros. A segunda vez é repetida por outro servo do mesmo patrão. Ele também está em dívida, não com seu senhor, mas com o mesmo servo que tem uma dívida enorme. E a dívida dele é muito pequena, talvez como o salário de uma semana.”

O patrão – conforme descrito pelo evangelista – teve compaixão - nunca esquecer esta palavra. Jesus teve compaixão - , deixou o servo ir embora, perdoando sua dívida. Como a dívida era enorme, o perdão também o foi.



Mas o servo, por sua vez, após perdoado, mostra-se implacável com seu companheiro que lhe devia uma soma modesta, e manda-o para a prisão até que este quite a sua pequena dívida. O patrão fica indignado ao saber, chama o servo malvado e faz com que seja condenado: "Mas eu te perdoei tanto e és incapaz de perdoar este pouco?"
 

No comportamento divino, justiça é permeada pela misericórdia

Francisco explica que na Parábola encontramos duas atitudes diferentes: a de Deus - representado pelo rei, que perdoa tanto, porque Deus perdoa sempre - e a do homem:

“No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humano se limita à justiça. Jesus exorta-nos a abrirmo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça, sabemos disso.”

De fato, “há necessidade desse amor misericordioso”, que é também a base da resposta do Senhor à pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar um irmão que peca contra ele.

Aplicar o amor misericordioso nas relações humanas

O “setenta vezes sete”, na linguagem simbólica da Bíblia, “significa que somos chamados a perdoar sempre”:

“Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida! Mesmo em família. Quantas famílias desunidas, que não sabem se perdoar, quantos irmãos e irmãs que têm este rancor. É necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas: entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, nas nossas comunidades, na Igreja e também na sociedade e na política.”

                    Perdoar é uma luta contínua contra o rancor

O Papa recordou então da Missa celebrada pela manhã, quando ficou profundamente tocado por uma frase do Livro do Eclesiástico: "Lembra-te de teu fim, e deixa de odiar", exortando ao exercício contínuo do perdão:

“Bela frase! Mas pense no fim! Pense que estarás em um caixão e levarás o ódio para lá. Pense no final, deixe de odiar! Deixe do rancor. Pensemos nesta frase tão tocante: “Lembre-se do teu fim e deixa de odiar”. E não é fácil perdoar, porque nos momentos tranquilos alguém diz: “Sim, mas eles ou ele me aprontaram de tudo, mas também eu aprontei tantas. Melhor perdoar para ser perdoado”. Mas então o ressentimento volta, como uma mosca incômoda no verão que vai e vem e volta ... Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar.”

Assim - completou o Papa - esta parábola “ajuda-nos a compreender plenamente o sentido daquela frase que recitamos na oração do Pai-Nosso: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido»:

“Essas palavras contêm uma verdade decisiva. Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo. É uma condição: pense no fim, no perdão de Deus e deixe de odiar, mande embora o rancor, aquela mosca incômoda que volta e volta e volta. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”

Confiemo-nos à materna intercessão da Mãe de Deus: que ela nos ajude a perceber o quanto somos devedores a Deus e a recordá-lo sempre, para assim ter o coração aberto à misericórdia e à bondade.
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