Somos tentados a sentir que não há condições para o Natal. Não há espírito. Parece que nos falta o que já não volta. Que sentimos as ausências mais do que nunca. Que compreendemos, agora, o que perdemos.
Viramos a cara ao Natal e quase parece que lhe viramos o coração, também. Não nos inquietemos no meio da confusão que nos vamos provocando. O Natal não é uma data. Não é um dia nem dois. Não é uma árvore nem o brilho das luzes das ruas. O Natal é a luz que não passa. Que se acende no lugar mais frio do mundo, mesmo que esse lugar mais frio seja (exatamente) o nosso coração. O Natal não tem nada que ver connosco nem com as nossas vontadezinhas. O Natal foi um presente que nos foi dado e, todos os anos, todos os dias, somos convidados a renovar esse recebimento. E que bonito é perceber que houve um menino que se quis fazer Tudo para nós.
“Mas isso é só para os que acreditam”.
Não.
O Natal é, também, para os que não acreditam nele. Para os que nunca acreditaram. Para os que, um dia, vão acreditar e ainda nem sabem. O Natal é uma mantinha de retalhos das vidas de todos nós. Tal e qual como elas são. Bonitas e feias. Confusas e tristes. Esfusiantes e barulhentas. Mais amargas ou mais doces.
Mas claro que há Natais que doem muito. Que doem mais. Se este Natal for, para ti, um desses dias mais difíceis, lembra-te que não estás sozinho. Que amanhã será melhor. Ou no dia seguinte.
E depois, fecha os olhos, respira fundo e lembra-te que um dia houve um menino-Vida que quis nascer para que a tua fosse melhor. Para que pudesses ter água a correr no lugar do coração. Para que pudesses ser voo em vez de peito estacionado. Para que pudesses ser esperança e asa em vez de tormenta.
Olha para o Céu, assim que puderes. Se usares o telescópio da alma, já deves ver a primeira ponta de luz daquela Estrela que veio para mudar tudo.
Para melhor.
Marta Arrais
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