Em Moçambique, e noutros países do continente africano, as pessoas costumam despedir-se com a frase: “estamos juntos”. Estas palavras deixam-nos uma luz acesa no coração. É como se houvesse a certeza de estarmos acompanhados e de nos sabermos unidos uns aos outros.
Mesmo muitos anos depois de ter regressado, continuei (e continuo) a dizer esta mesma frase aos meus amigos e às pessoas que me são próximas. É como uma espécie de legado que pede a urgência de um não esquecimento.
Vivemos perdidos uns dos outros. Desconectados na era da comunicação e da inteligência artificial. Não nos conhecemos. Não sabemos as preocupações dos nossos e, muitas vezes, parece-nos que os problemas e as angústias só visitam as nossas casas.
Mas não. Estamos todos mais próximos do que julgamos e temos muito pouca consciência disso. Precisamos todos uns dos outros e temos, também, muito pouca consciência disso.
Talvez a proximidade, a empatia e a conexão se unam na maior lição de todos os tempos. É isto que precisamos de ter tempo para ensinar às crianças porque, a verdade, é que todas as outras coisas lhes são de mais fácil aprendizagem. Agora se não lhes soubermos ensinar a capacidade de ser empático e de, simplesmente, amar as dores dos outros, estaremos a falhar-lhes como adultos e como seres humanos.
Num universo onde temos cada vez mais “tudos” continuamos a ver tantas pessoas a não sentir nada. A não encontrar o seu propósito. A não saber por onde seguir. Somos as maiores bússolas uns dos outros e é nessa interação que podemos, verdadeiramente, ser encontrados e ajudar a seguir caminho.
Estamos juntos. Sempre e de formas cada vez mais inconscientes. Mas estamos. E quanto mais nos afastarmos, mais nos tornaremos pássaros a quem lhes faltarão sempre as asas.
Ainda vamos a tempo de agarrar a mão de quem passa por nós. De lhes agarrar a vida e de, sem querer, agarrar também a nossa.
Marta Arrais
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