Chorar é humano, é uma resposta natural e espontânea a emoções, embora não gostemos de ver chorar. É um mecanismo de descompressão. Uma ferramenta do cérebro que, desde que não seja sintoma de doenças, é saudável, traz grandes benefícios à saúde, diz quem estuda e sabe. Alivia e ajuda a superar a dor, funciona como analgésico. Acalenta, ameniza a dor física e emocional. Ajuda a recuperar o equilíbrio emocional, refresca a cabeça e lava os olhos. As lágrimas são o sangue da alma, dizia Santo Agostinho...
Jesus também chorou. Chorou por seu amigo Lázaro. Chorou sobre a cidade de Jerusalém. Com grande clamor e lágrimas, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte. Comoveu-se perante a situação da viúva que levava o seu filho único a sepultar, quando viu a multidão como ovelhas sem pastor, quando os necessitados e os mais fragilizados da sociedade vinham ao seu encontro.
O Papa Francisco, aos jovens do Sri Lanka e das Filipinas, dizia que ‘no mundo de hoje falta o pranto! Choram os marginalizados, choram aqueles que são postos de lado, choram os desprezados, mas aqueles de nós que levamos uma vida sem grandes necessidades não sabemos chorar. Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas”.
De facto, a felicidade alimenta-se muitas vezes do dom das lágrimas. Há lágrimas de alegria, de arrependimento, de dor, de compaixão, de consolação, de bem-aventurança, lágrimas daquele amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Cor 13,7).
Há quem chore pelo sofrimento causado pela morte de alguém. Sendo uma situação difícil, pode ser útil para que, os mais distraídos, possam começar a dar sentido à vida e ao valor sagrado de cada pessoa. Havendo, provavelmente, pessoas aflitas com necessidade de serem consoladas, essas pessoas podem precisar mesmo de sofrer a aflição. E para quê? Para que acordem, para que abandonem o seu coração de pedra e aprendam a chorar, comovendo-se com a dor dos outros.
Também há quem chore por ter pecado, por ter ofendido a Deus e ao próximo. Este choro não é o choro de quem se sente ferido no seu orgulho por ter errado, mas o choro de quem reconhece ter rompido a sua relação com Deus e com o próximo, e, arrependido, pede perdão, confiando na infinita misericórdia do Senhor. Pedro reconheceu e chorou amargamente o seu pecado, mas, confiando na misericórdia do Senhor Jesus, renovou a sua fidelidade a quem tinha ofendido e seguiu em frente, com esperança. Judas, por sua vez, não aceitou o seu erro, não confiou em quem o amava, não se conteve, desesperou, foi-se suicidar.
Nestes dias em que vamos celebrar São José, o pai adotivo e amantíssimo de Jesus e, a par, celebramos do Dia do Pai, queremos recordar todos os pais que choram amargurados. Aqueles que choram, pesarosos, ao reconhecer que não exerceram bem a sua missão de educadores de seus filhos nem foram verdadeiros fomentadores da cultura do amor na sua família e comunidade, mas, arrependidos desta sua atitude, seguem em frente, rezando e colaborando, como agora podem, em prol dum mundo melhor. Mas queremos recordar, sobretudo, os pais marginalizados, os pais que vivem sem alegria, sem saúde e sem paz. Recordamos os pais que não conseguem pão para os seus filhos, que vivem sem emprego, sem casa nem condições de habitabilidade. Os pais que veem os seus filhos a morrer por doença, em guerras sem sentido ou são vítimas do vício da droga ou dos sombrios caminhos da violência e do mau viver que abraçam e os destrói. Os pais que se sentem explorados e abandonados pelos seus filhos, em casa, em lares ou hospitais, como se fossem coisas sem valor para arrumar e esquecer. Que a todos, por quem de direito e dever, seja feita justiça, com amor e respeito. Por intermédio de São José, rogamos por todos os pais, sobretudo, pelos que sofrem e choram por não se sentirem respeitados nem amados.
ORAÇÃO A SÃO JOSÉ
“A vós, São José,
recorremos na nossa tribulação.
Cheios de confiança
solicitamos a vossa proteção
para todos os pais de família.
Vós fostes o pai adotivo de Jesus,
soubestes amá-lo, respeitá-lo e educá-lo
com amor e dedicação,
como vosso próprio filho.
Olhai todos os pais do mundo
e especialmente os da nossa comunidade,
para que, com amor e dedicação,
eduquem os seus filhos na fé cristã e para a vida.
Protegei todos os pais doentes
que sofrem por não poderem dar saúde,
educação e casa decente aos seus filhos.
Protegei todos os pais
que trabalham arduamente no dia a dia
para não faltar nada aos seus filhos.
Protegei todos os pais
que se dedicam de corpo e alma à sua família.
Iluminai todos os pais
que não querem assumir a sua paternidade.
Iluminai todos os pais
que desprezam os seus filhos e esposas.
Enfim, olhai por todos os pais,
para que assumam
e vivam com alegria a sua vocação paterna.
Ámen.”
......
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 15-03-2024.
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