Dizia-nos o pequeno (grande!) principezinho que o essencial é invisível aos olhos. Que é, precisamente, naquilo que não vemos que reside a raiz de tudo o que é importante nas nossas vidas.
Não querendo deixar de concordar com essa bonita verdade, porque o é, também não posso deixar de escrever sobre aquilo que, não sendo invisível, não deixa (ainda assim) de ser importante.
Aliás, na correria dos dias, passamos os olhos pelas coisas sem as ver. Passamos os olhos pelas pessoas, sem as ver. Passamos os olhos sobre os problemas dos outros, sem os querer ver verdadeiramente. Não menos vezes passamos os olhos nas nossas dores, sem as ver.
E todo esse “não ver” tem um preço altíssimo que acabará por ser pago à nossa própria custa.
Essa decisão, quase inconsciente, de não ver o que tem de ser visto reina como um lema. Se eu não vejo, não existe. Se eu escondo (ou me escondo) talvez deixe de ser importante ou de ter peso.
Sabemos, no entanto, que a verdade não é essa. Esconder acrescenta gelo ao iceberg e não ver torna-nos emocionalmente pouco inteligentes.
Andamos todos tão preocupados com a inteligência artificial, mas há uma coisa que os robots não podem fazer: sentir verdadeiramente. Colocar-se no lugar do outro e ousar tirar os próprios sapatos para calçar os que não são nossos.
O que precisamos atualmente é de mais inteligência emocional. Mais compaixão. Mais entrega a tudo o que somos e fazemos.
Estamos de passagem e esquecemo-nos disso imensas vezes. Não somos daqui e o que nos é pedido é para ver mais e melhor, com tudo o que isso implica.
Obviamente que esse “ver” está imbuído de uma imensa responsabilidade. Quem vê não pode ignorar, não pode jamais fingir que não viu. Torna-se testemunha mesmo sem querer.
Deixo este desafio para cada um de nós: o de querer ver o que nem sempre é visto e o de querer reparar em tudo o que, sendo importante, nos escapa tantas vezes ao coração.
Marta Arrais
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